Quinta-feira, 4 de março.

Primeira Leitura: governo continua andando sobre o fio da navalha.

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4 de março de 2004, 16h27

A gaveta como marketing

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi buscar em fundos de gavetas projetos de investimentos em infra-estrutura que ficaram esquecidos meses. O objetivo é tentar apresentar ao país uma agenda positiva que tome o lugar de escândalos, como o do caso Waldomiro, na mídia.

De novo!

Nesta quarta, pela terceira vez na semana, Lula reuniu ministros e presidentes de bancos estatais, como Banco do Brasil (BB) e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Palácio do Planalto. Participaram do encontro os ministros Anderson Adauto (Transportes), José Dirceu (Casa Civil), Antonio Palocci (Fazenda), Guido Mantega (Planejamento) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento).

Só isso?

Depois do encontro, foi divulgada a liberação de R$ 17,7 milhões para reparos nas estradas afetadas pelas chuvas. A modéstia da quantia, porém, não abalou mais esse golpe de marketing do governo Lula. Isso porque também esteve na pauta da reunião a suposta intenção do governo de desengavetar projetos do BNDES que prevêem injeção de R$ 100 bilhões em infra-estrutura para ampliar a capacidade de exportação do país.

Tudo isso?

Por falta de dinheiro público e interesse de investidores privados, essa idéia ficou arquivada meses. Mas ainda que o governo R$ 100 bilhões para investir, esbarraria na regra do Fundo Monetário Internacional (FMI) de considerar como despesas os investimentos em infra-estrutura, o que inviabilizaria o cumprimento da meta de superávit primário de 4,25% do PIB. Outro item da agenda positiva de Lula é negociar com o FMI alteração nessa norma, mas o próprio Fundo já informou que isso leva tempo.

Imbróglio federal

O governo continua andando sobre o fio da navalha para tentar impedir a instalação de duas CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito) relacionadas com o caso Waldomiro Diniz. Ontem, o pedido de CPI sobre as irregularidades cometidas pelo ex-assessor de José Dirceu obteve a 24ª assinatura, apenas 3 a menos que o necessário para ser protocolada.

Garotinho na fita

O senador Sérgio Cabral (PMDB-RJ) seguiu a orientação do ex-governador Anthony Garotinho para que toda a bancada fluminense do partido apoiasse a CPI, para mostrar que ele não tem envolvimento com o ex-presidente da Loterj. Os 13 deputados do PMDB do Rio também devem assinar requerimento de CPI da Câmara – que tem ainda menos chances de ser aprovado que o do Senado.

Malta

O senador Magno Malta (PL-ES), autor de outro pedido de CPI, a dos bingos, se reuniu com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e disse que, apesar da pressão, ainda pretende apresentar seu pedido. Caso ele fique irredutível, senadores dos partidos governistas devem retirar suas assinaturas do documento. Sarney mandou um recado aos líderes aliados: caso o requerimento tenha os apoios necessários, ele não fará nada para impedir a CPI.

Assim falou… José Serra

“É óbvio que o PT está conduzindo a operação-abafa. Até a CPI dos bingos no Senado está sendo barrada pelo governo federal.”

Do presidente nacional do PSDB

Historinha nada edificante

Mais uma vez, ontem, a Força Sindical mobilizou funcionários de bingos que correm risco de acabar demitidos. Reuniu cerca de 20 mil em Brasília, em frente ao Congresso, para protestar contra o fechamento dos bingos. O presidente da Força, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, defende uma medida provisória que, em vez de proibir, regulamente a atividade e imponha controle rigoroso de todos os bingos, onde atualmente trabalham cerca de 320 mil brasileiros.

Esta coluna não é a favor da liberação do jogo no Brasil. Mas também não compactua com a forma como o caso está sendo conduzido, sem cuidado com os empregos desse setor, sem preocupação social. Cuidado, se há algum, só existe com o emprego do ministro José Dirceu (Casa Civil) e com a imagem da Central Única dos Trabalhadores (CUT), a central sindical aliada do petismo, que, nesse caso, nada fez em favor dos empregados.

Apesar de todas os protestos até hoje terem sido liderados pela Força Sindical, o presidente da CUT, Luiz Marinho, afirmou que até quarta-feira o governo vai responder às suas reivindicações nesse caso. A CUT dá como certo o desemprego dos funcionários do setor e apresentou uma lista de sugestões de como ampará-los — como seguro-desemprego especial e cursos de requalificação profissional.

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