Fronteiras abertas

Repórteres sem Fronteiras protesta contra expulsão de repórter

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12 de maio de 2004, 20h02

A organização Repórteres sem Fronteiras divulgou nota de protesto contra a expulsão de Larry Rohter, correspondente do The New York Times no Rio de Janeiro. A organização solicitou que as autoridades “ajam com sensatez” anulando a medida.

“Estamos surpresos com esta decisão, que consideramos indigna de um regime democrático. Sobretudo, ela pode causar um prejuízo maior à sua imagem no exterior que o próprio conteúdo do artigo incriminado”, ressaltou Repórteres sem Fronteiras em uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“Os processos de difamação devem ser julgados diante dos tribunais. Este tipo de medida autoritária não resolve nada: com a expulsão de Larry Rohter, o Brasil não prova nada. Além disso, essa medida poderia coagir à autocensura os correspondentes da imprensa estrangeira, que sabem, doravante, que correm o risco de serem expulsos quando falarem do Presidente”, acrescentou a organização que também solicitou uma entrevista ao embaixador do Brasil na França.

No dia 11 de maio de 2004, o Ministério da Justiça anunciou a expulsão de Larry Rohter, correspondente no Brasil do cotidiano americano New York Times, em razão da publicação neste jornal, em 9 de maio, de um artigo intitulado “Ato de bebericar do líder brasileiro se torna preocupação nacional”.

Em nota oficial, o Ministério da Justiça qualificou de “inconveniente a presença em território nacional do autor do referido texto” e anunciou que o visto do jornalista havia sido cancelado. Larry Rohter dispõe de oito dias para deixar o país. A expulsão é justificada pelo caráter da reportagem, considerada “leviana, mentirosa e ofensiva à honra do Presidente da República”.

No artigo, Larry Rohter afirmava que o Presidente “nunca escondeu ter um fraco por uma boa cerveja, um whisky ou, melhor ainda, uma cachaça, bebida brasileira fortemente alcoolizada, à base de cana de açúcar. Mas alguns de seus compatriotas começam a questionar se a forte predileção do Presidente pelo álcool não estaria afetando o seu desempenho no cargo”.

No dia 11 de maio, o The New York Times publicou uma carta do embaixador brasileiro nos Estados Unidos, na qual ele exprimia sua “indignação”, considerando “surpreendente e lamentável que o jornal The New York Times tenha dado crédito a uma história tão ofensiva e totalmente infundada”.

No mesmo dia, o jornal manteve suas alegações. “Acreditamos que as informações contidas no artigo estejam corretas”, declarou um porta-voz do jornal à Agência France-Presse. Se o Brasil “está tentando expulsar um jornalista por ter escrito um artigo ofensivo em relação ao presidente, o compromisso do país em favor da liberdade de expressão e da liberdade de imprensa estaria seriamente abalado”, declarou Bill Keller, Diretor Executivo do The New York Times na edição eletrônica de 12 de maio deste jornal.

Manifesto no Rio

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro também protestou contra a decisão do governo brasileiro. “É lamentável que o artigo pouco sóbrio escrito pelo jornalista americano possa colocar o presidente Lula na triste companhia de governantes que maculam a liberdade de imprensa. O Brasil e os Estados Unidos têm leis suficientes para resolver assuntos como esses sem o recurso a métodos típicos de repúblicas sem convicção democrática”, disse o sindicato.

Segundo a instituição, a decisão macula a imagem de liderança que o presidente Lula vem construindo entre os países que lutam para vencer a miséria e a ignorância, produtos de uma história geralmente escrita por governantes arbitrários. “Em nome do bom senso e do zelo pela liberdade de imprensa, o sindicato faz um apelo para que o governo reveja a decisão, devolvendo ao episódio sua real dimensão: um caso de mau jornalismo.” (Com informações da Repórteres sem Fronteiras e do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro)

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