Injustiça reparada

Injustiça reparada: Graham Bell não foi o inventor do telefone

Autor

  • Omar Kaminski

    é advogado e consultor gestor do Observatório do Marco Civil da Internet membro especialista da Câmara de Segurança e Direitos do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) e diretor de Internet da Comissão de Assuntos Culturais e Propriedade Intelectual da OAB-PR.

20 de junho de 2002, 23h47

A Itália saúda a reparação de uma injustiça histórica, pois a Câmara dos Representantes (House of Representatives) norte-americana reconheceu, recentemente, que um imigrante florentino de poucas posses, de carreira “extraordinária e trágica”, fora o inventor do telefone e não Alexander Graham Bell.

O “teletrofono” do pouco conhecido gênio da mecânica, Antonio Meucci, eleva-o ao status de inventor do telefone e pai da comunicação moderna. Bell, um “escocês pérfido” que teria tido acesso a seus estudos, obteve a patente 16 anos após.

Nascido em 1808, Meucci estudou design e engenharia mecânica na Academia de Belas Artes em Florença. Entre 1830 e 1840, foi morar em Cuba, e enquanto trabalhava em técnicas para combater enfermidades com a aplicação de choques elétricos, descobriu que os sons podiam trafegar nos fios de cobre. Percebendo o potencial, mudou-se para os EUA em 1850 para desenvolver a tecnologia.

Quando a esposa de Meucci, Ester, ficou paralítica, ele criou um sistema para conectar o quarto ao seu escritório nas cercanias; e em 1860, realizou uma demonstração pública em Nova Iorque, registrada por um jornal da comunidade italiana.

Obrigado a fazer um novo protótipo após Ester ter vendido suas máquinas por $6 a uma loja de objetos usados, seus modelos foram ficando cada vez mais sofisticados. Enquanto cedia abrigo a exilados políticos, Meucci se esforçava para obter auxílio financeiro, fracassava em dominar o inglês e foi alvo de severas queimaduras, provenientes de acidente a bordo de um navio a vapor.

Não pôde pagar os $250 necessários para uma patente definitiva de seu “telégrafo falante”, e três anos mais tarde não conseguiu sequer pagar os $10 da renovação anual. Enviou um modelo e detalhes técnicos à empresa de telégrafos Western Union, mas os executivos não demonstraram interesse. Exigiu a devolução dos seus projetos, em 1874, alegaram que haviam sido perdidos.

Dois anos mais tarde, Graham Bell, que havia dividido um laboratório com Meucci, registrou a patente do telefone e fez um negócio lucrativo com a Western Union.

Meucci processou Bell, e estava próximo da vitória – a Suprema Corte acolheu o caso e iniciaram-se as acusações por fraude – mas faleceu em 1889. E o processo, junto com ele.

Fonte: Rory Carroll, de Roma para o Guardian Unlimited.

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    é advogado, diretor de Internet do Instituto Brasileiro de Política e Direito da Informática (IBDI) e membro suplente do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br).

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