Primeira Leitura

'É insustentável posição dos presidentes do Banco Central e do BB'

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6 de agosto de 2004, 11h32

Meirelles na mira

Uma nova denúncia contra o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, abalou os meios políticos e os mercados ontem. A CPI do Banestado descobriu uma conta de Meirelles nos Estados Unidos, não declarada à Receita, e uma transferência de US$ 50.677, feita no dia 18 de outubro de 2002, logo depois que se elegeu deputado federal, para uma conta titulada por doleiros nos Estados Unidos.

O caso

O documento em posse da CPI mostraria que o dinheiro migrou da conta do presidente do BC para outra conta, de número 030102375, que pertence a offshore Biscay Trading Ltd. Ocorre que a CPI tem em mãos um relatório segundo o qual Biscay Trading é de um grupo de doleiros de São Paulo que está sob investigação por lavagem de dinheiro. Ou seja, a suspeita é a de que o dinheiro tenha sido remetido para o Brasil de forma ilegal.

A omissão

Na declaração do Imposto de Renda que Meirelles entregou à Receita Federal, em abril do ano passado, havia cinco contas declaradas, uma só no exterior, no FleetBoston Bank — nenhuma menção a esta que a CPI descobriu, que seria no Goldman Sachs.

A divulgação

As informações foram primeiramente publicadas na edição online da revista Veja. A revista IstoÉ também teve acesso ao material da CPI. Depois da notícia, os ativos do mercado financeiro tiveram piora substancial. A Bolsa de São Paulo registrou o maior tombo desde maio, com queda de 3,82%. O dólar teve alta de 0,52%. Nesta sexta, operadores esperam nova rodada de pessimismo.

A defesa

A assessoria de imprensa do Banco Central divulgou nota sobre o caso. O texto afirma que todos os rendimentos de Meirelles nos EUA têm origem conhecida e foram tributados naquele país. E que todos os rendimentos recebidos depois do retorno definitivo do presidente do BC ao Brasil foram tributados pelo Fisco brasileiro, de acordo com a legislação. Afirma ainda que, nos EUA, é comum a realização de pagamentos por meio do envio de recursos para uma conta bancária indicada pelo recebedor, no caso, de uma empresa que Meirelles não conheceria. Por fim, assegura que a referida conta foi ativada em 23 de agosto de 2002 e desativada em 3 de dezembro daquele ano, o que o desobrigaria de declará-la, conforme a lei.

Quem é Antero – 1

A figura que vem tirando o sono da República do PT, por presidir a CPI do Banestado, parece um detetive saído de um filme B: com o cabelo sempre desalinhado, ternos um tamanho acima do ideal, tênis nos pés em vez de sapatos sociais, olheiras enormes e uma briga infindável com a balança. O mato-grossense Antero Paes de Barros (PSDB-MT), 51 anos, exerce o primeiro mandato como senador e esteve ligado a todos os casos ruidosos do governo Lula.

Quem é Antero – 2

Como presidente da CPI do Banestado, opera um esquema de vazamentos controlados de informações – embora negue estar por trás das denúncias contra as autoridades monetárias – que municia a imprensa e preocupa o Planalto. Foi, ainda, o responsável pela divulgação do vídeo em que Waldomiro Diniz aparecia cobrando propina do bicheiro Carlos Cachoeira. Ironia maior: Antero já foi filiado ao PT, na época em que era deputado constituinte. A fase durou pouco: irritado com a burocracia do partido, foi para o PDT e, de lá, para o PSDB.

Assim falou… Professor Luizinho

“É uma atitude organizada, orquestrada. Estão namorando com o perigo. É muita irresponsabilidade.”

Do líder do governo na Câmara, atribuindo denúncias contra o presidente do Banco Central ao PSDB, que tem o senador Antero Paes de Barros na presidência da CPI do Banestado.

Insustentável

A posição dos presidentes do Banco Central e do Banco do Brasil, Henrique Meirelles e Cássio Casseb, respectivamente, é insustentável. Devem poupar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pedir demissão a bem do próprio governo. É impossível que ambos ocupem o cargo que ocupam tendo de, a cada dia, dar explicações novas sobre casos sempre mais nebulosos que levaram de sua vida privada para o cargo que ocupam na vida pública — no caso de Casseb, há ainda a lambança com a compra de ingressos para o show do PT. As Bolsas derreteram nesta quinta.

O dólar subiu. É a incerteza do que virá somada à certeza de que algo virá que põe o país nessa gangorra. Como se viu na demissão de Luiz Augusto Candiota e no convite feito a Rodrigo Azevedo para assumir a diretoria de Política Monetária, o que os tais mercados esperam é a continuidade da política econômica. A ser verdade que o governo está mesmo preocupado com a estabilidade e o crescimento, que não crie dificuldades novas para si mesmo.”

* A coluna é produzida pelo site Primeira Leitura – www.primeiraleitura.com.br

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