Quarta-feira, 4 de fevereiro.

Primeira Leitura: Palocci consegue tranqüilizar mercado financeiro.

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4 de fevereiro de 2004, 14h34

Operação lexotan

Depois de vasta especulação sobre sua suposta perda de poder e espaço no governo, o ministro Antonio Palocci (Fazenda) voltou à cena ontem e provou como estavam erradas essas análises. Para começar, ele mostrou seu poder em relação ao mercado financeiro, que se preparava para mais um dia de estresse e descansou as armas depois das duas entrevistas concedidas pelo ministro, a primeira delas, antes da abertura dos negócios.

Nada muda

Ele falou sobre quase tudo, e foi particularmente firme em duas mensagens: a política econômica não vai mudar, tampouco a equipe que escolheu para colocá-la em prática. Sobre a política econômica, Palocci afirmou que divergências em governos são eventos normais e não contrariam o processo de “equilíbrio econômico”.

Sobre equilíbrios

Palocci lembrou ainda da necessidade de outro equilíbrio, o da “vontade com a possibilidade” quando se referiu à retomada da atividade, mas ressaltou que não iria “brigar com esse sentimento que é pró-Brasil”, referindo-se às pessoas, dentro e fora do governo, que clamam por mais crescimento.

“Contra-senso”

Foi incisivo, contudo, quanto à fórmula para haver esse crescimento. “Seria um contra-senso, depois de fazer com que os indicadores tenham todos melhorado e aberto a possibilidade de crescimento para o país, o governo falar em mudar a política econômica.” Para ele, 2004 será o ano do crescimento, e não há por que não apostar no Brasil.

Versão personalizada

Palocci interpretou ainda a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) como um documento que reforça a expectativa de redução dos juros, e não o contrário. O mercado entendeu diferente. Na verdade — e quem leu sabe disso — a ata obedeceu a um conceito algo modular: uma diversidade de frases relativas que podem ser montadas ao gosto do freguês, formando diversos desenhos.

Feitiçarias

Com tudo isso, e mais reiteradas promessas de manutenção da responsabilidade fiscal e de não ampliação da carga tributária, Palocci conseguiu tranqüilizar o mercado financeiro. Mais uma prova do equívoco daqueles que acreditaram, em primeiro lugar, que ortodoxia econômica era a marca de uma fase de transição, e não uma opção permanente do Planalto. E, em segundo lugar, que o governo Lula, ainda que quisesse (não é o caso), poderia mudar de rumo por meio de simples feitiçaria política.

Assim falou… Antônio Palocci

“Os guardiões do Tesouro não são as pessoas mais bem-amadas…”

Do ministro da Fazenda, ao descartar as demissões do secretário de Política Econômica, Marcos Lisboa, e do secretário do Tesouro, Joaquim Levy, que chegaram a ser aventadas em Brasília por conta de rumores de eles seriam mal-vistos no Planalto.

Assim falou… Luiz Inácio Lula da Silva

“Wellington, você veio fugir da chuva ou está com medo de se afogar?”

Do presidente da República, ao se dirigir ao governador do Piauí, Wellington Dias (PT). A platéia ficou constrangida. O governador, afinal, foi a Brasília pedir ajuda para as milhares de vítimas das enchentes em 51 municípios em estado de calamidade ou emergência no Estado.

Escolha seu ministro

O ministro do Planejamento, Guido Mantega, afirmou ontem que o Brasil precisa de um investimento acima de 21% do PIB para crescer entre 4% e 5% nos próximos anos. Segundo disse, o país investiu 17,7% do PIB em 2003, incluindo os setores público e privado. De acordo com o ministro, a adoção das Parcerias Público-Privadas (PPPs) poderia levar o investimento para esse patamar. “Para 2004 já teremos que ter investimento maior que 17,7% do PIB. O ideal é chegar a 21%, 22%, mas isso em 2005 e 2006”, afirmou. “Com esse tipo de projeto [a PPP] estaremos em condições de fazer essa atração”, disse.

Já o ministro Antonio Palocci (Fazenda) afirmou que o governo não vai usar as PPPs para criar “mágicas” para o crescimento da economia e alertou para o fato de que os projetos de parceria não podem ser vistos como a solução para todos os problemas de investimento do país. “A PPP não é panacéia. Não vamos achar que está tudo resolvido no campo do investimento”, afirmou. É interessante notar a diferença de expectativas dos dois ministros.

O governo Lula, aliás, é pródigo em oferecer opções variadas ao distinto eleitor. Sobre agricultura, pode-se escolher entre as visões, opostas, de Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário) e Roberto Rodrigues (Agricultura). Sobre transgênicos, entre as visões igualmente divergentes do mesmo Rodrigues e de Marina Silva (Meio-Ambiente). E assim ocorre em quase todas as áreas.

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