Controle remoto

CFJ será prostíbulo do qual maus políticos serão fregueses

Autor

  • Laércio José Loureiro dos Santos

    é mestre em Direito pela PUC-SP procurador municipal e autor do livro Inovações da Nova Lei de Licitações (2ª ed. Dialética 2023 — no prelo) e coautor da obra coletiva A Contratação Direta de Profissionais da Advocacia (coord.: Marcelo Figueiredo Ed. Juspodivm 2023).

22 de agosto de 2004, 14h17

Muitas coisas merecem regulamentação e controle no Brasil. O país é uma bagunça, o Poder Público não funciona, o Judiciário está emperrado e as crianças estão se prostituindo. Mas por que começar pelo jornalismo?

Por que não começar pelo câncer que suga todas as energias de nossa produção, os conglomerados bancários e seus juros estratosféricos?

Por que não começar pelas empreiteiras, corriqueiramente envolvidas em denúncias de nauseantes casos de corrupção? Conselho Nacional de Controle de Empreiteiras, até soa bem.

Um Conselho de controle dos bancos composto por pessoas que nunca foram funcionários dos bancos, então, seria um pedaço dos jardins do Éden.

Já perceberam como os patrocinadores são respeitados? Bancos e empreiteiras são conhecidos colaboradores das campanhas políticas e, certamente, o fazem por amor ao próximo já que o político que assume o cargo — seja de que partido for — sempre está preocupado com as questões sociais!

Por que então o jornalismo, o Poder Judiciário, o Ministério Público e a produção de audiovisual?

Porque todos estes podem atingir o político de plantão. Porque todas estas figuras e instituições fiscalizam o paquiderme da ineficiência Poder Público.

Dá para imaginar um político sem controle pela mídia? Seriam quantos Waldomiros e PCs jamais conhecidos do público? Quantos contratos superfaturados jamais seriam conhecidos?

É verdade que existem inúmeros erros dos jornalistas. Costumam até falar do caso “Escola Base”.

Acredito, sinceramente, que nunca leram uma única página dos autos do processo nem trocaram uma única palavra com algum ex-proprietário.

A asneira da comparação só pode conduzir a tal conclusão.

Lembrando rapidamente do caso.

Duas mães acusam proprietários de uma escola infantil de praticarem orgia com crianças. Era uma semana santa e não haviam notícias a serem publicadas pelos jornais.

Um laudo preliminar e superficial indica que uma das crianças de fato tinha uma lesão anal que poderia ter origem sexual.

Com base num laudo preliminar e superficial, os ex-proprietários foram expostos em cadeia nacional e internacional como “estupradores de criancinhas” por cerca de 15 dias.

Um laudo mais detalhado e mais preciso confirmou a lesão mas indicou uma lista de prováveis causas. Dentre elas uma infecção intestinal crônica.

A infecção foi confirmada pela mãe! Porém, 15 dias na mídia foram suficientes para transformá-los em monstros da pior espécie.

Este caso legitimaria a criação de um Conselho de patrulhamento nos moldes do projeto de lei?

Não. Não legitimaria. O que seria do repórter sem liberdade de pensamento e expressão, senão um papagaio repetidor de “informações” previamente elaboradas. Não existe meia liberdade. Ou há liberdade ou há cerceamento a ela. A alma da atividade jornalística é a plena liberdade. Qualquer restrição é tentativa dissimulada de golpe ou algum arremedo autoritário.

O próximo passo será impor um único veículo de informação, nos moldes Stalinistas. Afinal, se as informações são sempre as mesmas, por que gastos com tantos veículos?

O controle que existe e deve ser feito é o controle pelo judiciário que, aliás, é o poder de controle por natureza. Altas indenizações para erros jornalísticos é o único caminho democrático para o controle da imprensa.

É público e notório como funciona a maioria dos conselhos, sindicatos e associações. É comum ouvir de médicos que conselheiros não sabem clinicar, é comum ouvir que sindicalistas não trabalham na área de longa data e mesmo que empresários de órgãos representativos não são mais empresários de verdade, mas meros “políticos da categoria”.

Também é conhecido de todos a promiscuidade que muitos “representantes” tem com partidos políticos e a transformação das respectivas entidades em meros aparelhos a serviço do partido de sua preferência.

O aparelhamento de inúmeras associações, sindicatos, conselhos e federações é bem ao gosto dos políticos, já que possibilita “negociar” com tais entidades.

O que alguns políticos eufemisticamente chamam de “negociar” o mundo honesto e civilizado chama de corromper-se ou prostituir-se.

Mas parte significativa de nossa classe política passa a vida criticando e faz tudo o que sempre criticou desde o dia da posse de seu cobiçado cargo. Ou seja, são prostitutas de valores e não defensores de uma forma de pensar.

Criar um Conselho de Jornalismo significa fazer nascer, mais uma instituição sujeita à promiscuidade de nossa política e desta forma sujeita à “negociação” com órgãos de imprensa e jornalistas, principalmente os mais críticos.

Criar o Conselho de Jornalismo significa cristalizar a confusão moral que fazem alguns políticos entre o preço e o valor. Aqueles que não sabem diferenciar mudam suas atitudes no dia da posse, pois nunca tiveram, de verdade, aqueles valores que defenderam. Proferiram tais valores apenas como preço para galgar o cargo. Da mesma forma que no cabaré a meretriz mente para convencer seu rico cliente, assim o mau político faz para o eleitor.

Políticos desse naipe são prostitutas que trocam qualquer coisa pelo poder. Políticos deste tipo vão querer cassar ou “arrumar problemas” àqueles que não queiram “negociar”.

Isto é o Conselho de Jornalismo verdadeiro prostíbulo onde os fregueses serão nossos piores políticos e a população a vítima deste estupro à democracia.

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