Terça-feira, 25 de junho.

Primeira Leitura: subida de Serra em pesquisa acalmou o mercado.

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25 de junho de 2002, 9h03

De olho na eleição

A segunda-feira prometia ser um dia de forte turbulência no mercado. De manhã, o dólar bateu em R$ 2,862, e o risco-país também subia. Foi só sair a pesquisa CNT-Sensus para inverter a tendência.

Investidores gostaram do recuo nas intenções de voto no petista Luiz Inácio Lula da Silva – de 40,1% (maio) para 36,15%. Gostaram mais ainda da recuperação do candidato tucano, José Serra – de 13,3% para 20,9%.

Decisivo

O resultado decisivo para acalmar o mercado foi a simulação de um segundo turno entre os dois candidatos. A diferença entre eles, que era de 16,6 pontos percentuais em maio, baixou para 5,7 pontos.

Segurando o dólar

Divulgada a pesquisa, o dólar recuou 2,11% e fechou cotado a R$ 2,78, também ajudado pela decisão do Banco Central de aumentar o depósito compulsório dos bancos para cadernetas de poupança. O risco do Brasil, que às 12h30 estava em 1.753 pontos, fechou em 1.524 pontos – queda de 11,9 % em comparação com o resultado de sexta-feira.

Efeitos positivos

O C-Bond, principal título da dívida externa brasileira, reagiu ainda mais prontamente, com valorização de 9,94%. No final da tarde, passou a 62,38% de seu valor de face. Até a combalida Bovespa, que amargava quatro pregões em baixa, fechou em alta de 3,41%.

Falta confiança

O pronunciamento de Lula no fim de semana, destinado a acalmar o mercado, não surtiu efeito. Analistas de Wall Street gostaram do teor do documento lido pelo candidato, mas não esconderam que continuam desconfiados.

Coalizão

O banco Morgan Stanley informou que há um ponto que deixa investidores mais confortáveis: uma vitória na eleição presidencial ocorrerá por margem tão estreita de votos que obrigará o vencedor, especialmente se for Lula, a formar um governo de coalizão.

Uma cravo…

Dois dias depois de dizer que deseja um pacto de governabilidade com o governo FHC, Lula vem com essa história de que o presidente da República está no comando “do Titanic” e que deveria deixar “de participar de festas da elite”.

…outra na ferradura

É esse tipo de discurso, recheado de clichês carbonários, que não deveria partir de um político que se apresenta, com chances reais de vitória, para governar um país — ainda mais em meio a uma crise financeira como que o Brasil vive agora.

Crise de compostura

Assim como não há espaço para surtos oposicionistas de Lula, não se admite terrorismo do governo contra sua candidatura. As referências dos tucanos ao risco de argentinização do país já fizeram estragos que bastam. Ter compostura, hoje, é a principal providência que PT, PSDB e FHC podem tomar para tirar o país da linha de tiro do mercado.

Assim falou…Lula

“(FHC) está no comando do Titanic”.

Do candidato do PT à Presidência da República, dois dias depois de propor, para acalmar o mercado, um “pacto de governabilidade” com o governo.

Tudo é história

O diretor do banco de investimentos Goldman Sachs Paulo Leme, cobra, em entrevista a O Estado de S. Paulo, que o PT detalhe as políticas que vai adotar para obter o equilíbrio das contas públicas se chegar ao poder. Só assim os investidores poderiam superar a desconfiança em relação a um eventual governo Lula.

O executivo defende, por exemplo, que seja adotada uma meta de 5% do PIB de superávit primário (receitas menos despesas, excluindo-se as com juros). Pois ao longo de três anos seguidos, entre 1999 e 2001, o governo FHC só conseguiu gerar superávit primário de 3% do PIB. Pede-se agora, da oposição, o que nem o malanismo conseguiu ao rifar a possibilidade de um crescimento econômico digno do nome. Como diz Leme – em outro contexto, claro –, “o demônio está nos detalhes”…

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