Isenção sexual

Bush multiplica verba para pregar abstinência sexual nos EUA

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15 de fevereiro de 2004, 17h59

Na segunda-feira passada (9/2), os jornalistas Paulo Henrique Amorim e José Simão brincavam, no Monkey News: “Daqui a pouco o Bush vai isentar virgens e cristãos do imposto de renda”. Com o atual andar da carruagem, não é improvável que a piada se torne realidade.

A notícia vem do site norte-americano Findlaw. Em vez de investir em programas de educação sexual e campanhas para o uso da camisinha, como forma de evitar a gravidez precoce, doenças sexulamente transmissíveis e a Aids, o governo Bush está quase triplicando os investimentos em seu programa que prega a abstinência sexual, batizado de “abstinence-only”. Ainda que faltem evidências objetivas de que essa opção tenha efeitos práticos na saúde pública.

Um estudo feito por pesquisadores americanos do Centro Federal de Controle e Prevenção de Doenças sobre a queda das taxas de natalidade entre adolescentes dá conta de que os programas de prevenção devem enfatizar, além da abstinência, a contracepção.

“Ambos são importantes”, afirmou John Santelli, um dos autores do estudo que ainda não foi publicado.

Em Minnesota, outro estudo revelou que a atividade sexual dobrou entre os estudantes da “high school” (equivalente ao segundo grau do Brasil) que participavam do programa de abstinência. A pesquisa independente, realizada pelo Departamento de Estado de Saúde, recomendou a inclusão de mais informações sobre contracepção.

Pesquisadores independentes que estudam o programa de abstinência disseram em seu primeiro relatório, feito há dois anos, que não há evidências de que ele dê resultados. E espera-se para breve uma nova pesquisa no mesmo sentido.

Apesar disso, o presidente Bush afirmou há pouco tempo: “Nós vamos dobrar o financiamento federal para o ‘abstinence-only’, assim as escolas poderam ensinar esse fato da vida: a abstinência para os jovens é a única maneira de evitar doenças sexualmente transmissíveis”. Bush gastaria agora US$ 270 milhões comparados aos US$ 100 milhões anteriores.

Especialistas em educação sexual disseram que a mudança, junto com a verba adicional anunciada, são parte de uma apelação de Bush aos conservadores em ano de eleição.

Eles afirmam que a proposta da administração vai de encontro à pesquisa que credita à abstinência e à contracepção, combinadas, a redução de 30% na gravidez entre os adolescentes na década passada.

James Wagoner, presidente dos Advogados para a Juventude, um grupo que promove a instrução sobre o controle de natalidade e o uso de preservativos, disse que programas de abstinência somente servem para privar os adolescentes da informação sobre a eficácia do preservativo para impedir a propagação da Aids e de outras doenças sexualmente transmissíveis. “Eles se transformaram em programas anti-camisinha”, disse Wagoner.

Contudo, os defensores do programa de abstinência dizem que os jovens devem aprender a reprimir o sexo.

“As crianças na nossa sociedade estão saturadas de informação sobre contracepção e mensagens que incentivam o sexo ocasional, permissivo”, disse Robert Rector, que ajudou a escrever o “abstinence-only” da administração Bush. Ele desconsidera o estudo de Minnesota por considerá-lo não científico.

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