Prata da casa

NYT publica repercussão da expulsão de correspondente americano

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13 de maio de 2004, 19h39

O The New York Times publicou nesta quinta-feira (13/5) reportagem que traz a repercussão entre autoridades brasileiras sobre a medida do governo de cancelar o visto do correspondente do jornal Larry Rohter. A decisão foi tomada por Lula depois de o jornal ter publicado uma reportagem sobre o hábito do presidente de abusar de bebidas alcoólicas em público.

Leia íntegra da reportagem

Líderes da Oposição, associações da imprensa e grupos jurídicos e judiciais no Brasil protestaram hoje a decisão do governo de expulsar o correspondente do New York Times pela crítica da matéria ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No entanto, Lula expressou que não reconsideraria a decisão tomada.

Falando em Brasília durante um café da manhã para as lideranças dos partidos políticos aliadas ao seu governo, o presidente Lula disse que se oporia a qualquer tipo de pleito desta ordem. “Este jornalista não ficará no país” disse Lula. “Ele será legalmente proibido de entrar no país”.

O artigo de Larry Rohter, responsável pelo escritório no Rio de Janeiro, foi publicado no domingo e relatou de forma publicamente expressa preocupações acerca dos hábitos de bebida de Lula. A matéria dizia, “Alguns de seus compatriotas têm começado a se perguntar se a predileção do Presidente por fortes bebidas tem afetado seu desempenho no ofício.”

O ministro da Justiça disse que o banimento do Sr. Rohter foi justificado em razão do artigo ter sido “superficial, mentiroso e ofensivo à honra do presidente. Luiz Inácio Lula da Silva disse que o artigo representou “uma agressão maliciosa dirigida à instituição da presidência”.

Respondendo às acusações de que ele estaria violando as proteções reconhecidas internacionalmente de liberdade de expressão, ele disse, “Em qualquer outro país, um chefe de Estado teria a mesma atitude contra ofensas que são tão prejudiciais e maliciosas.”

Roberto Busato, presidente Nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, protestou que o Sr. da Silva recorreu a uma lei repressiva anti-imprensa utilizada durante a ditadura militar do país, de 1964 a 1985. A linha de esquerda do governo Lula é composta de muitos ministros que lutaram contra o regime militar da Nação. O próprio presidente, naquele período um verdadeiro líder trabalhista, foi preso.

Em uma carta aberta para o governo, a Associação dos Correspondentes Estrangeiros de São Paulo disse, “Não podemos entender como um governo democrático que teve muito de seus líderes perseguidos e censurados pôde tomar uma decisão autoritária, especialmente quando a imprensa internacional foi a responsável por atrair atenção mundial às denúncias da ditadura durante anos do regime militar.”

A presidente da Seccional da OAB de Brasília, Estefânia Viveiros, disse que a decisão do governo foi absurda e lamentável. Mesmo que o jornal tenha errado, diz ela, “a resposta do Brasil foi longe demais”.

Fernando Henrique Cardoso, o presidente antecessor a Lula, disse hoje aos correspondentes internacionais, em reunião durante um café da manhã em São Paulo, que, ao mesmo tempo que achou superficial e frívola a matéria publicada no New York Times, ficou surpreso e desapontado em relação à reação. “Existem histórias frívolas publicadas diariamente,”disse. “A expulsão é um exagero; ela contraria os princípios democráticos”.

O coro de denúncias representou uma espécie de mudança da reação pública brasileira, a qual, na segunda-feira, tinha dado apoio à dura resposta ao artigo, mesmo conseguindo que os partidos de oposição se unissem em defesa do enfraquecido presidente. A decisão subseqüente de buscar a expulsão do Sr. Rohter provocou uma reação diferente.

A Força Sindical, o segundo maior sindicato do País, a qual urgiu ao Governo declarar o Sr. Rohter “persona non grata” emitiu uma declaração hoje condenando a posição do governo de mandá-lo embora. “A ação tomada pelo governo nos preocupa porque é uma reação típica de governos autoritários que não gostam de vozes da oposição”, disse o Presidente do Sindicato, Paulo Pereira da Silva. “O governo deve tomar cuidado para não esquecer os princípios que guiam uma democracia madura”.

O The New York Times disse que se oporia à mudança para expulsar o Sr. Rohter. “Com base em consultas com advogados de defesa brasileiros, acreditamos que não há fundamentos para revogar o visto do Sr. Rohter e tomaremos atitudes apropriadas para defender seus direitos”, disse Catherine Mathis, a porta-voz do jornal.

Bill Keller, o editor executivo, disse nesta terça-feira (12/5) que “o Brasil pretende expulsar um jornalista por ter escrito um artigo que ofendeu o presidente e que isso levantaria sérias questões concernentes ao comprometimento professado pelo Brasil com a liberdade de expressão e a livre imprensa”.

Em Washington, Richard A. Boucher, o porta-voz do Estado, disse que os Estados Unidos tiveram “boas relações” com Lula e sua administração, e, que o artigo “não representa a visão do governo dos Estados Unidos”. Ele acrescentou, no entanto, que a posição do Brasil de não renovar o visto do Sr. Rohter foi “de não manter um forte comprometimento com a liberdade de imprensa do Brasil”.

Jornais Brasileiros divulgaram que os diplomatas brasileiros trabalharam para mudar a opinião do presidente, mas o Ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, declarou apoio irrestrito à atitude de Lula. “Eu participei da decisão e a apoiarei”, disse Amorim para uma Comissão do Senado em Brasília. “Ninguém pode chamar isto de ataque à liberdade de imprensa.”

Paulo Sotero, o correspondente do Estado de São Paulo em Washington, manifestou repúdio à medida e disse que os jornalistas brasileiros estavam unidos em apoio ao Sr. Rohter. “Nós lutamos muito pela liberdade de imprensa neste país para permitir este tipo de disparate” disse em entrevista telefônica. “No Brasil, não somos tão obcecados como os americanos com as vidas sexuais e hábitos de bebida de nossos presidentes, mas nada naquele artigo justifica este tipo de atitude contra um jornalista”, disse ele.

Se o governo estava preocupado que o artigo de Larry Rohter provocasse um efeito negativo à imagem do País,” acrescentou, “isto tudo é muito mais desastroso.”

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