Fraude no iBazar

Fraude no iBazar: usuário é ludibriado em compra de notebook

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21 de junho de 2002, 21h21

Quando o supervisor de suporte técnico Marcos Antonio Constancio resolveu comprar um notebook para auxiliá-lo na faculdade, não imaginava que os problemas com essa compra iriam, pelo contrário, atrapalhar seu estudos e o período de provas. No início de maio, ele pagou R$ 2.900,00 por um notebook anunciado no conhecido site de leilões iBazar, mas até hoje não recebeu o produto. E certamente não irá recebê-lo.

Pelas características do computador – teoricamente um Toshiba Pentium III, 800 MHz, 128 Mb de RAM, HD de 20 Gb, DVD ROM, gravador de CD, com apenas três meses de uso, um ano de garantia e nota fiscal – o produto estava muito barato, sem dúvida. Mas Constancio tinha pressa para concluir seu curso e não prestou atenção em certos detalhes. Por exemplo, no site da falsa “Segurlink”, hospedado gratuitamente no provedor hpG, e que foi indicado pelo vendedor Mauro Sérgio da Silva (o nome deve ser fictício) para fazer uma transação segura pela Internet.

Após alguns e-mails trocados com o vendedor, Constancio, que mora em São Paulo, acessou o site, preencheu um formulário e depositou o dinheiro em uma conta da Caixa Econômica Federal, numa agência de Curitiba. A conta seria da “Segurlink”, mas o nome do titular é Giane (ou Li/Giane) M. dos Santos. No cadastro do iBazar, o vendedor Mauro da Silva também forneceu um endereço de Curitiba.

A transação deveria ocorrer da seguinte forma: o comprador deposita o dinheiro na conta da “Segurlink”, que cobra uma taxa pelos seus serviços. A empresa notifica o vendedor de que o dinheiro já está disponível. O vendedor entrega o produto, o comprador o verifica e, se estiver de acordo, o dinheiro é repassado ao vendedor. Caso contrário, tanto o dinheiro quanto o produto são devolvidos. Tudo de modo absolutamente seguro – na aparência.

Marcos Constancio depositou os R$ 2.900,00 no dia 7 de maio deste ano (veja cópia do comprovante). No mesmo dia, recebeu um e-mail da falsa “Segurlink” avisando que após compensação do valor o vendedor seria notificado e o produto seria entregue. No dia 13, Constancio ainda não tinha recebido o notebook e escreveu para a “empresa”. Esta informou que, se dentro de três dias o computador não chegasse, o dinheiro seria devolvido.

Cinco dias depois, nada de notebook. A “Segurlink” prometeu a devolução do dinheiro dentro do prazo de uma semana e pediu os dados bancários de Constancio para fazer o depósito. O dinheiro não foi devolvido. No dia 29, Constancio, já desesperado, escreveu um e-mail com o título “Pelo amor de Deus”, dizendo que precisava do dinheiro para comprar outro notebook e que todo o problema já tinha atrasado seus trabalhos na faculdade. No dia 31 de maio, a “empresa” apresentou uma desculpa fantasiosa: o vendedor Mauro Sérgio da Silva seria um hacker que forjou o endereço de e-mail da “Segurlink” e já havia enganado outros cinco consumidores, num total de cerca de R$ 8 mil.

“Acreditamos que o mesmo tenha fraudado sites como Arremate e Lokau se passando por compradores criando e-mail e contas falsas para solicitar reembolso”, escreveu o responsável pelo site Segurlink.hpg.com.br. “Já registramos a queixa e nossos advogados estão solicitando a quebra do sigilo bancário do usuário”, completou.

Desde então, Constancio só vem recebendo promessas vãs de devolução de seu dinheiro. A última, do dia 10 de junho, pode até ser vista no site Reclame Aqui. Nesta mensagem, a empresa-fantasma continua sustentando a história de que Mauro da Silva é um hacker. Mas o mais provável é que o próprio vendedor seja um dos responsáveis pela “Segurlink, e que esta seja uma quadrilha de fraudadores de sites de leilões estabelecida em Curitiba. Há alguns indícios que reforçam estas hipóteses: nos e-mails que Constancio recebeu da suposta empresa e de Mauro da Silva há um erro de grafia peculiar – a palavra “atensiosamente”, escrita com “s”. A conta bancária de Giane dos Santos, na qual o dinheiro foi depositado, é de Curitiba, assim como o endereço fornecido pelo vendedor e pela “Segurlink”. Além disso, um dos suspeitos já foi identificado por um empresário. Ele acha que há um grupo especializado neste tipo de golpe atuando a partir da capital paranaense (leia em Fraude no iBazar: “Segurlink”, o site Franskestein – 1ª parte).

O iBazar, que foi contatado algumas vezes por Constancio, se exime de qualquer responsabilidade. Na última mensagem que enviou ao comprador, o departamento de comunicação do site afirmou que “o MercadoLivre e iBazar funcionam como um classificado de jornal”, e que as transações “são feitas entre comprador e vendedor, que assumem a responsabilidade sobre a segurança da negociação”. O site sugere ainda que Marcos Constancio “entre em contato com o vendedor para acertar o envio” do produto. Mas é exatamente isso que ele vem tentando fazer há cerca de um mês. O telefone informado pelo vendedor está desativado e, há alguns dias, os e-mails enviados para seu endereço voltam com o aviso de que a caixa postal está cheia.

As características da transação feita no iBazar e do site Segurlink.hpg.com.br mostram outras implicações legais, que ultrapassam o caso de Marcos Constancio, e indicam que há outras vítimas de fraudes.

Leia também em InfoGuerra:

Fraude no iBazar: “Segurlink”, o site Franskestein – 1ª parte

Fraude no iBazar: “Segurlink”, o site Franskestein – 2ª parte

Fraude no iBazar: ausência de responsabilidades

Fraude no iBazar: como um classificado de jornal?

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