Operação Anaconda

Ministro teve audiência com lobista de acusados na Anaconda, diz PF.

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6 de fevereiro de 2004, 14h07

A investigação mais pesada da Operação Anaconda — que se estenderá a seis Estados a partir de março — deve ser em Brasília e no Rio de Janeiro. É o que afirmam membros do Ministério Público Federal e da Polícia Federal. A intenção é descobrir qual ministro se encontrou três vezes com um intermediário da organização criminosa — acusada de vender sentenças — para debater abertura e fechamento de bingos.

O lobby seria comandado pelo agente federal César Herman, braço direito do juiz federal João Carlos da Rocha Mattos. Os detalhes desse lobby constam do relatório final da Operação Anaconda, de 376 páginas, e são descritos nas páginas 320, 321 e 322.

O relatório final, de 17 de dezembro de 2003, está assinado pelos delegados Élzio Vicente da Silva e Emmanuel Henrique Balduíno de Oliveira. Ambos os delegados são considerados “novatos” nos quadros da PF. O delegado Élzio tomou posse em 21 de outubro de 2002. O delegado Emmanuel foi empossado em 11 de janeiro de 1999.

No relatório dos delegados, há conversas entre César Herman e uma pessoa apenas identificada como Carlinhos. É Carlinhos quem fala os detalhes mais significativos sobre o acesso que o grupo teve a um ministro de Estado. Veja o que Carlinhos diz a Herman:

“Deixa eu falar, a semana passada teve uma reunião na Brabin, a gente até queria fazer uma oposição, montar uma chapa. E falo nós não, falo o Danilo aqui, que trabalha aqui no Granbingo, entendeu, botar ele na cabeça pra gente ganhar a Brabin e mudar todo esse negócio, porque a gente já conseguiu muita coisa já em Brasília, tudo o que a gente colava não conseguiu que é o presidente em quatro anos, pagando um deputado lá, errado, entendeu, coisa que deveria ser feita direto com o Ministério. Nós já conseguimos via Ministério, já tivemos audiência com o Ministro e tudo mais dos esportes, entendeu? É claro, mas estamos conseguindo, já tivemos três audiências lá com o Ministro, e o Ministro não tem nada sobre números, entendeu, e ele está precisando de números, porque cortaram a verba dele e um monte de coisa, então que queria lhe falar uma coisa, então a gente era para sair com uma chapa…então nosso passo, logo, logo, é realizar o que tem de ser realizado e puxar o tapete do presidente, entendeu?”

Nesse diálogo, Carlinhos sugere que César Herman identifique e breque um delegado “caxias” que cumpre liminares e fecha bingos. Para Carlinhos, o agente poderia reverter esse quadro com suas amizades na Polícia Federal e, com o estancamento da operação “fecha bingo”, o grupo poderia faturar bastante dinheiro. Eis o que Carlinhos explica na página 322 do relatório final:

“Mas o motivo de eu estar te ligando é o seguinte, tem muito bingo fechado no interior, sabe, tem um cara aí da Polícia Federal, um delegado, que está peitando todo mundo, ele olha as liminares, sabe, bate de frente, ele chega nos Bingos e fala: eu tenho duas notícias para você , uma boa e uma ruim, qual é a boa? Que eu vou fechar o bingo. A segunda é que se você fechar eu não te levo preso… então é fazer um acerto e pegar todos esses bingos que estão fechados, fazer um negócio junto e você tentar falar com o cara e abrir os bingos e ver o que a gente está conseguindo aqui e fazer uma reunião com todos esses caras do bingo, tentar abrir esses bingos e ganhar uma nota, é claro que todos esses caras juntos, e fazer um pacote, entendeu, então eu queria te passar esses bingos que estão fechando atualmente, hoje, para você levantar quem fechou, qual foi o problema, quem é o cara, e qual foi a situação, e fazer um pacote todo mundo junto, e arrumar uma notinha pra gente aí.”

Em nenhum momento, o relatório sugere qual seria o ministro de Estado que teria feito as audiências citadas por Carlinhos.

A Operação Anaconda começa, no próximo mês, a se espalhar por seis Estados: Rio de Janeiro, Pará, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Brasília e Rio Grande do Norte. Os desdobramentos que já são conhecidos no Ministério Público Federal como “Anacondinhas”.

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