Mercado em baixa

Escritórios prevêem um crescimento menor nos próximos anos

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20 de março de 2002, 11h57

Os grandes escritórios de advocacia do Brasil se preparam para uma transição. Após viver um período de grande fartura, onde o crescimento anual de alguns escritórios chegou a 35%, o novo período que se avizinha deve ter crescimento modesto — estimado pelos advogados administradores das maiores bancas do país — de no máximo 2% acima da variação do PIB.

A reportagem demonstrando essa tendência é publicada no jornal Valor desta quarta-feira (20/3).

O mercado de profissionais também deve mudar, na previsão dos grandes escritórios. Ao contrário do que ocorreu nos últimos quatro anos, apenas as novas áreas de atuação, como as relacionadas à infra-estrutura, deverão crescer. Por causa disso, o incremento nos salários dos advogados vivenciado anteriormente deve ser contido, aproximando-se dos rendimentos de outras categorias de profissionais liberais.

Os escritórios já estão se preparando para o novo cenário. Alguns escritórios vêm apostando no setor de infra-estrutura em busca de crescimento. “O Brasil investirá na área tanto como no início dos anos 70”, prevê Antônio Corrêa Meyer, sócio do Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados.

Para se preparar, o Machado, Meyer alterou sua estrutura interna há quatro meses. No local de uma única área chamada serviços públicos e concessões, emergiram à categoria de divisões seis novas áreas: infra-estrutura; energia, petróleo e gás; comunicação e telecomunicações; aeronáutico; consumidor; e esportes e entretenimentos.

“Essas áreas já existiam, mas elas precisavam de uma atenção especial”, afirma, sem descartar a “emancipação” de novas áreas que ainda dependem de normas, como a do saneamento.

Outros grandes escritórios mantiveram o organograma interno, mas têm privilegiado novas áreas. José Luis de Salles Freire, sócio do Tozzini, Freire, Teixeira e Silva Advogados, explica que em seu escritório já existem, desde 1992, grupos que estudam essas áreas de maior potencial, que estão prontas para atender o mercado assim que os negócios começarem a surgir. “Muita coisa ainda depende de definições regulatórias e as áreas tradicionais ainda pesam bastante no nosso faturamento”, afirma, lembrando que entre os setores com demanda de investimentos estão o de aeroportos e rodovias.

Já o Demarest & Almeida Advogados terminou uma reestruturação de quatro meses que criou 22 áreas diferentes dentro de sua diretoria jurídica, algumas focadas nos nichos de negócio que podem se desenvolver.

De acordo com os grandes escritórios, o mercado de trabalho dos advogados deverá sofrer uma queda média dos salários, muito inflacionado nos últimos anos, exceto em áreas específicas que demandam profissionais com uma boa especialização. O advogado Rogério Lessa, sócio do Demarest & Almeida, acredita que as novas áreas deverão gerar bons negócios, mas nada que se assemelhe ao fantástico crescimento que a advocacia enfrentou nos últimos quatro anos. “Não teremos novamente escritórios crescendo a uma média de 35% ao ano, mas um crescimento modesto do mercado em geral, de no máximo 2% acima da variação do PIB”, diz.

Esta opinião é compartilhada por Clemencia Wolthers, sócia do Pinheiro Neto Advogados e presidente do Centro de Estudos das Sociedades de Advogados (Cesa). Ela acredita que a fase de grande crescimento dos escritórios acabou. “Agora teremos um crescimento contínuo e seguro, mais próximo do PIB”, diz. Clemencia acredita que o investimento externo no país deverá crescer fortemente nos próximos anos, mas sem significar um “boom” para os escritórios.

“O setor já está bem estruturado e algumas bancas médias deverão, inclusive, diminuir, pois se prepararam para determinados negócios que já foram realizados”, diz. O Pinheiro Neto Advogados adota a mesma estrutura criada há dez anos, com três grandes áreas que abrigam 58 setores diversos, coordenados por sócios. “Temos todos os principais assuntos em estudo e, de acordo com a demanda, podemos adequar as equipes para atender o mercado”, afirma

Fonte: Valor Econômico

Revista Consultor Jurídico, 20 de março de 2002.

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