6/3/2002

Primeira Leitura: entenda o jogo político entre o PFL e o governo

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6 de março de 2002, 10h08

Dez mentiras…

Entre as mistificações e mitificações da política brasileira, Primeira Leitura propõe um exercício que serve de guia para entender o jogo em curso. Nada do que vai abaixo é verdade. As frases entre aspas foram inventadas pelo redator da coluna. No entanto, faça um esforço: leia-a até o fim. A sua razão de ser é “auto-explicativa”.

Aliança governista

O PFL é essencial à estabilidade do governo. Sem ele, os últimos meses do mandato de FHC poderiam lançar o país no caos. Por isso, apesar da resistência da maioria de seus membros, disposta a partir para o tudo ou nada com o governo, a cúpula do partido conseguiu conter a rebeldia. Vai continuar, a contragosto, a dividir o poder, mas não vai tolerar outro deslize. Comentário ouvido nos corredores pefelistas: “Esse FHC já encheu o saco!”.

Roseana

Quando Bornhausen diz que a candidatura Roseana é irreversível, fala a mais pura verdade. Ele tem certeza de que o caso Roseana-Murad não vai dar em nada e avalia que a governadora teve uma reação serena, digna de uma estadista. Comentário ouvido nos corredores de Brasília: “O PFL não sofre de governismo congênito e vai reagir”.

PFL

Bornhausen só não é o cacique pefelista mais animado com Roseana porque há o vice-presidente Marco Maciel, entusiasta de primeira hora. Maciel tem um pé nesse lado mais marqueteiro e espetaculoso da política desde quando era braço direito do general-presidente Ernesto Geisel.

Acostumado a correr riscos, defende até o confronto se necessário. Comentário ouvido nos corredores do Palácio do Jaburu: “Vou mostrar ao PSDB que, em tempo de muda, jacu não pia. Nem tucano”.

Jorge Murad

A direção do PFL, que tem em Jorge Murad uma de suas estrelas, foi pega de surpresa. Bornhausen e Maciel sabem que seu partido, como qualquer outro, tem suas zonas cinzentas e abriga personalidades pelas quais não se põem cargos no fogo, mas esse não é o caso de Murad. Comentário ouvido na Catedral de Brasília: “Erraram o alvo. Murad é um poço de virtudes!”.

Dinheiro vivo

Divulgada a existência de R$ 1,5 milhão em dinheiro no escritório de Roseana, os pefelistas cobraram uma explicação da governadora e se contentaram com a resposta de que a grana era para pagar madeireiras do interior, que preferem, como se diz em bom português, receber em cash.

Comentário ouvido nos corredores do escritório do mais caro jurista do país: “Que tempestade em copo d’água! Vê lá se o PFL é partido de se preocupar com mixaria! Caro mesmo é o parecer do doutor advogado: US$ 150 mil!”.

Legalidade

Roseana chorou não porque temesse qualquer irregularidade. Ela se sentiu traída pelo governo. Queria ter sido previamente avisada da ação policial, pois considera que essa ilegalidade é um direito garantido aos governadores da base aliada. Comentário ouvido nos corredores do Palácio dos Leões: “Aciona o Tourinho!”.

Candidaturas

Ao lançar Roseana, o PFL quis unir os três partidos da base. Jamais pensou, como se diz aqui e ali, em apenas se cacifar no jogo. Também não se surpreendeu com o desempenho da candidata, que julga à altura do desafio. Comentário ouvido em qualquer lugar de Brasília: “Ela tem conteúdo!”.

Preconceito

Quem conhece política sabe que a ação contra Roseana, ordenada por uma juíza, expressa preconceito contra uma “mulher e nordestina”. Comentário ouvido num rasgo de lógica: “Se eu fosse homem, ninguém invadiria o escritório do meu marido, quero dizer, da minha mulher, isto é, vocês entenderam…”.

Ninho tucano

Os tucanos, exceção feita a Serra, reagiram às acusações da governadora com aquele vigor costumeiro que assombra pela contundência… FHC teve até de entrar em campo para jogar água na fervura.

Comentário ouvido num ninho tucano: “Gente, isso é muito feio! O PFL precisa parar de jogar bolinha de papel nimim, tio Fernando!”.

Governabilidade

Caso o PFL decida se manter no governo, vai ser mesmo para quebrar o galho de FHC e assegurar a governabilidade.

Comentário ouvido nos corredores da sede do partido: “Não temos ambições pessoais. Nosso negócio é governar o Brasil. Custe o que custar”.

Assim falou…José Agripino

“A posição do PFL é firme, monolítica e uniforme, mas ainda não é definitiva”. Do líder do partido, ao dizer que o PFL tende a ficar com a candidatura de Roseana. Ela condicionou sua permanência na disputa à entrega dos cargos pelo partido.

História em números

A Coréia do Sul desperdiça mais alimentos do que a Coréia do Norte consome em um ano. Um estudo do governo sul-coreano mostra que os 48 milhões de habitantes do país jogaram fora, em 2001, 4,05 milhões de toneladas de comida. No mesmo período, a população da Coréia do Norte (22 milhões de pessoas) consumiu 3,95 toneladas de comida, segundo a France Presse.

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