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Lula lança campanha para brasileiro recuperar auto-estima

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20 de julho de 2004, 12h11

Samba do crioulo-doido

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou uma campanha em favor da auto-estima, feita “de graça” por uma agência que já trabalha para o governo. Jogou no lixo a histórica pregação estatista do PT e, com 20 anos de atraso, mimetizou Reagan e Thatcher e disse que Estado cria “problemas”. Neste samba-do-crioulo-doido do lulo-petismo, Raul Seixas e Paulo Coelho se casaram com Câmara Cascudo…

Tradução do samba

Calma, leitor, vamos explicar a formulação acima. Ao aderir à campanha publicitária lançada ontem pela Associação Brasileira de Anunciantes (ABA), que se propõe a recuperar a auto-estima dos brasileiros, o governo do presidente Lula reeditou no Brasil uma espécie de campanha do “Ame-o ou deixe-o”, que vigorou nos anos 70, durante o regime militar (1964-1985).

Desconexão

A campanha, intitulada “Eu sou brasileiro e não desisto nunca”, foi desenvolvida gratuitamente pela agência Lew, Lara, uma das três agências que venceram a concorrência para fazer a propaganda do Planalto — as outras duas foram a Duda Mendonça e a Matisse. No lançamento da campanha, em um hotel de São Paulo, o presidente fez um discurso algo desconexo, que misturou rudimentos de psicologia, sociologia em estado larvar e impressionismos que têm pouco ou nada a ver com os fatos.

O Estado do PT

Sob o pretexto de criticar aqueles que supervalorizam o papel do Estado na sociedade (a exemplo do PT, desde a sua criação até chegar ao poder, em 2003), Lula falou como um convertido a um misto de reaganismo e thatcherismo e disparou: “O Estado pode resolver uma parte dos problemas ou pode ser o indutor para resolver parte dos problemas. No Brasil, historicamente, o Estado criou muitos problemas”.

A crítica na crença dos poderes do Estado serviu para vender a idéia de que a “outra parte [dos problemas] é a sociedade que tem de resolver, sobretudo a família”.

Família

Para o presidente, os problemas, muitas vezes, nem têm origem econômica — seriam decorrentes de “um processo de desagregação da sociedade brasileira a partir da crise da família”. Na campanha, serão apresentadas pessoas consideradas exemplos de persistência e superação de adversidades, como o jogador Ronaldo, o músico Herbert Vianna, o ex-interno da Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor) Roberto Carlos Ramos, que hoje é pedagogo e cuida de 12 crianças, e Maria José Bezerra, que, depois de fugir de casa para evitar a violência paterna, hoje é mestra em história.

Maluco Beleza

A música-tema da campanha é Tente outra vez, de Raul Seixas, Paulo Coelho e Marcelo Motta, e a frase-tema é “O melhor do Brasil é o brasileiro”, do folclorista Luís da Câmara Cascudo (1898-1986). Lula espera que a campanha preencha um “vazio”, que levaria os jovens a não cultuar heróis, apenas ídolos esportivos. A falta de auto-estima, acredita o presidente, “vem ainda do tempo do Brasil Colônia”.

Quem foi

A solenidade foi acompanhada pela primeira-dama, Marisa Letícia, pelos ministros Ciro Gomes (Integração Nacional), Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento, Indústria e Comércio) e Luís Gushiken (Secretaria de Comunicação), além da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, e dos empresários Abílio Diniz (Pão de Açúcar), Antonio Maciel Neto (presidente da Ford do Brasil) e Márcio Cypriano, presidente da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos).

Quem não foi

O governador Geraldo Alckmin não foi. Talvez tenha intuído que o palanque foi montado para que brilhasse a candidata-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy. Leia mais no site do Primeira Leitura (www.primeiraleitura.com.br).

Assim falou… Luiz Inácio Lula da Silva

“Temos um processo de desagregação da sociedade brasileira a partir da crise da família.”

Do presidente da Republica, tentando minimizar a responsabilidade do Estado no trato da crise social.

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* A coluna é produzida pelo site Primeira Leitura – www.primeiraleitura.com.br

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