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Primeira Leitura: Dirceu chama notícia de jornal de ofensiva e grosseira.

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11 de maio de 2004, 14h27

Bola da vez

O mercado financeiro mundial foi novamente sacudido, ontem, pela certeza de que, por causa do terrorismo e do crescimento das economias chinesa e americana, acabaram os tempos de petróleo barato e de taxa de juros baixa nos Estados Unidos. As economias emergentes foram as que mais sofreram com essa mudança de ventos, especialmente a do Brasil, dada a vulnerabilidade da sua economia.

Os juros vão subir?

Assim, os ajustes nos indicadores seguiram em ritmo ainda mais forte do que na semana passada. No mercado futuro da BM&F, os contratos de juros com vencimento em janeiro tiveram alta de 7,37% e projetaram taxa de 17,03% ao ano, acima da atual taxa básica de juros definida pelo Banco Central, a Selic, que está em 16%.

O Brasil vai crescer?

A aposta do investidor no crescimento do Brasil também segue fortemente abalada. Uma das evidências é o comportamento da Bovespa, que, pelo terceiro dia consecutivo, registrou queda, desta vez de 5,46%.

O câmbio

Por fim, o dólar, também pelo terceiro dia útil consecutivo, teve alta. A moeda fechou cotada a R$ 3,14 (+2,54%). No mercado futuro, nos contratos com vencimento em junho próximo, o dólar teve alta de 3,07%. O cupom cambial, que é a taxa de juros paga pelo Tesouro em títulos com variação cambial, subiu 2 pontos percentuais: de 3,5%, na sexta, para 5,5%, nesta segunda.

A alta de agora, somada à elevação do dólar no mercado à vista e no futuro, deve ser vista como sintoma de que há, de novo, busca por hedge cambial.

Deu no New York Times – 1

O jornal americano The New York Times publicou no domingo um grande artigo que aponta supostos problemas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o consumo de bebidas alcoólicas. O artigo chega a ponto de informar que tornou-se “uma preocupação nacional” no Brasil os hábitos etílicos de Lula.

Deu no New York Times – 2

Segue um trecho da maliciosa reportagem do NYT: “Nos últimos meses, o governo de Da Silva tem sido assaltado por uma crise depois da outra, de escândalos de corrupção ao fracasso de programas sociais cruciais. O presidente tem ficado longe do alcance público nesses casos e tem deixado seus assessores encarregarem-se da maior parte do levantamento de peso. Essa atitude tem levantado especulação sobre se o seu aparente desengajamento e passividade podem de alguma forma estar relacionados a seu apetite por álcool.”

“Ignomínia”

O vice-presidente da República, José Alencar, classificou ontem de “ignomínia” a reportagem NYT. “Nós todos, brasileiros, temos que nos revoltar”, disse. O presidente PT, José Genoino, o texto do NYT “é uma mistura de mau jornalismo, com calúnia e difamação”.

Assim falou… José Dirceu

“Quase não acreditei que era verdade que um jornal com a responsabilidade do The New York Times publicasse uma matéria que é ofensiva ao Brasil e à instituição da Presidência da República. É uma matéria grosseira. Todo brasileiro deveria repudiá-la.”

Do ministro-chefe da Casa Civil, que estuda com o ministro Thomas Bastos (Justiça) a possibilidade de processar o jornal americano.

Lula, o álcool e o New York Times

Poucas coisas são tão aborrecidas e inúteis quanto esse bochicho sobre os hábitos etílicos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Digamos que fosse abstêmio. Mudaria alguma coisa? Não tem jeito: o texto do NYT é uma besteira, que só vai parar no jornal porque ao gosto do puritanismo americano e porque adequado ao atual estágio de deterioração da imagem pública do governo Lula.

Irresistível a tentação de lembrar: George W. Bush era um beberrão irresponsável, ao menos é o que se diz dele em seu próprio país. Para má sorte do mundo, parou de entornar e se ligou a uma versão pervertida do cristianismo, ajoelhando-se no altar da extrema direita religiosa. E faz o que faz. O álcool poderia ter livrado o mundo de Bush.

No porre seco, o homem mentiu para ao mundo para invadir o Iraque e agora mantém um facinoroso como secretário da Defesa. Fosse verdadeira a predileção de Lula pela Pirassunga 51, poderia, dia desses, acordar invocado e despachar algumas caixas para o seu colega americano. Quem sabe a caninha conferisse ao outro algum juízo… No mais, e voltando ao Brasil, fica a dúvida: o governo é mais perigoso quando está sóbrio ou quando, eventualmente, está de fogo?

* A coluna é produzida pelo site Primeira Leitura — www.primeiraleitura.com.br

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