Quarta-feira, 17 de março.

Primeira Leitura: governo está refém dos aliados e pressão continua.

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17 de março de 2004, 14h29

Paralisação

Um clima que lembra o do fim do governo José Sarney se abateu sobre Brasília. Diante da crise aberta pelo caso Waldomiro e dos crescentes questionamentos à política econômica, o governo está paralisado, refém dos aliados, enquanto as pressões continuam. Ontem, prefeitos e governadores acorreram à capital para pedir ao Planalto que libere verbas. No Congresso, as votações estão emperradas.

Marcha

A 7ª Marcha dos Prefeitos a Brasília exigiu participação maior dos municípios na repartição dos recursos da Cide (contribuição sobre os combustíveis) e a redefinição das atribuições de cada um dos entes federativos — os prefeitos reclamam de que hoje têm de oferecer mais serviços, embora contem com as mesmas fontes de arrecadação. De quebra, liderados pelos petistas Marcelo Déda (Aracaju) e Fernando Pimentel (Belo Horizonte), eles devem divulgar um documento pedindo mudanças na política econômica.

Governadores

Já os governadores, tendo à frente Aécio Neves (PSDB-MG), querem mudanças na medida provisória da Cide, que está na pauta da Câmara, de tal forma que o montante de recursos repassados aos Estados seja maior. Por conta disso, a oposição já anunciou a obstrução à matéria, que está bloqueando a pauta da Casa. No Senado, as votações também seguem paradas por causa do impasse provocado pela CPI dos Bingos.

De volta

Diante dos reveses em sua gestão, Lula parece ter encontrado razões para trazer de volta ao governo, depois de um mês e meio de demissão, o ex-ministro José Graziano, cujo Fome Zero foi um símbolo da inoperância administrativa do primeiro ano. Graziano será assessor pessoal de Lula. Agora vai!

Copom 1

Faz dois meses que o Banco Central interrompeu a trajetória de queda da taxa-Selic e alertou, nas duas atas, para o risco de o país não cumprir o centro da meta inflacionária, fixada em 5,5%. O BC está impondo à sociedade uma troca: menos crescimento por “zero vírgula alguma coisa” a menos de inflação. Primeira Leitura considera que essa proposta, endossada publicamente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é um equívoco.

Copom 2

A inflação que aí está não coloca em xeque a estabilidade, mesmo que, em vez de ficar no centro da meta, de 5,5%, bata nos 8% permitidos pela margem de flutuação. Além disso, o crescimento que está aí não é capaz de alterar o cenário do mercado de trabalho e da renda.

Copom 3

O BC tem a responsabilidade social e econômica de buscar, ao manejar a taxa de juros, a melhor relação custo-benefício. Há, sim, espaço e necessidade de redução da Selic. Para Primeira Leitura, o corte tem de ser de 1 ponto percentual, embora, obviamente, reconheçamos que dificilmente o Copom fará isso.

Assim falou… Jorge Bornhausen

“O governo esfarinhou. No ano passado, tínhamos um governo forte com gerenciamento fraco. Agora, o governo é fraco, e o gerenciamento continua ruim.”

Do presidente do PFL e senador por Santa Catarina.

Ambigüidades

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e o da Argentina, Néstor Kirchner, fecharam acordo ontem no qual definiram uma postura comum para os dois países nas negociações com o FMI e com outros organismos financeiros internacionais. Na Declaração sobre a Cooperação para o Crescimento Econômico com Eqüidade, os dois líderes defendem que o pagamento das dívidas dos respectivos países não comprometa o crescimento econômico e que os investimentos em infra-estrutura não sejam contabilizados como gastos públicos.

O documento, no entanto, deixa claro, segundo explicou o chanceler brasileiro, Celso Amorim, que o superávit primário é a garantia de sustentabilidade da dívida externa de ambos os países. Ou seja: ao mesmo tempo em que agrada aos argentinos por contemplar a retórica adotada por Kirchner contra o FMI e outros organismos financeiros, o documento serve aos interesses do governo Lula, que, ao assumir o poder, decidiu, unilateralmente, elevar a meta de superávit primário para 4,25% do PIB.

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