Quinta-feira, 15 de janeiro.

Primeira Leitura: sambistas recepcionam americanos no Rio.

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15 de janeiro de 2004, 12h57

Dezembro MUITO ruim

A indústria paulista demitiu mais do que contratou em 2003, pelo terceiro ano consecutivo, segundo dados da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). O setor fechou 1.315 vagas no ano passado, o equivalente a uma queda de 0,08% no nível de emprego. O resultado negativo foi bastante influenciado pelo desempenho de dezembro, quando a indústria fechou 11.307 postos de trabalho (-0,74% em relação a novembro). Foi o pior dezembro desde 1998 para o mercado de trabalho.

Ritmo lento

Segundo o diretor da Fiesp, Claudio Vaz, neste ano, o nível de emprego industrial deve crescer, mas menos do que a economia como um todo: entre 1,5% e 3%, quando a projeção de variação do PIB geral é de 3,5%. Além disso, ele espera que a recuperação da ocupação aconteça só a partir de abril.

Qual crescimento?

Nessa toada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá grande dificuldade de cumprir sua principal promessa para este segundo ano de governo, que é o aumento do emprego. Em 2003, a recessão foi mais profunda do que se previa, e a superação das dificuldades se dá de forma desigual. Segmentos que dependem da renda da população demorarão muito mais para sair da crise. Além de desigual, o crescimento será também frágil e, por isso, mais dependente de um bom cenário externo para se concretizar.

Piloto detido

O piloto Dale Robbin Hersh, de 52 anos, comandante de um avião da American Airlines que aterrissou ontem no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (SP), vindo de Miami, reagiu à obrigatoriedade de ser fotografado e de tirar as digitais. Ele fez um gesto obsceno ao ser fotografado, erguendo o dedo médio. A reação provocou risos de outros 11 tripulantes do vôo. Todos foram detidos pela Polícia Federal. Hersh prestou depoimento à Justiça Federal, os demais ficaram no próprio aeroporto, à espera de um avião para levá-los de volta aos EUA. A American Airlines divulgou uma nota em que pede desculpas às autoridades brasileiras ( mais sobre o caso, na última nota).

Contraste

Enquanto o aeroporto de São Paulo registrava essa que foi a primeira reação hostil ao fichamento dos americanos que entram no Brasil, no Rio, dez sambistas da Mangueira recepcionaram os passageiros dos EUA que desembarcaram no aeroporto Tom Jobim. Em meio ao ritmo da bateria, o grupo gritava: “Welcome”. Os americanos também receberam rosas e camisetas com os dizeres “Rio loves you”, uma promoção da Prefeitura da capital fluminense.

Assim falou… George Bush

“A sede humana pelo conhecimento não pode ser satisfeita só por fotos […]. Nós precisamos examinar e tocar.”

Do presidente dos EUA, em discurso ontem, ao defender a necessidade de a Nasa (agência espacial americana) montar uma base de exploração na Lua.

Depois daquele dedo

O piloto americano Dale Robbin Hersh, está posto, não soube se comportar. E não há dúvida de que a Polícia Federal fez bem em prendê-lo e a toda a tripulação, que riu por motivos pouco engraçados. Brasileiros e outras minorias econômicas costumam ser detidos pelas autoridades de imigração dos EUA ainda que fiquem com os dedos em obsequioso recolhimento. Outros tantos, para que não dêem o trabalho de ser detidos à chegada, já são impedidos de deixar seus países de origem pelas próprias empresas aéreas. O episódio em questão poderia ser apenas um caso de falta de educação pessoal. Começa a se tornar um caso de má condução política. Hersh tem tudo para ser o idiota errado no lugar errado.

Açula, com seu dedo médio, sentimentos que Samuel Johnson dizia ser “o último refúgio dos canalhas”. Simbolicamente, aquele dedo inconveniente pertence ao presidente dos EUA, George W. Bush, e os ofendidos por seu gesto de intenções invasivas são todos os brasileiros. Não há patriotismo que não se exalte… Isso tudo aconteceu em São Paulo, no aeroporto de Cumbica, “túmulo do samba” e, quem sabe?, também do bom humor. No Rio, os “nativos” são escalados para receber os turistas ao som de batuque e passos de estudada manemolência. É incrível: ou somos subservientes até a nossos próprios e pobres clichês culturais ou advogamos a Lei de Talião.

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