Terça-feira, 17 de fevereiro.

Primeira Leitura: ACM diz que é contra CPI no caso Waldomiro.

Autor

17 de fevereiro de 2004, 17h37

Operação-Abafa

Brasília assistiu, nesta segunda-feira, a uma monumental Operação-Abafa para circunscrever a crise aberta com as denúncias envolvendo Waldomiro Diniz, o homem forte do ministro José Dirceu (Casa Civil), a um episódio isolado, descolado do petismo e ocorrido antes da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que isentaria o governo, de antemão.

Pelo telefone

Lula ligou pessoalmente para o governador de São Paulo, o tucano Geraldo Alckmin. O presidente afirmou ao governador a desvinculação de seu governo da bandalheira promovida pelo graduado assessor do Planalto e apadrinhado político de Dirceu. O ministro, por sua vez, negou-se a tratar pessoalmente do caso e o fez numa nota seca, curta, em que reafirma que o governo não tem nenhum comprometimento com o episódio e que tudo está sendo devidamente investigado.

Discurso único

De manhã, Lula reuniu o núcleo duro do petismo e lideranças do governo no Congresso para discutir a repercussão do episódio e unificar a linguagem da reação e do contra-ataque.

Com quem andas – 1

Dirceu foi saudado no Congresso por discursos de apoio dos presidentes da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), e do Senado, José Sarney (PMDB-AP). A defesa que o ex-presidente fez do ministro e os elogios que lhe dirigiu deixam claro que o governo Lula torna-se mais “PMDB-dependente” do que antes.

Com quem andas – 2

O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), passou o fim de semana elaborando a ‘lista de desejos’ de seus liderados para o governo. Vai desde uma diretoria na companhia elétrica de Goiás para o senador Maguito Vilela (GO) até cargos na Eletronorte para Garibaldi Alves (RN).

Oposição dividida

Setores do PSDB ligados ao governador Aécio Neves (MG) e ao senador Tasso Jereissati (CE) se opõem ao pedido de CPI. No PFL, a adesão é tímida. O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) disse que é contra a CPI.

Dissidente

Depois de subir a rampa do Congresso acompanhando o ministro José Dirceu, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que defende a criação da CPI, fez um apelo para que o ministro vá ao Senado e esclareça o episódio.

Pelo mundo

O caso Waldomiro Diniz ganhou destaque na imprensa internacional. Reportagem do The New York Times diz que o caso Waldomiro “ameaça engolir o governo de esquerda liderado pelo Partido dos Trabalhadores, que se apresentava como única força limpa no obscuro mundo da política brasileira”. Reportagem do jornal britânico Financial Times sustenta que o caso “causa danos à crença em Lula”.

Assim falaram…

Nota oficial

“Não foi apontada nenhuma irregularidade durante o atual governo. O atual governo agiu imediatamente exonerando o subchefe de Assuntos Parlamentares e mandando a autoridade competente instaurar inquérito policial”

Nota lida pelo ministro da Casa Civil, José Dirceu, no Congresso.

José Sarney

“[José Dirceu] dedicou grande parte de sua vida à construção da democracia”

Do presidente do Senado, durante discurso na abertura do ano legislativo.

João Paulo

“Não é razoável praticar o superávit que estamos praticando, pagar os juros que pagamos, e a relação dívida versus PIB ficar praticamente inalterada. É duro. Algo precisa ser feito”,

Do presidente da Câmara, durante discurso em que defendeu o ministro José Dirceu.

Garganta Profunda

Uma pergunta essencial a ser respondia é a seguinte: “Dirceu sabia ou não das atividades de Waldomiro Diniz?”. Ainda que paire desde sempre a suspeita de que gente como Waldomiro não opera em nome próprio — até porque, convenha-se, o que fazia ele, lotado no governo do Rio, arrecadando dinheiro para PT do DF? –, pouco pode ser feito sem a prova em contrário. Lembremo-nos do caso Collor.

Depois de uma primeira avalancha de denúncias, o caso começou a cair na modorra. Até o aparecimento do motorista Eriberto. Era ele quem respondia à questão essencial então: “Collor sabia das diatribes de seu chefe de campanha?”. Ficou claro que sim. E o resultado foi o que se viu.

Tags:

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!