Quinta-feira, 18 de março.

Primeira Leitura: Lula diz que oposição age como ex-marido.

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18 de março de 2004, 14h23

Surpresinha!

Depois de cerca de quatro horas de reunião e por seis votos a três, o Copom decidiu reduzir o juro em 0,25 ponto percentual. A nova taxa-Selic é de 16,25% ao ano. Nos dois primeiros meses do ano, o BC manteve o juro inalterado e, nas atas, alertou para o risco de o núcleo da meta inflacionária, de 5,5%, não ser atingido, já que existia, na sua avaliação, a ameaça de uma “aceleração permanente” de preços. Desde a véspera, alguns bancos já apostavam na redução no mercado futuro e antecipavam: o Banco Central poderia trazer uma “surpresinha”.

Superagenda

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva montou uma agenda de campanha em seu giro pelo Nordeste ontem, em mais uma tentativa de superar a crise política e demonstrar que o governo não está parado. A ênfase foi para os programas sociais.

Promessas…

Em Fortaleza, onde lançou o Cresce, Nordeste, Lula foi pródigo em promessas: disse que o programa criará 1 milhão de empregos e que, até meados de 2006, concluirá a transposição de águas do rio São Francisco, projeto que divide o Nordeste, custa caro e não está formatado ainda, mas o presidente prometeu: “Dinheiro para obras não faltará”.

Como ex-marido

Cercado de governadores, Lula fez críticas à oposição. Sem tocar no caso Waldomiro, disse que ela age como “ex-marido, que não quer que a mulher seja feliz em outro casamento”. E voltou a relacionar as críticas que sofre à sua origem humilde: “Deve ter muita gente que deve pensar assim: ‘Nós vamos deixar um torneiro mecânico dar certo, enquanto nós estudamos tanto?’”.

Medo

O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), disse que Lula é a “mais legítima expressão de uma política inovadora” e fez uma ligação entre a crise política e a origem social do presidente. “A elite tem medo dessa mobilidade social representada pelo Lula”, afirmou.

Lição tucana

“Governos não fazem oposição entre si, mas se dão as mãos.” A frase é do governador do Ceará, Lúcio Alcântara (PSDB), que pregou, em discurso, a “união” entre o governo federal e os estaduais.

Assim falou… Arthur Virgílio

“Se o ministro está amargo, eu compreendo, se ele está ferido eu respeito, mas ele erra politicamente quando diz que a oposição namora com o perigo e quando afirma que o PSDB não perde por esperar. Se ele conhece algo grave contra alguém do partido, tem o dever de denunciar, sob pena de prevaricação.”

Do líder do PSDB no Senado, ao reagir à declaração do ministro José Dirceu (Casa Civil), que, na terça, acusou a oposição de “namorar com o perigo, tentando desestabilizar o governo”.

Só retórica

O FMI desqualificou com uma única palavra a iniciativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de seu colega argentino, Néstor Kirchner, ao classificar de “retórica” a decisão de ambos de cobrar maior flexibilidade do Fundo. Segundo o porta-voz da instituição, Thomas Dawson, o FMI já deixou claro que as contas para o cumprimento do superávit primário devem fechar no final. Dawson disse ainda que argentinos e brasileiros devem reconhecer que seu nível de endividamento é muito elevado para que haja mudanças nos critérios vigentes.

E lembrou que ambos têm acordos em vigor e que qualquer alteração de meta deve ser debatida para uma eventual renovação. Anteontem, Brasil e Argentina lançaram documento em que defendem que o pagamento de suas dívidas não comprometa o crescimento econômico e que os investimentos em infra-estrutura não sejam contabilizados como gastos públicos. O texto, no entanto, mantém o compromisso de Brasil e Argentina com o superávit primário, definindo-o como a garantia de sustentabilidade da dívida externa de ambos os países.

A incongruência revela que tudo não passou de exercício de diplomacia de palanque com o intuito de atender aos interesses dos dois presidentes. No caso de Kirchner, permite-lhe que prossiga com o discurso contra o FMI e outros organismos internacionais. No de Lula, abre-lhe espaço para continuar com a meta de superávit em 4,25% do PIB.

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