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Governo investiga dois jornalistas espiões do Planalto

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15 de junho de 2004, 10h57

Seguro-denúncia

Às voltas com o que pode vir a ser um novo caso Waldomiro Diniz, o gabinete do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, deflagrou, neste fim de semana, uma espécie de operação de hedge, um seguro contra futuras denúncias envolvendo outro ex-assessor do ministro José Dirceu.

A notícia

A notícia vazada no fim de semana pelo gabinete da Casa Civil diz que o Planalto está investigando a existência de dois jornalistas espiões, que agiriam dentro do Planalto e poderiam estar a serviço de gente que quer prejudicar o governo federal e a reeleição da prefeita Marta Suplicy (PT-SP) e, conseqüentemente, ajudar o candidato José Serra (PSDB). A notícia está na edição de Veja desta semana e diz que os dois jornalistas, que hoje trabalham no Planalto, haviam assessorado, antes da campanha de 2002, o ex-ministro da Saúde e ex-candidato à Presidência José Serra.

Silêncio

Nem a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) nem a Casa Civil se manifestaram, no entanto, sobre as fitas com as mais de 20 horas de gravações que teriam flagrado as conversas de Marcelo Sereno, ex-assessor de Dirceu e homem que sabia da existência do esquema Waldomiro-loterias-bicheiros e companhia, com empreiteiros em um hotel de Brasília.

“Espiões”?

Os jornalistas saberiam das conversas de Sereno, e a Casa Civil teria resolvido denunciá-los como “espiões” para apresentar o ministro Dirceu como “alvo de [um esquema generalizado] de espionagem”. Os métodos lembram a Operação Vampiro, que flagrou uma penca de assessores do ministro Humberto Costa (Saúde) envolvida em um esquema de propinas e levou o governo a inventar a história de uma “máfia do sangue” que existiria desde os tempos dos “governo Collor”.

Guerra

Sereno deixou a Casa Civil no rastro do escândalo Waldomiro e assumiu a área de comunicação social do PT. A operação “caçada ao espião do Planalto” é, claramente, parte da guerra envolvendo os ministros Dirceu e Aldo Rebelo, da Coordenação Política.

Deterioração

A cotação do dólar fechou em alta de 0,92% ontem. O valor da moeda passou a R$ 3,170 na venda, o maior deste mês. Especulações acerca da decisão do banco central americano, o Fed, sobre os juros, que poderiam subir mais do que 0,25 ponto percentual neste mês (veja abaixo), embalaram as apostas. Pela mesma razão, a taxa de risco do Brasil subiu 5,7%, para 704 pontos básicos. A Bovespa registrou queda de 1,75%, a quarta consecutiva.

Juros

Ajudou a tumultuar o mercado a alta da inflação em São Paulo, e os contratos de juros negociados na BM&F tiveram alta generalizada. Os com vencimento de janeiro passaram a projetar taxa de 17,41% ao ano — era de 17,24% na sexta. Só hoje a alta dos combustíveis será computada pelo mercado.

Inflação

A inflação medida pela Fipe na cidade de São Paulo chegou a 0,77% na primeira quadrissemana de junho. O índice supera o 0,57% apurado no fim de maio e atinge o teto das estimativas feitas pelos analistas, que variavam de 0,6% a 0,77%.

Assim falou… Luiz Inácio Lula da Silva

“[O desenvolvimento dos países pobres] não ocorre de forma automática nem será resultado de geração espontânea de forças do mercado”

Do presidente da República, na abertura da Unctad, no que mais parecia uma crítica ao seu próprio governo, que tem um inegável viés mercadista.

Cai mais uma bandeira

A Petrobras anunciou reajuste de 10,8% para a gasolina, a partir de hoje, e de 10,6% para o óleo diesel. Os índices valem somente para a compra dos combustíveis nas refinarias. A expectativa da estatal é a que repasse ao consumidor será bem menor: de 4,5% no caso da gasolina e de 6,4% no do diesel. Trata-se do primeiro aumento de combustíveis do governo Lula.

O PT, em seu programa na televisão no mês passado, transformou a estabilidade dos preços dos combustíveis em bandeira política, e a Petrobras acabou postergando por pelo menos três meses a política de alinhamento com o que é cobrado no mercado internacional sob alegação de que os recordes nas cotações do barril de petróleo poderiam ser um fenômeno passageiro. A estatal decidiu não mexer nos preços do gás de cozinha, que atingem diretamente a população mais pobre.

O estrago sobre os índices de inflação, porém, está feito. E justamente na véspera do primeiro dia de reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que, dados os critérios com os quais opera, já não tinha motivos para reduzir a taxa básica de juros. O último aumento da gasolina ocorreu em dezembro de 2002, no fim do governo FHC.

* A coluna é produzida pelo site Primeira Leitura — www.primeiraleitura.com.br

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