Terça-feira, 10 de setembro.

Primeira Leitura: José Serra eleva o tom de críticas ao PT.

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10 de setembro de 2002, 9h53

Pesquisas

Tudo caminha para um cenário há muito antecipado por este Primeira Leitura: uma polarização entre o petista Luiz Inácio Lula da Silva e o tucano José Serra. Dada a volatilidade do cenário eleitoral, não é possível dar esse quadro como definitivo.

Mas os candidatos já começaram a trocar farpas mais agressivas por causa dele, o que poderá distanciar o leitor — e eleitor — de uma evidência: a permanecer tal cenário, o eixo que passará a governar o Brasil será o de centro-esquerda. Nem Lula, se eleito, governará sem o PSDB e nem Serra, vitorioso, governará sem o PT.

Ensaio

Isso não significa que o confronto entre eles será leve. De olho no segundo turno, José Serra reiterou o tom mais elevado de críticas ao PT já usado no fim da semana passada. Depois de afirmar que sua proposta de criar 8 milhões de empregos não é só promessa de campanha, o candidato tucano ironizou a proposta de Lula: “Se fosse para fazer um concurso de Papai Noel, faria como o PT, que propôs gerar 10 milhões de empregos”.

Além disso, lembrou o passado de intimidade do PT e do MST para desqualificar a promessa de partido de fazer a reforma agrária sem que haja invasões.

Pesadelo recorrente

Um segundo turno contra Serra preocupa o PT, de acordo com análise do próprio partido divulgada pelo jornal Valor Econômico, segunda-feira. Tal temor nada teria a ver com uso da máquina, com um suposto favorecimento da mídia ao governista ou com o apoio do mercado ou do empresariado ao tucano – cantilena típica de um setor da própria imprensa e de petistas acossados pelo pesadelo de mais uma derrota.

Mapa de guerra

O documento do PT faz uma análise mais fria, baseada em cenários políticos regionais no segundo turno. Na hipótese de uma polarização Lula-Serra, o tucano herdaria nos Estados a maior parte da base de apoio a Ciro Gomes.

Impasse

Para Lula, em São Paulo, por exemplo, poderia restar apenas a opção de os petistas se unirem a Paulo Maluf (PPB) para fazer oposição aos tucanos, o que poderia resultar em estragos eleitorais.

Mais problemas

No Rio, o PT teria problemas para atrair o apoio de Anthony Garotinho. Em Minas Gerais, onde Aécio Neves (PSDB) pode ganhar já no primeiro turno, o PT até poderia sonhar com apoio do tucano e do PMDB num segundo turno contra Ciro, mas jamais contra Serra.

Roteiro

Lula disse segunda-feira que não conhecia o documento, mas a reportagem do jornal afirma que foi a partir dessa análise que a cúpula do PT decidiu fazer todo o esforço possível para tentar vencer no primeiro turno, hipótese considerada difícil pelos próprios petistas.

Zimbábue é aqui?

Ciro Gomes disse que, pela primeira vez desde a redemocratização, o país pode não ter “uma eleição limpa”. Embora o candidato diga que a idéia de requisitar observadores internacionais nas eleições “não está amadurecida”, o líder do PPS na Câmara, João Herrmann (SP), disse que fará o pedido à ONU.

Plano B

A campanha de Ciro está, na verdade, se preparando para justificar, com o argumento risível de uma suposta fraude eleitoral orquestrada pelo governo, sua eventual derrota já no primeiro turno.

Assim falou…Nelson Jobim

“Já temos observadores internacionais.”

Do presidente do TSE, respondendo ao líder do PPS na Câmara, João Herrmann, que falou em pedir à ONU que envie representantes para acompanhar as eleições. Jobim falou de um comitê no Itamaraty, integrado por 16 países, que examinaria “o avanço que é o sistema eletrônico das eleições no Brasil”.

Tudo é história

Depois de um fim de semana em que os principais assessores de George W. Bush defenderam na mídia os planos de atacar o Iraque, a Casa Branca cantou vitória ontem, dizendo que uma política mais dura em relação a Saddam Hussein ganha terreno entre os aliados americanos e citando uma entrevista do presidente francês, Jacques Chirac, ao The New York Times.

Na verdade, Chirac propôs que o Conselho de Segurança da ONU dê um ultimato ao governo iraquiano para que autorize a volta dos inspetores de armas da organização ao país, mas criticou a política de “ações preventivas” com que o governo Bush justifica uma ofensiva contra o Iraque.

O raciocínio de Chirac é exemplar: o conceito de atacar “preventivamente” países que representariam ameaças potenciais aos EUA autorizaria, por exemplo, a China a invadir Taiwan. A Índia poderia atacar o Paquistão. E assim por diante…

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