Cegos pela luz

Polícia Federal deflagra operação em sete estados brasileiros

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17 de agosto de 2004, 5h53

A Polícia Federal deflagrou às 5 horas da manhã, desta terça-feira (17/8), a Operação Faroleiro — conhecida também como Operação Polvo ou Farol da Colina. São mais de 750 homens distribuídos em sete estados brasileiros, a maioria em São Paulo e Rio de Janeiro. Só em São Paulo, foram alocados num hotel no centro da cidade cerca de 230 agentes federais oriundos de Brasília. Até às 11 horas, 90 doleiros foram presos nos estados. Entre eles, o doleiro Antônio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona. Todos os presos serão ouvidos pelo Ministério Público Federal e pela PF.

A Operação Faroleiro leva este nome em referência à conta-ônibus Beacon Hill, cuja tradução literal é “colina do farol”. A Beacon Hill é apontada como uma das maiores lavadoras de dinheiro no esquema do Banestado de Foz do Iguaçu, agência acusada de ter lavado em 4 anos, junto com o Banestado de Nova York, cerca de US$ 30 bilhões.

A conta-ônibus é uma espécie de conta maior por meio da qual são operadas inúmeras outras subcontas. As subcontas são utilizadas, em grande parte, por doleiros brasileiros para a administração e o repasse de remessas ilegais provenientes do Brasil.

A Operação Faroleiro visa buscar computadores e documentos dos investigados por lavagem de dinheiro sujo. A conta Beacon Hill Service Corporation foi descoberta pelo promotor distrital (district attorney) de Manhattan, Robert Morgenthal. Seria intermediária na abertura de outras contas em paraísos fiscais e em esquemas de lavagem de dinheiro. Segundo o MP americano, entre 2001 e 2002 a Beacon Hill teria movimentado remessas num total de US$ 3,2 bilhões — em apenas 40 subcontas que tiveram quebra de sigilo pelas autoridades americanas.

A Beacon Hill foi a responsável pela abertura da subconta camuflada “Tucano” (número 310.035), no banco J.P. Morgan Chase, que recebia transferências ilegais de dinheiro. Segundo a CPI mista do Banestado saiam remessas, em nome da Beacon Hill, para contas de políticos brasileiros, como Ricardo Sérgio Oliveira — ex-caixa da campanha do PSDB, e João Bosco Costa — ex-diretor do Previ.

A conta também teria agenciado 18 remessas para contas em paraísos fiscais feitas pelo presidente da Ponte Preta de Campinas, Sérgio Carnielli, que somam US$ 615 mil. Na conta Tucano, segundo a CPI, a Beacon Hill teria movimentado cerca de US$ 28 milhões, entre 1996 e 1998.

O senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), presidente da CPI Mista do Banestado, afirmou que já foram feitas diligências em São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte e São José do Rio Preto (SP), no Brasil. “De Washington e Nova York, nos Estados Unidos, trouxemos imenso volume de documentos sobre empresas off shore, entre elas a conta Beacon Hill, considerada a holding dos doleiros sul-americanos, em cujas subcontas circularam cerca de 10 bilhões de dólares retirados ilegalmente do Brasil. Na documentação da Beacon Hill descobrimos a off shore Pai Capital Corp., de cujo suntuoso escritório em São Paulo foram remetidos para as Ilhas Virgens britânicas mais de 200 milhões de dólares”.

Balanço

Nesta terça, ainda devem ser cumpridos 91 mandados de prisão em São Paulo. Depois de São Paulo, onde foram presas 20 pessoas, o recorde de prisões, até às 13h desta terça, foi o Pará: oito mandados de prisão foram executados. Entre os presos paraenses, estão Fernando Yamada, empresário e dono de casa de câmbio, Marcos Marcelino, que revende automóveis, e a família Haber, do ramo de casas de câmbio (Gustavo, Michel Meg e Elza Haber).

Em Recife, foram presos Edmundo Gurgel, de 41 anos, e Arthur Tillman Maia Neto, sócios da empresa Norte Câmbio. No Rio, desde às 14h, uma equipe de oito agentes agentes iniciou investigações no 19º andar da Torre do Rio Sul, em Botafogo, em uma empresa do ramo de informática.

A operação acontece nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Amazonas e Pará. Segundo o Ministério Público Federal, há 18 procuradores da República atuando na operação. A força-tarefa CC5 do MPF e da Polícia Federal conta com o apoio de procuradores da República em cada estado e do procurador-geral da República, Claudio Fonteles.

Histórico

Procuradores que investigam o escândalo do Banestado receberam um CD de autoridades dos Estados Unidos com mais de 1 milhão de movimentações financeiras da Beacon Hill, conta-ônibus que geria outras contas no exterior alimentadas por brasileiros. Os investigadores brasileiros também tiveram acesso a 300 caixas com documentos da Promotoria de Nova York. Rastreando os US$ 3,2 bi que a Beacon Hill movimentou entre 2001 e 2002, os procuradores esperam chegar aos beneficiários.

Outras 30 subcontas estavam em nome da Beacon Hill. Só a “Flamingo” somou créditos de US$ 6,3 milhões em 1996.

Muita gente fez uso da Beacon Hill. O doleiro Antônio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, movimentou US$ 500 milhões entre 1996 e 2002, segundo a CPI do Banestado, que investiga crimes de evasão de divisas e decidiu requisitar toda a documentação da Operação Anaconda.

Para os integrantes da CPI, o doleiro pode ter sido um dos caminhos para a remessa de dinheiro ao exterior pela suposta quadrilha investigada pela operação, que segundo a Polícia Federal, negociava decisões judiciais. As operações do doleiro foram feitas por meio da conta-ônibus, no banco Chase Manhattan em Nova York, o principal foco das investigações sobre lavagem de dinheiro da CPI.

O nome de Barcelona, inclusive com cópia de seu passaporte, está relacionado à documentação usada para abrir três subcontas na Beacon Hill. Na apuração da CPI mista do Banestado, surgiu o poder da Beacon Hill: movimentou US$ 10 bilhões até ser fechada, em fevereiro. A CPI do Banestado pediu a quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico do doleiro, que já está sendo investigado pelo Ministério Público Federal em São Paulo.

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