Uma semana depois de ser retirado do ar por fazer críticas ao governo de Minas Gerais na tela da TV Bandeirantes, o apresentador Jorge Kajuru foi demitido do quadro de funcionários da emissora.
Conhecido pelas muitas polêmicas que cria e por responder a mais de cem processos na justiça, Kajuru, trabalhou na Band por 14 meses. Na nota em que explicou o episódio de seu afastamento evitou críticas diretas ao antigo patrão: “À Band deixo a minha compreensão de que mundo econômico é assim mesmo: um conflito permanente da liberdade de imprensa, neste Brasil mais chegado à liberdade de empresa e de autoridade”, explicou.
Kajuru apresentou pela última vez o Programa Esporte Total ao vivo de Belo Horizonte, na noite do dia 2 de junho, minutos antes do jogo Brasil e Argentina. No programa, não poupou críticas ao que considerou falta de organização e excesso de privilégios no evento.
“Gente, nunca vi tanto carro de autoridade chegando ao Mineirão. São quase 10 mil convidados do Brasil inteiro, naturalmente com ingresso garantido. E o povo? O povo só teve acesso a 42 mil ingressos, caríssimos”, disse. Suas criticas atingiram o governo de Minas Gerais. Sem mais explicações, Kajuru foi retirado do ar no primeiro intervalo depois das críticas e uma semana depois acabou demitido. Também sem maiores explicações por parte da emissora.
Leia a nota que Kajuru distribuiu após ser demitido:
“Aos meus amigos e amigas:
Pela permissão que você me concede de entrar na sua casa, tenho a obrigação de sempre lhe falar a verdade, nada mais que a verdade.
Para quem não assistiu à segunda edição do Esporte Total na última quarta-feira, dia 02, às 20h15min, aqui vão os motivos pelos quais estou mais uma vez fora do ar:
1º – A Band Minas escolheu o portão do Mineirão como cenário de minha apresentação ao vivo. Desde 19h30 eu assistia a uma revolta de centenas de torcedores que não puderam comprar ingressos e que não tinham 400 reais para comprar nas mãos de cambistas. Toda a imprensa tinha conhecimento que somente 42 mil ingressos foram destinados ao grande público. E que mais de 10 mil ingressos-convites estavam nas mãos do governador Aécio Neves e do presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Quando eu passei a ver de perto a revolta dos torcedores deficientes físicos que não podiam ter acesso ao portão que sempre foi para entrada exclusiva deles e que, naquele jogo Brasil e Argentina, estava destinado a artistas, políticos e seus acompanhantes, aí sim comecei a mostrar ao vivo o que estava acontecendo. Fiquei indignado.
2º – Primeiro entrei ao vivo no Jornal da Band com o Carlos Nascimento. Relatei os fatos, mostrei tudo! E devolvi para o Nascimento, que fez o seguinte comentário: “A gente gosta do Kajuru por isto. Porque ele fala o que ninguém fala e mostra o que ninguém mostra”.
3º – Às 20h30min, meia hora depois, comecei a apresentar ao vivo o Esporte Total do mesmo lugar. Ali não parava de chegar todo tipo de político e de artista sem ingresso, apenas com o envelope azul do convite do governo de Minas. E ali aumentava, cada vez mais, a revolta das pessoas. Cumpri meu dever jornalístico. Mostrei tudo e entrevistei alguns torcedores. Às 20h30min, quando me dirigia a um torcedor na cadeira de rodas, que apontava uma carteirinha e, aos gritos, dizia que era uma lei federal e que ele deveria ter prioridade para entrar, eu disse: “Mais um conflito que você vai ver logo depois do 1º intervalo do Esporte Total!!” Conclusão: até agora não voltei! Estou fora do ar esperando pela decisão da emissora!
Decisão: nesta quarta-feira, dia 09, a direção da Band me demitiu às 11 horas da manhã. O diretor de jornalismo, Fernando Mitre, fez a comunicação e disse que saio de portas abertas e que a empresa tem certeza que um dia ainda vou voltar.
De minha parte saio sem nenhuma mágoa e francamente agradecendo à Band por ter me dado tanta liberdade até o dia dos episódios: Casas Bahia e governador Aécio Neves. A estes dois deixo a mensagem de que continuo sendo jornalista.
À Band deixo a minha compreensão de que mundo econômico é assim mesmo: um conflito permanente da liberdade de imprensa, neste Brasil mais chegado à liberdade de empresa e de autoridade. Nesses 30 anos de carreira muitas coisas perdi em função da postura mas felizmente duas coisas eu não vou perder jamais: a minha dignidade e o meu direito pleno de indignar as coisas erradas. Essas duas coisas pertencem a mim, não estão em contrato e ninguém pode me tirar.
Agora, me dirijo a você, que me assistiu durante esses 14 meses na Band: Muito obrigado por tudo e principalmente por ter dado a mim a certeza de que vale a pena ser digno, continuar transparente e seguir numa relação de mão dupla com você de casa. É isso aí e orgulhosamente volto a ser pobre, feio, mas pelo menos magro. Até a próxima demissão.”