Primeira Leitura

Lula pede para MST não perder senso de responsabilidade

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20 de abril de 2004, 15h24

Paralisia como política

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu a semana reforçando o seu estilo de governar. Até agora, o governo criou 55 grupos interministeriais de trabalho para tratar de todo tipo de sugestão e reivindicação sem nada resolver.

Governo sem governo – 1

Em seu programa quinzenal de rádio Café com o Presidente, Lula disse que via com “muita naturalidade” as manifestações do MST e limitou-se a pedir às lideranças do movimento que “não percam o senso de responsabilidade”. Mais uma vez, não tocou no uso da lei antiinvasões adotada no governo FHC.

Governo sem governo – 2

No mesmo programa, Lula mandou um recado aos servidores: que não façam “reivindicações absurdas”. Às Forças Armadas, que pleiteiam reajuste no soldo, prometeu “estudos” da Caixa Econômica Federal para criar “em breve” um programa de financiamento habitacional.

Dia de índio

Aproveitando a solenidade pelo Dia do Índio, cerca de 70 lideranças indígenas saíram do plenário da Câmara, onde eram homenageadas, e ocuparam o Salão Verde do Congresso. “Não queremos mais ser homenageados, queremos que Lula diga, com clareza, de que forma vai tratar a política indigenista”, afirmou o líder Jecinaldo, da tribo Saperé Mawé.

Abrindo vagas

O presidente da Eletrobrás, Luiz Pinguelli Rosa, disse que está deixando o cargo. Segundo ele, Lula pediu o cargo para acomodar aliados. Detalhe: Pinguelli disse não ter aceitado um novo ministério, o da Reforma Universitária, como consolação.

Mínima transparência…

O novo líder do PSDB na Câmara, Custódio de Mattos (MG), quer que o governo divulgue o novo valor do salário mínimo e esclareça se o reajuste será retroativo ou não a 1º de abril.

…máximo marketing

O Diretório Nacional do PT recomenda: “(…) é preciso que o governo adote um programa criativo de recuperação [do valor do mínimo] até o final do mandato atual do presidente Lula.”

Assim falou… José Serra

“O governo do PT está tomando medidas que podem ser consideradas de direita.”

Do presidente do PSDB, ao criticar a gestão Lula e ao dizer que o PT está à direita dos tucanos na área econômica e também na área social, especialmente na educação.

Mortos sem causa

O diretor de redação do Primeira Leitura, Reinaldo Azevedo, dá parabéns ao presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes, pelo abril realmente vermelho. De sangue. A morte dos garimpeiros na reserva Roosevelt (!), em Rondônia, cobre duplamente o Brasil de vergonha. E escancara, ainda outra vez, o verdadeiro espetáculo a que país está submetido: o da incompetência. A vergonha é dupla porque praticamente inexiste país democrático no mundo onde mortes dessa natureza, em tais proporções, aconteçam. A não ser que as pessoas sejam vítimas ou de terror ou de guerra civil declarada.

A segunda razão para vergonha é, entende-se aqui, ainda pior do que a primeira e, não tenham dúvida, pode inviabilizar o Brasil como nação civilizada: ninguém dá a mínima pelota para os massacrados. As 29 vítimas fatais até agora confirmadas — o sindicato afirma que seriam 41 —, dez a mais do que as havidas em Eldorado do Carajás, em 1996, já fazem deste o segundo maior massacre do Brasil democrático. Só perde para os 111 do Carandiru. São mortos sem pedigree.

Não mataram ou não roubaram como os 111. Não traficavam drogas ou vendiam proteção, como algumas das vítimas da Rocinha. Não tentaram mudar o regime pela força, por meio da guerrilha. Eram só garimpeiros. Trabalhadores do país de Lula. Este país gosta cada vez menos de gente e cada vez mais de causas.

*A coluna é produzida pelo site Primeira Leitura — www.primeiraleitura.com.br

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