Pés de barro

Homem de confiança do governo foi flagrado cobrando propina

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13 de fevereiro de 2004, 10h53

O subchefe da Casa Civil para Assuntos Parlamentares, Waldomiro Diniz, foi exonerado nesta sexta-feira (13/2) por ter sido flagrado vendendo favores públicos do PT. Conversas publicadas na revista Época mostram o homem de confiança do Planalto acertando o recebimento de dinheiro do jogo do bicho para campanhas petistas e para ele próprio. A reportagem virou o assunto do dia em Brasília e em todo o país.

Diniz chegou ao governo a convite do ministro da Casa Civil, José Dirceu, de quem é antigo colaborador e vizinho de gabinete.

O senador Efraim Morais (PFL-PB) disse que quer saber se o chefe da Casa Civil, ministro José Dirceu, também vai ser exonerado, segundo informação da Agência Senado.

O presidente nacional da OAB, Roberto Busato, considerou o teor da publicação “bastante grave”. O senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT) leu trechos da reportagem no Senado. Ele defendeu a demissão de José Dirceu do cargo e a instalação de uma CPI para apurar o caso.

Numa manifestação surpreendente, o deputado José Genoíno deu entrevistas a respeito do assunto dizendo que o problema não é tão grave, já que Waldomiro não seria filiado ao PT.

Esta não é a primeira acusação que atinge o primeiro ministro do governo Lula, o chefe da Casa Civil, José Dirceu. Anteriormente, ele foi arrolado nas manobras do PT de Santo André para fazer caixa para o partido — uma etapa imprescindível para a vitória de Lula na campanha do ano passado.

Sobre o affair Waldomiro Diniz, ainda nesta sexta-feira, o ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, informou em entrevista coletiva que o governo já determinou a abertura de inquérito pela Polícia Federal para apurar os fatos que, na verdade, não seriam tão novos. Consta que a revista Istoé, mesmo sem ter a fita de vídeo que deu cores vivas à acusação atual, já teria feito a mesma acusação no ano passado.

Leia trechos da reportagem de Andrei Meireles e Gustavo Krieger, da revista Época

“Às 19 horas da quinta-feira 12, o subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência da República, Waldomiro Diniz, ficou com os olhos cheios d’água. Acabava de ser informado por ÉPOCA do conteúdo explosivo de uma fita de vídeo, gravada em 2002 pelo empresário e bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.

Na gravação, Waldomiro pede propina para si mesmo e dinheiro para a campanha eleitoral. Em troca, promete beneficiar Cachoeira em uma concorrência pública. Na ocasião, Waldomiro Diniz presidia a Loterj, Loteria do Estado do Rio de Janeiro, no governo da petista Benedita da Silva. Waldomiro tentou negar as imagens, mas acabou confessando: levou dinheiro do jogo do bicho para a campanha eleitoral do PT. Entregou pessoalmente R$ 100 mil ao comitê do candidato ao governo de Brasília, Geraldo Magela. ‘Ele entregou na minha mão e foi entregue à campanha do Magela’, admitiu Waldomiro, referindo-se a Cachoeira.

Na política do Rio, Waldomiro cercou as favoritas das pesquisas de opinião. Negociou contribuições mensais de R$ 150 mil para Benedita da Silva (PT) e Rosinha Matheus, hoje no PMDB. Para si, ele pediu ao bicheiro 1% do valor dos contratos acertados. A ÉPOCA, disse que fez o pedido para ajudar um assessor.

Até a noite da quinta-feira, Waldomiro Diniz ocupava um gabinete no 4º andar do Palácio do Planalto. Desde a reforma ministerial de janeiro reportava-se ao ministro da Articulação Política, Aldo Rebelo. Chegou ao governo a convite do ministro da Casa Civil, José Dirceu, de quem é antigo colaborador e vizinho de gabinete. Ambos despacham um piso acima do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

CUIDADOS Em vários momentos, Waldomiro anota nomes e siglas em uma folha de papel. Com isso, evita referências em voz alta.

Feito às escondidas, o encontro entre Waldomiro e Cachoeira ocorreu numa das empresas que o bicheiro tem no Rio. Não havia mais ninguém na sala, a câmera de vídeo foi escondida num canto da parede e mesmo assim Waldomiro comportou-se como se mais alguém pudesse ouvi-los.

Nos trechos mais comprometedores, o assessor do Planalto fala em voz baixa e chega a sussurrar no ouvido de Cachoeira. Quando discutem cifras e contribuições de campanha, escrevem os nomes dos beneficiados numa folha de papel, para não pronunciá-los em voz alta.

Antes de ir embora, Waldomiro rasga a folha e guarda os pedaços no bolso. Para clarear esses trechos, ÉPOCA submeteu a fita à análise do perito em fonética Ricardo Molina de Figueiredo, da Unicamp. Ele autenticou os trechos publicados nesta edição…”

Com informações da revista Época e da Agência Senado

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