26/3/2002

Primeira Leitura: turbulência argentina passou longe do Brasil

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26 de março de 2002, 9h53

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Desgoverno

O caos financeiro na Argentina chegou às raias da desobediência civil: as casas de câmbio desrespeitaram a ordem de reduzir o horário de atendimento e funcionaram normalmente na segunda-feira (25/3). O dólar voltou a disparar e bateu nos 4 pesos, mesmo depois de o governo baixar medidas para tentar conter a cotação da moeda.

Poder esvaziado

Para o secretário-geral da Presidência argentina, Aníbal Fernandez, o “presidente tem de permanecer frio e deixar que a autoridade monetária…tome as decisões”.

O governo passou o dia desmentindo boatos de renúncia do presidente Eduardo Duhalde.

Descolamento reafirmado

A turbulência na Argentina passou longe do mercado brasileiro, influenciado por notícias positivas, como o resultado da balança comercial e das contas externas. O dólar e o risco do país permaneceram praticamente estáveis durante toda a segunda-feira.

Eleitor do Planalto

A pesquisa CNT-Sensus divulgada detectou um aumento considerável da influência de FHC na sucessão. Em junho de 2001, apenas 22,7% diziam que poderiam votar no candidato do presidente.

O número subiu agora para 42,7%. Os que não votariam num candidato governista em nenhuma hipótese diminuíram de 65,4% para 44,1%.

Segundo turno

O Sensus confirmou a queda de Roseana Sarney (PFL) e a ascensão de José Serra (PSDB). Nas simulações de segundo turno, Lula tem leve vantagem sobre Serra. Se os dois se enfrentassem hoje, Lula teria 42,9%, e Serra, 41,2%, o que caracteriza empate técnico. Os demais adversários, Lula venceria com folga.

Questão de autoridade

Tem gente achando que o governo deveria cumprir o acordo com os sem-terra que invadiram a fazenda de FHC. Se “descumpriu”, fez bem. Invadir terra produtiva só porque ela pertence a parente ou amigo do presidente da República não é política, mas banditismo. E acordo com bandido é a letra da lei.

Só internando…

O governo agiu para evitar um cadáver na fazenda Córrego da Ponte – que era, na verdade, o que o MST queria. E não faltam meliantes na imprensa que enxergam o dedo de José Serra na invasão dos sem-terra.

Deve ser a sexta ou a sétima teoria conspiratória que surge no mercado atribuindo ao candidato governista a mazela do dia no noticiário.

Estupidez democrática

Do lado do Planalto, também veio uma contribuição à estupidez. O ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, apressou-se em co-responsabilizar o PT pela invasão. Empresta verossimilhança à fantasia de idiotas que vêem o ministro por trás da ação da PF na empresa de Roseana Sarney.

Lugar errado

O titular do Ministério da Justiça deveria saber que o PT quer distância do MST. Ou seja: ou está mal informado ou age de má-fé. De um jeito ou de outro, não deveria estar nesse cargo.

Assim falou… Roseana Sarney

“Essa necessidade de adoração é a patologia dos tiranos.”

Da presidenciável do PFL, em uma crítica indireta a FHC. Segundo a governadora maranhense, “sempre causa apreensão quando uma personalidade pública não admite o contraditório e procura aniquilar aqueles que não (a) idolatram”. Roseana retrata, na verdade, o ambiente político do país durante a ditadura, quando seu pai, José Sarney, era um condestável do regime militar…

Estava escrito

Na edição de estréia, que está nas bancas, a revista Primeira Leitura relaciona os “elementos históricos, institucionais, estatísticos e políticos” que fazem com que “o MST – considerado até há alguns anos um foco de tensão capaz de ameaçar a ordem democrática – chegue ao fim do governo Fernando Henrique Cardoso num dilema ideológico e com o poder de pressão enfraquecido”.

A reportagem registra, também, que “o MST se vê, aos poucos, abandonado pelas organizações de esquerda que lhe davam respaldo político, financeiro e logístico, notadamente o PT”.

Revista Consultor Jurídico, 26 de março de 2002.

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