Verbete

Professores medalhões, em geral, advogam pessimamente.

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30 de julho de 2004, 17h16

*Texto do verbete “Medalhão”, extraído da Enciclopédia Jurídica Soibelman, cuja versão em CD-ROM pode ser adquirida no site www.elfez.com.br

Medalhão. Figurão. Homem que atingiu importantes posições e cujo nome por si só é capaz de abrir portas com mais facilidades que outros, profissional liberal cujo renome é maior que o mérito real de que dispõe.

O medalhão, até chegar a ser, em geral deu muito duro, estudou, trabalhou, fez: concursos, foi ambicioso, e depois de atingir grandes posições e grande reputação, deixou de estudar, deixou de se atualizar, e passou a confiar única e exclusivamente nas suas próprias opiniões. O foro está cheio deles, advogados, professores universitários e magistrados.

Os professores universitários, quando medalhões, em geral advogam pessimamente, pois pensam que impressionam a todos porque subscrevem uma petição mal feita, e não têm em geral a mínima idéia das tricas e futricas da vida forense. Podem impressionar muito ao cliente, mas muito pouco ao juiz ou ao adversário. Anda que nem um pavão, sorri benevolamente quando alguém tenta discutir com ele, assoalha que a causa X não devia estar nas mãos de fulano, mas “aqui nas mãos do professor”. Conheci um, grande professor de direito penal, que não conseguia mais de trinta anos de cadeia para o réu que defendia, porque a lei não permite mais, pois do contrário, ele conseguiria sem dúvida alguma, não fazia por menos.

Não nos devemos impressionar quando enfrentarmos um tipo desses, deixe para ele a oportunidade de pavonear-se nos autos ou fora deles, conteste pura e simplesmente o seu pretenso saber enciclopédico, cite tanto quanto ele, e nunca se fie na honestidade das citações que ele faz, porque em geral acham que os outros não conhecem nada e deturpam os autores, certos de que ninguém vai conferir. Utilize todos os recursos processuais, porque é em matéria de prática processual onde o medalhão se afunda.

Dê todas as oportunidades a ele de sustentar uma nova tese, que infalivelmente ele vai sacrificar o interesse de seu cliente ao brilho da tese que vai desenvolver. Se for autor de livro, ataque-o com o próprio livro, pois é comuníssimo esquecer o que escreveu, para sustentar a tese contrária. Dê oportunidade a todos eles de satisfazer a vaidade pessoal, e terá toda a chance de levá-los a lutar no terreno que lhes é contrário. Não tenha o mínimo receio de aceitar causa cujo adversário é patrocinado por medalhão.

O medalhão se considera um dono do assunto, o que é uma grande ilusão, porque, com esforço, interesse, estudo e paciência, qualquer pessoa medianamente preparada, consegue atingir o mesmo conhecimento da matéria. Um velho medalhão me disse uma vez: “O meu sucesso se deve a que dez por cento dos meus adversários eram estudiosos, noventa por cento não sabia nada e quase sempre o juiz estava com a maioria”. Pelo menos este era um medalhão consciente e inteligente, o que não acontece com todos.

O medalhão que tem mais presunção que inteligência, é de conduta imprevisível, nunca se pode prever como reagirá, nem sempre é possível trazê-lo para o nosso terreno de luta.

Este tipo é, em geral, partidário dos “grandes clássicos”, acha que quem vai resolver a parada são os livros, o juiz está no foro só para homologar o que os autores disseram.

Faz de seu nome argumento de defesa, pois acha que se aceitou a causa, é porque a verdade está com ele e ele está com o próprio Deus. Procure sempre investigar se o medalhão ainda mantém a biblioteca que o acompanhou até a fama, porque muitos a primeira coisa que fazem é vendê-la e logo após usar um fichário feito ao correr dos anos, quando muito atualizado por um estagiário bisonho.

Trate-o sempre com grande urbanidade, não ironize e não se atemorize. Investigue se ele realmente conhece os idiomas estrangeiros em que faz citações e se estas não estão truncadas. Golpe mortal no medalhão é provar que ele cita de segunda mão sem revelar a fonte.

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