16.3.2002

Primeira Leitura: Serra, o imperador do Brasil.

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16 de março de 2002, 16h56

Fantasia

A se dar crédito ao PFL e a parte do noticiário político recente, o candidato tucano à presidência, José Serra, tem o controle das seguintes instituições da República: 1) Tribunal Superior Eleitoral, 2) Ministério Público, 3) Justiça do Tocantins, 4) Polícia Federal, 5) Ministério da Justiça, 6) BNDES, 7) Ministério da Saúde e 8) Abin. Ou seja, ele era imperador do Brasil e ninguém desconfiava…

Na avenida

O tucano emerge do noticiário político como o Big Brother, aquela alegoria autoritária imaginada pelo escritor George Orwell no livro 1984. É o verdadeiro “samba da direita doida”: acuado pela queda de sua candidata, o PFL põe na avenida o enredo “O Reino Encantado da Conspiração Tucana nas Terras do Big Brother Serra”.

Vai à loucura

Como a empresa que fazia a varredura dos telefones na pasta da Saúde também prestava serviços a outros órgãos, é lícito supor – e também essa suposição, como as outras, não carece nem de provas nem de indícios – que o ex-ministro tenha o controle do 9) Ministério dos Esportes (que estava com o PFL), 10) Caixa Econômica Federal (idem), 11) Supremo Tribunal Federal, 12) Superior Tribunal de Justiça, 13) Superior Tribunal Militar, 14) Tribunal de Contas da União e 15) Correios.

Ridículo ímpar

Como se vê, o homem ainda nem foi eleito e já manda nas três esferas de Poder, nas lideranças civis, nos militares, na mídia e nas áreas de financiamento e gestão do Estado…

No mesmo tom…

O poder hipnótico de Serra alcança até Wall Street. Segundo a agência de classificação de risco Moody’s, a ascensão do candidato tucano, que seria market friendly – amigável em relação aos mercados -, valorizou os papéis brasileiros.

11 de setembro

O unilateralismo do presidente George W. Bush foi criticado pelo presidente do Irã, Mohamad Khatami, durante uma visita à Grécia. Para o dirigente, que foi reeleito com um programa de reformas e aproximação – lenta e gradual, claro – com o Ocidente, os EUA tentam tirar proveito do medo causado pelo terrorismo para reforçar seu papel de superpotência.

Fino

Se isso continuar, disse Khatami, os norte-americanos, um dia, vão incluir a Europa em seu “eixo do mal” – expressão usada por Bush para se referir a Iraque, Irã e Coréia do Norte.

Assim falou. Seymour Reich

“Enviar 20 mil soldados para Ramallah, vendar os olhos dos palestinos, colocar números nos seus braços e ser visto como imprudente, tudo isso fere Israel aos olhos de Washington.”

Do ex-presidente da Conferência dos Presidentes das Principais Organizações Judias da América – a mais poderosa organização judaica dos EUA -, ao dizer que as recentes ações militares de Ariel Sharon nos territórios ocupados ajudam a alimentar o ódio por Israel em todo o mundo árabe.

Tudo é história

Não bastasse a ópera bufa em que a direita e setores da imprensa atribuem a José Serra o comando de uma conspiração tucana rumo ao Planalto, o público é obrigado a acompanhar as evoluções de José Sarney a perorar sobre direitos individuais – ele, um coronel da ditadura – e a comparar o caso Lunus com Watergate. Se paralelo houvesse, os Sarney nessa história estão mais para Richard Nixon do que para vítimas de um complô. Afinal, a exemplo do ex-presidente americano, também eles queriam informações privilegiadas para obstruir o trabalho da Justiça. Em 27 de julho de 1974, a Comissão de Justiça da Câmara dos Deputados dos EUA aprovou uma recomendação para o impeachment de Nixon. No texto, os deputados acusaram o presidente de atividades ilegais que formaram um “curso de conduta ou plano” para obstruir a investigação da invasão do edifício Watergate e encobrir outras atividades ilegais.

Revista Consultor Jurídico, 16 de março de 2002.

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