Mortes anunciadas

É impossível aceitar o silêncio diante dos índices de violência

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22 de dezembro de 2004, 17h36

A banalização da violência está nos colocando na defensiva. A crueldade dos crimes e o silêncio da sociedade nos levam à constatação de que cada um de nós fica rezando para que não aconteça com nossos familiares o que ocorre com os nossos vizinhos.

A tranqüilidade que proporcionava a Brasília a melhor qualidade de vida do país está empanada pela ineficácia da reação que poderíamos ter para conter a onda de homicídios que coloca Brasília entre as cidades mais violentas do Brasil. Apesar da eficiência da Polícia Civil para descobrir os criminosos, imediatamente após o delito, a ação não tem servido para amedrontar os que cometem desatinos com a certeza da impunidade.

Diariamente dezenas de criminosos são presos, julgados e condenados sem que seja contida a sanha dos desalmados que, sob efeito de drogas, ditas leves, praticam barbaridades por pequenos valores, inveja, ciúme ou simples desejo em submeter suas vítimas à humilhação.

O esforço da polícia é encoberto pelo medo da população em exigir das autoridades medidas rigorosas na prevenção à violência e à criminalidade. A mídia mostra a fisionomia sorridente de jovens que ficam felizes por terem sido condenados a penas mínimas e com direito à liberdade

condicional.

Que futuro poderá ter um jovem que se envolveu em assassinatos, estupros e outros crimes tipificados como hediondos? Qual o destino de um menino ou menina que estarão marcados para sempre pelo carimbo de condenado? O que será da família desse mesmo jovem que terá, também para sempre, que mantê-lo distanciado da sociedade?

Uma pena reduzida pode aliviar o sofrimento dos pais e do apenado, mas não deixará de ser cumprida nas penitenciárias lotadas e junto a criminosos profissionais que os encaminharão para o submundo. A tarefa de recuperação e inserção social é árdua e, nem mesmo as entidades religiosas, que prometem a vida depois da morte, têm conseguido convencer a multidão que vive na miséria das prisões.

A morte de jovens, como a de Maria Cláudia, brutalizada por pessoas a quem confiava o preparo do alimento e a segurança pessoal, é mais um duro aviso de como o perigo está sempre ao nosso lado. Não é possível que silenciemos mais uma vez ou que nos revoltemos por alguns dias até que nova desgraça surja na imprensa.

A mídia, juntamente com a morte de Maria Cláudia, anunciou mais dezessete mortes no final de semana, no Distrito Federal. Esses mortos são jovens ou não que sofreram nas mãos de seus algozes e sumiram da vida passando a fazer parte dos números das estatísticas que crescem nos dias, meses e anos que não param.

Não se ouviu um único gesto de indignação de alguma autoridade constituída que pudesse, com o seu grito, fazer calar no meio da criminalidade a força do estado. A acomodação e a proteção que reveste o cargo público, favorece a inércia e o silêncio da população e a audácia dos facínoras que se multiplicam a cada esquina da capital federal.

Os que podem dar o exemplo com o simbolismo da função de autoridade ficam assustados com a reação popular e se escondem como se não fossem responsáveis pela segurança e a tranqüilidade dos brasilienses. Deveriam, isso sim, comparecer a cada velório e pedir desculpas pela incapacidade de agir preventivamente no combate ao crime.

Todos sabemos que a violência não irá acabar e sempre existirá um assassino à espreita para cometer crimes, mas não podemos aceitar o silêncio e a omissão com relação aos sempre crescentes índices de criminalidade e violência.

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