Quinta-feira, 5 de fevereiro.

Primeira Leitura: fitas de Santo André são intrigas, diz Genoino.

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5 de fevereiro de 2004, 12h11

O dragão recua

A inflação no município de São Paulo em janeiro ficou em 0,65% segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). Trata-se do maior índice desde setembro do ano passado, mas, ainda assim, foi comemorado. Explica-se: em relação à terceira quadrissemana de janeiro, quando chegou a 0,74%, a inflação perdeu fôlego. As recentes altas nos preços de alimentos e de roupas não se sustentaram. E a Fipe calcula que, no fechamento de fevereiro, o IPC já terá recuado para 0,40%.

Doce manhã

Todos esses números estiveram, na manhã de ontem, nas mesas de investidores e operadores de mercado, que acharam por bem voltar a apostar na redução da taxa básica de juros pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.

A retomada do processo de queda da Selic ocorreria não imediatamente, mas a partir de março. Com isso, o mercado imitou o comportamento do ministro Antônio Palocci (Fazenda) no dia anterior: suavemente, rasgou a última ata do Copom, que foi marcada pelo alarmismo em relação à inflação.

Otimismo renovado

O resultado foi uma correção para baixo das projeções da taxa de juros no mercado futuro. Nos contratos com vencimento em outubro, passou a ser de 15,76% ao ano (-0,69% em relação ao fechamento de terça-feira).

Um erro…

Tudo ia bem quando, à tarde, o Banco Central resolveu repetir o erro de operação da semana passada e intervir no mercado de câmbio. E o dólar, que tinha queda forte, acabou fechando cotado a R$ 2,920, estável em relação à terça-feira.

…e tudo se perdeu

O dólar acabou sendo a alavanca para uma nova piora do cenário. A Bovespa, que vinha em alta, virou e fechou em queda de 2,84%. O risco do Brasil, que, de manhã caía, no fim da tarde já estava em 521 pontos (alta de 2,76%).

Que ata?

O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Bernard Appy, fez ontem a defesa do rumo adotado pelo governo na política econômica. Appy disse que a Fazenda acredita que a inflação mantém a sua trajetória de queda e descartou a possibilidade de um movimento generalizado de remarcação preventiva de preços. Parecia dizer: ata do Copom? Que ata?

De imexível a flexível

O ministro do Planejamento, Guido Mantega, disse ontem que o Orçamento deste ano precisa de ajustes e pôs em dúvida a previsão de investimento dos ministérios, de R$ 12 bilhões. A previsão original de investimento era de R$ 7,8 bilhões. O valor foi aumentado pelo Congresso, durante a tramitação da peça orçamentária. Mantega gostava de dizer que o Orçamento, desta vez, não sofreria cortes porque era realista.

Não, obrigado

Mantega não quis comentar a reportagem publicada pela Folha de S.Paulo segundo a qual o ministro Antonio Palocci (Fazenda) defende bloquear R$ 4 bilhões dos R$ 12 bilhões em investimentos previstos. Disse apenas que a receita ainda está sendo analisada. Em reunião com deputados, o secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, não descartou a possibilidade de contingenciamento, mas afirmou que qualquer decisão nesse sentido seria por “excesso de zelo”, relatou o deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR).

Assim falou… Henrique Meirelles

“Isso é uma bobagem. Continuo trabalhando normalmente”

Do presidente do Banco Central, por meio de sua assessoria de imprensa, desmentindo boatos sobre sua demissão.

História clandestina

O presidente do PT, José Genoino, se opôs ao pedido do Ministério Público para que a polícia investigue a origem de um CD que contém 42 fitas de escutas telefônicas de pessoas ligadas a Celso Daniel, o prefeito petista de Santo André assassinado em janeiro de 2002. As gravações incluem conversas de membros da alta cúpula do governo e do PT. “Isso tudo envolve escutas clandestinas, e eu nunca fui chegado a coisas clandestinas”, afirmou o presidente do PT, que já militou em grupos políticos clandestinos no passado, como de restos toda a resistência ao período da ditadura militar.

Ele, que dizia ter convicção de que o caso estava encerrado, afirmou ontem que está desistindo de entendê-lo. Genoino disse ainda que as fitas são “uma mistura de fantasia, politização e intriga política” e comparou as investigações “àquela fumaça de gelo de shows de rock”.

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