Quarta-feira, 12 de junho de 2002.

Primeira Leitura: caiu por terra o paradigma de marqueteiro de Serra

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12 de junho de 2002, 11h34

Fim do maniqueísmo

A mensagem do mercado é clara: caiu por terra o paradigma de Nizan, o marqueteiro de Serra, segundo o qual há uma opção pela estabilidade do país, que seria o tucano, versus uma opção pelo caos, supostamente representada pelo petista Luiz Inácio Lula da Silva.

Fim do malanismo

Pesquisas que mostrem o avanço do candidato governista tendem a ter efeito apenas no curtíssimo prazo. Isso porque o mercado parece ter despertado para os problemas estruturais do malanismo, que afetarão quem quer que seja eleito, Serra ou Lula: a superlativa dívida interna para rolar, a economia paralisada e a falta de crédito e de investimento para o país.

Lua de fel

Não durou nem dois dias úteis a trégua do mercado, fruto da satisfação com as pesquisas eleitorais, que mostraram a consolidação do tucano José Serra no segundo lugar isolado dos outros candidatos. O dólar chegou ontem à maior cotação desde outubro, negociado a R$ 2,714 (+ 2,95%).

O risco do Brasil cresceu 5,59%, e os contratos de juros para janeiro tiveram alta de 5,71%, para 20,3%, refletindo a aposta de que o Banco Central não terá espaço para reduzir os juros.

Gritos e sussurros

Dois fatores contribuíram para esse desempenho quase trágico. Primeiro, a venda de Letras do Tesouro Nacional pelo Tesouro, com vencimento em outubro e taxa máxima de 19,09% ao ano, acima do teto previsto pelo mercado. Segundo, rumores de que uma agência de classificação de risco rebaixaria o Brasil.

FHC e o social

Na comemoração da marca de 50 milhões de pessoas atendidas pelo Programa Saúde da Família, FHC voltou a destacar as conquistas sociais de seu governo. Afirmou ter feito “o maior programa de inclusão social na história do Brasil” e assegurou: “se o mercado não atrapalhou tanto, foi porque nós seguramos com medidas enérgicas”.

Malan e o povo

Aos números então: no auge da crise cambial, a equipe econômica de FHC achou por bem tratar igualmente os desiguais, inclusive do Fundo de Segurança Pública. Os R$ 135 milhões investidos em 1998 transformaram-se em R$ 27 milhões, em 1999. Neste ano, o orçamento do FNSP é de R$ 338 milhões. Mas o detalhe é que, até agora, apenas R$ 300 mil foram liberados. É o jeito Malan de ver a vida dos cidadãos.

Lágrimas amargas

As declarações de um presidente consternado com casos como a morte do jornalista Tim Lopes (cujo corpo pode ter sido encontrado ontem pela polícia) são, portanto, um tipo peculiar de hipocrisia. FHC não tem o direito de se comportar como se fosse um cidadão comum, sem meios de reagir à violência.

O problema

Pesquisa da Organização Internacional do Trabalho quantifica aquilo que todos já sabiam que existia mas ninguém tinha certeza do tamanho: apenas 40% dos trabalhadores brasileiros têm emprego formal.

É mais que o resto da América Latina, onde 49% dos trabalhadores estão no lado formal da economia. Mas menos do que na Ásia, onde nada menos de 65% da população economicamente ativa está na informalidade.

Assim falou…João Paulo Cunha

“A vilania prescinde de lógica. Se o país está afundando, como quer fazer crer o governo, a culpa não é de quem está do lado de fora”.

Do líder do PT na Câmara, reagindo à suposta tentativa do governo de associar a crise no mercado financeiro à candidatura Lula.

A história se repete

Pesquisa feita na Argentina mostra que a maioria da população acredita que só “um líder forte e com poder de decisão” pode tirar o país da crise. Esse é o pensamento de 49% dos entrevistados, um pouco mais que os 47% que acreditam que a saída é o fortalecimento das instituições.

Ou seja, mesmo depois dos desmandos de Juan Domingo Perón e suas esposas, e do desastre que foi o governo de Carlos Menem, a metade dos argentinos ainda acredita no poder dos caudilhos salvadores da pátria. Não será surpresa, portanto, se um candidato com esse perfil vencer a próxima eleição.

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