Tiroteio cerrado

Luís Costa Pinto responde a artigo de Paulo Moreira Leite

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21 de agosto de 2004, 19h51

O jornalista Paulo Moreira Leite mente, delira e revela uma fragilidade abjeta de caráter em seu artigo “Estelionatários de factóides”, publicado na última edição de Veja.

A mentira: eu não pedi emprego a ele na equipe de Época, revista que lhe coube dirigir depois de ter sido alijado da equipe de Veja. Certa tarde, quando eu era editor executivo do Correio Braziliense, Moreira Leite telefonou-me e convidou-me para voltar a integrar a equipe de Época. Disse-lhe que isso era até possível, que tinha vontade de fazer essa migração porque gostaria de voltar à reportagem. Ele perguntou o meu salário. Revelou-se espantado: “Pô, estão te pagando demais!”, respondeu. A conversa terminou ali e eu concluí que Época não tinha condições salariais, naquele momento, para me levar de volta à sua redação. Depois, Moreira Leite foi alijado da direção de redação de Época.

O delírio: fica patente que Moreira Leite crê em uma teoria conspiratória sobre o relato da confissão do erro jornalístico que ajudei a perpetrar em 1993 e que entreguei em junho desse ano ao ex-deputado Ibsen Pinheiro. O atual diretor de redação do Diário de São Paulo, que ao menos até o ano de 2003, quando era diretor de Época, ia a Brasília confraternizar com seus amigos da facção petista Libelu (Liberdade e Luta) em jantares que nada tinham a ver com apuração de reportagens – eram, sim, convescotes marcados para saudar a chegada da “turma” ao poder –, crê agora que eu integrei uma conspiração do governo para ajudar a criar o Conselho Federal de Jornalismo com a admissão de um erro meu que, sequer, foi um erro solitário. Sou contra o CFJ e havia deixado isso claramente expresso em dois artigos publicados no Correio Braziliense e no Jornal do Brasil antes da eclosão do episódio Ibsen Pinheiro.

A fragilidade abjeta de caráter: Moreira Leite tomou para si, como uma acusação, toda a culpa pelo erro de Veja que admiti para mim. Ele mandou, sim, que eu corresse em busca de uma frase de Benito Gama para sustentar aquela fatídica capa de Veja, “Até tu, Ibsen?”, de há 11 anos. A frase está lá, no texto, incluída às pressas. Mais que uma fragilidade de Veja, revista que foi para mim uma escola de virtudes do jornalismo, o episódio revela um método de comando de Moreira Leite.

O diretor de redação do Diário de São Paulo é um burocrata de redação que sempre temeu enveredar, ele próprio, pelos caminhos da reportagem. Adora dar lições de jornalismo sentado nas suas cadeiras de espaldar alto dos chefetes e crê saber usar os últimos laivos intelectualóides de sua formação trotskista para constranger os repórteres sob seu jugo a procurar frases de fontes que lhe confirmem as teses de sua mente torturada.

Tenho pena de Moreira Leite. Sua pobre biografia profissional está pontuada por vítimas – sejam elas jornalistas que subjugou e que seguem em silêncio, sejam elas personagens e fontes de reportagens que ajudou a publicar com apurações tortuosas como aquelas do caso Ibsen Pinheiro. Moreira Leite, hoje, dirige um veículo de comunicação e está dedicado a usá-lo covardemente contra mim, que só disponho da minha consciência e do meu e-mail. Essa covardia está patente no uso que ele faz, no jornal que dirige, para me atacar e para assacar contra os clientes de minha empresa.

Gostaria de debater os seus e os meus métodos jornalísticos e os aparatos éticos de cada um diretamente, sem que ele esteja a se esconder em seu cargo tão imponente de um órgão importante. Estou à disposição de Moreira Leite para marcar o dia, a hora e o local desse debate. Ele sabe me encontrar, pois no dia 10 de agosto mandou que um de seus repórteres no Diário de São Paulo me procurasse para saber o que eu achava do CFJ. Estava sendo entrevistado, por ordem dele, porque era então considerado um jornalista de destaque. Dei a entrevista e manifestei a minha opinião contra o Conselho. Sigo com os mesmos números telefônicos nos quais ele pode me achar.

Link para a reportagem de Veja e para o artigo de Paulo Moreira Leite (para assinantes e adquirentes da revista em banca).

Acompanhe o destampatório, agora na versão de Istoé.

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