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Discurso de Lula contribui para acirrar ânimos no Congresso

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5 de agosto de 2004, 12h57

Cala-boca

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um discurso ontem no qual, por vias indiretas, disse que não dará a menor bola para as demandas da oposição, que vem insistindo na demissão dos presidentes do Banco do Brasil, Cássio Casseb, e do Banco Central, Henrique Meirelles, acusados de irregularidades fiscais. Na prática, mandou a oposição calar a boca.

Intrigas e futricas

Na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, a pretexto de bater na tecla da campanha pelo aumento da auto-estima do brasileiro, que tem o slogan “Sou brasileiro e não desisto nunca”, Lula afirmou: “Se todos nós formos tomados desse desejo, certamente não haverá intriga, futrica e eleição que possa frear o desenvolvimento”. Obviamente, o presidente estava dizendo que as denúncias contra Meirelles e Casseb são apenas intrigas e futricas eleitorais.

Oposição irada

Por ora, o discurso apenas contribuiu para acirrar os ânimos no Congresso. O líder do PFL na Câmara, José Carlos Aleluia (BA), comparou Lula a Hitler. “O Hitler, quando assumiu o poder começou a desenvolver a idéia de que havia uma conspiração contra a economia alemã e com isso ele mandou eliminar seus adversários, sumariamente, por meio de sua polícia secreta”, disse Aleluia, referindo-se às falas de governistas, atribuindo as denúncias a uma tentativa de abalar o país num momento em que a economia vai bem.

Cortina de fumaça

O governo armou uma estratégia para envolver numa cortina de fumaça a ida de Meirelles e Casseb ao Senado. A Comissão de Fiscalização e Controle aprovou o convite para que os dois compareçam ao Senado, mas os motivos oficiais são totalmente diferentes das denúncias contra ambos. Meirelles falará sobre medidas para “reduzir a vulnerabilidade externa do país”, e Casseb será convidado a prestar esclarecimentos a respeito da “estratégia de ação do banco enquanto agente de fomento de acesso ao crédito”. Leia mais a respeito no site www.primeiraleitura.com.br.

Desculpas

O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), procurou, nesta quarta-feira, a editora Vera Magalhães para retratar-se do incidente da véspera, em que, diante de outros jornalistas, desqualificou uma pergunta, classificando Primeira Leitura de “sitezinho tucano”, que, nas suas palavras, “poderia se chamar ‘PSDB em campanha’”.

Errei, sim

Mercadante telefonou para a jornalista e disse que errou ao agir daquela maneira, afirmou ter restrições a aspectos do site, mas disse que isso não lhe dava “o direito de tratar mal um jornalista da publicação”.

Assim falou… Antero Paes de Barros

“O governo Lula é um grande espetáculo, mas de imoralidade, de indecência e desfaçatez.”

Do senador do PSDB-MT ao comentar o discurso de Lula, no qual o presidente atribuiu as denúncias contra membros do governo a futrica e intrigas eleitorais.

Uma triste história, um exemplo

Uma triste história sobre um político com nome de repolho pode servir de exemplo sobre os valores de uma república. Era tido por tão xucro para o cargo que mal falava a língua oficial de seu país. Trata-se de Helmut Kohl, chanceler alemão de centro-direita que chegou ao poder na então Alemanha Ocidental em 1982. Deixou o cargo numa Alemanha unificada 16 anos depois. Pois bem: o homem que responde pela Alemanha moderna, o grande (literalmente) Helmut Kohl, teve a carreira política liquidada porque recebeu doações ilegais, não registradas oficialmente, para o seu partido, a União Democrata-Cristã (CDU). Sabem quanto? Míseros US$ 500 mil. Para os padrões brasileiros, uma verdadeira merreca.

Isso é metade do que alguns espertalhões brasileiros pretendem manter no exterior sem prestar contas à Receita Federal. Os alemães demonstraram ser um povo ingrato: ninguém teve a coragem de dizer que seu ato era perdoável em face de seus feitos. Também ninguém pagou o mico de acusar qualquer forma de conspiração. Alemães temem corar de vergonha, como um repolho roxo. Pois bem: a ingrata Alemanha é uma das mais vistosas e elogiáveis democracias “deste planetinha” (como diria Lula).

* A coluna é produzida pelo site Primeira Leitura – www.primeiraleitura.com.br

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