12/3/2002

Primeira Leitura: mercado reage a apreensão de documentos na Lunus

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12 de março de 2002, 9h50

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Obra da direita

A idéia do risco político voltou ao mercado financeiro, e não por obra do PT – que, segundo disse uma vez o ministro Pedro Malan, era um risco para o país –, mas do PFL. O dólar subiu 0,38%, acumulando uma alta de 1,41% desde o dia 4 – o primeiro dia em que o mercado reagiu à apreensão de documentos e de dinheiro da empresa Lunus, de Roseana Sarney e de seu marido, Jorge Murad.

Arquitetura da crise

A cotação máxima da moeda norte-americana, de R$ 2,370, foi atingida no dia seguinte ao anúncio do rompimento do PFL com o governo Fernando Henrique Cardoso. Para os analistas, a candidatura de Roseana sofrerá inevitável desgaste por causa das denúncias e de sua incapacidade em responder a elas. Mas há dúvidas sobre quais seriam as candidaturas beneficiadas.

Abandonando o barco

De qualquer modo, o PFL está em busca de saídas para desembarcar da candidatura de Roseana. A governadora maranhense não explica o dinheiro encontrado na empresa Lunus, e as primeiras pesquisas de intenção de voto, divulgadas no último fim de semana, mostram quedas de 2 a 5 pontos percentuais da pefelista.

Desespero

O partido de Jorge Bornhausen quer que os tucanos encontrem uma “terceira via” entre Roseana e José Serra. Caso contrário, já fala em apoiar até candidatos de oposição.

No continente

O governo argentino parece ter aderido com entusiasmo à decisão norte-americana de incluir as Farc, grupo guerrilheiro colombiano, na lista de 28 organizações terroristas internacionais. Segundo o Clarín, a Argentina pretende dar um caráter mais político – e não apenas econômico – ao seu vínculo como os EUA, na tentativa de obter a liberação da ajuda dos organismos internacionais de crédito.

Relação carnal

A adesão incondicional da Argentina à política externa de Washington não é novidade. A dupla Menem-Cavallo, por causa da livre conversibilidade, elegeu os EUA como parceiro privilegiado. A postura deu origem a pilhérias, como a participação da armada argentina na Guerra do Golfo ou a frase do antigo chanceler Guido di Tella, que dizia buscar uma relação “carnal” com os norte-americanos.

Por alguns tostões

Pior: o alinhamento automático do governo argentino com Washington também serviu para desestabilizar politicamente o Mercosul no momento em que os EUA pressionavam pela negociação da Alca.

Assim falou… FHC

“Eu poderia ganhar a eleição sozinho”.

Do presidente da República, que abandonou o discurso conciliador com o PFL, ao dizer que teria vencido em 1994 sem o apoio do partido. No domingo, em Fortaleza, ele criticara “setores oligárquicos que insistem em se encastelar no poder”, numa referência a alas do partido ainda dominadas por oligarquias familiares, como os Sarney e o clã de ACM.

Estava escrito

O site Primeira Leitura já dizia, em janeiro deste ano: “Há entre Lula e Serra muito mais coisas em comum do que gostariam de imaginar as minorias de extrema esquerda do PT ou FHC. Para começo de conversa, ambos provocam temor considerável em setores da elite e na direita de maneira geral”. Nos mercados financeiros externos, o fenômeno se repete: assim como a direita brasileira, Wall Street não nutre simpatias nem por Lula nem pelo ex-ministro da Saúde.

Pois voltou a circular a idéia de um terceiro nome que uniria a base governista – nem Roseana nem Serra. E está no PFL o principal foco que alimenta tal notícia. Em resumo: para os conservadores, qualquer candidato pode vencer. Desde que não se mude nada.

Revista Consultor Jurídico, 12 de março de 2002.

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