Dia da caça

Rocha Mattos promete apontar juízes, policiais e advogados nesta sexta

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30 de janeiro de 2004, 0h55

Acostumado, como juiz federal, a avaliar denúncias de procuradores, João Carlos da Rocha Mattos vai ter, nesta sexta-feira (30/1), suas acusações avaliadas pelo Ministério Público Federal. A seu pedido, o juiz federal acusado de ser o mentor de uma suposta quadrilha de venda de sentenças presta depoimento na sede da PF, na zona Oeste de São Paulo. Ele promete enfiar o dedo na ferida do caso Anaconda, dando nomes de advogados, juízes, membros do MP, policiais, que estariam cometendo crimes — mas ainda cobertos pelo manto da impunidade. Conhecimento, pelo menos, ele tem. A dúvida é saber se a promessa é sincera ou se é manobra.

A procuradora da República Janice Ascari, uma das investigadoras do caso Anaconda, concedeu a seguinte entrevista a propósito desse depoimento:

Como deve ser o depoimento?

O juiz João Carlos da Rocha Mattos vai ser ouvido pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal a pedido dele próprio. Foi ele que nos pediu para ser ouvido, ele diz que tem várias denúncias a fazer de irregularidades e de corrupção no Poder Judiciário, na Polícia, entre advogados, entre membros do Ministério Público. Diz ele ter muita coisa a nos contar. Então nós vamos até a Polícia Federal, vamos ouvir o que ele tem a nos dizer e depois tomar as providências cabíveis, aqui na Procuradoria Regional da República, se for de nossa atribuição, e o que não for da nossa atribuição, que seja de primeiro grau ou que seja perante os tribunais superiores, nós encaminharemos aos nossos colegas.

Não será isso uma técnica de defesa dele?

Pode ser uma técnica de defesa ou pode não ser, pode ser que ele tenha se cansado de ver algumas irregularidades que ainda não vieram à tona. Então, o fato de ele estar preso, de ele ser apontado pelo Ministério Público Federal como um dos mentores da quadrilha não retira do Ministério Público a obrigação e o dever de escutar o que ele tem a dizer, porque qualquer cidadão do povo que tenha ciência de alguma irregularidade e queira contar para o Ministério Público é nossa obrigação ouvir e tomar as providências necessárias.

A senhora acha que as operações Anaconda estaduais, ainda não deflagradas, terão o mesmo impacto?

Eu acredito que sim e principalmente porque no âmbito federal há mais pessoas a serem incluídas na Operação Anaconda, a serem denunciadas, e no âmbito estadual eu tenho certeza que a investigação do Ministério Público Estadual irá apurar e comprovar muitas suspeitas que nós temos. Isso irá desvendar uma série de fatos de que temos ciência, notícia, mas que até agora não foram comprovados.

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