Sexta-feira, 26 de julho.

Primeira Leitura: eventual vitória de Ciro deixa mercado em pânico.

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26 de julho de 2002, 9h24

Pânico

O mercado entrou em pânico quinta-feira por causa da informação de que a pesquisa Ibope mostraria uma vitória folgada do candidato da Frente Trabalhista, Ciro Gomes, sobre o petista Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno. Na simulação de primeiro turno, ambos estariam próximos de um empate. O dólar chegou a R$ 3,03 e fechou a US$ 2,995, com alta de 1,66%.

Luz amarela

O risco do país foi a 1.870 pontos. O índice, calculado pelo JP Morgan, mede a probabilidade de o Brasil dar um calote. Alta, muito alta, segundo o banco. O comportamento do mercado brasileiro quinta-feira acendeu a luz amarela em Wall Street, avalia outro banco, o Lehman Brothers.

Poço fundo

A valorização de 12,79% do dólar em junho fez a dívida líquida do setor público bater um recorde e chegar a 58,6% do PIB (Produto Interno Bruto). Em valores nominais, o endividamento chegou a R$ 750,25 bilhões. Isso quer dizer que o governo deve quase dois terços do valor de tudo que o país produz. Não é pouco.

Medo de quê…

O que mete medo no mercado são o discurso vago de Ciro sobre controlar remessas de dinheiro ao exterior e o programa de governo ambíguo e autoritário do candidato do PPS. A declaração de Ciro (veja frase abaixo) sobre as contas CC-5, pelas quais se enviam dólares para fora, pode fazer com que haja uma corrida antes da eleição, o que faria o real perder ainda mais valor. Se vai fazer, é melhor não dizer antes — que pense nisso depois de eleito, se eleito. Já seu programa de governo é um atentado às regras da democracia, durante conquistadas. O mercado já percebeu. A imprensa começa a descobrir…

O voto de FHC

Aliados de Serra estão incomodados com as notícias de que Fernando Henrique Cardoso votaria em Lula, caso Ciro, e não no tucano José Serra, passe para o segundo turno com o petista.

“O piloto nunca deve partir da hipótese de o avião cair”, disse o senador José Jorge (PFL-PE). O candidato tucano reagiu: “O presidente me apóia, e vou para o segundo turno”.

Fé e política

Apesar do desempenho sofrível de Anthony Garotinho, sua candidatura deve ser mantida pelo PSB. O partido crê piamente que ele pode conquistar pelo menos 10% dos votos, o que é um cacife considerável em termos nacionais.

Mas o presidente do PSB, Miguel Arraes (PE), quer que o candidato deixe de falar só para os evangélicos. A campanha argumenta que 18,5% da população são evangélicos.

Brasil idoso

Números do Censo 2000 divulgados pelo IBGE quinta-feira mostram que, em 20 anos, a população de idosos no Brasil deve dobrar, passando de 15 milhões (2000) para 30 milhões. Em 1980, existiam cerca de 16 idosos para cada 100 crianças.

Em 2000, a proporção era de 30 para 100. Eis uma das razões pelas quais a reforma da Previdência Social é tarefa inadiável para o próximo governo.

Fome e mau gosto

Dados do Banco Mundial, divulgados pelo Ministério do Exterior israelense, revelam que 70% dos palestinos vivem com menos de US$ 2 por dia, abaixo de uma linha de pobreza que, numa piada de mau gosto, uma autoridade israelense apelidou de “um faláfel por dia”, em referência ao bolinho de grão-de-bico, típico das culinárias árabe e judia.

Desastre humanitário

O mesmo relatório indica que 45% das crianças palestinas sofrem de anemia, e 21 % das que têm menos de cinco anos de idade são subnutridas. Em 2000, antes do nível atual de acirramento do conflito, eram apenas 2%.

O aumento assustador é a mais clara demonstração do desastre humanitário em curso nos territórios ocupados.

Assim falou…Ciro Gomes

“Pelas contas CC-5, passam mais de US$ 100 bilhões absolutamente descontrolados. É dinheiro de caixa 2, de roubo na política. No meu governo, essa farra vai acabar”.

Do candidato da Frente Trabalhista na GloboNews, na terça-feira. Foi essa frase que, aliada aos números da pesquisa Ibope, ontem, ajudou a elevar o dólar a mais de R$ 3

Ironias da história

No início de março, o PSDB usou o fantasma da Argentina para defender o voto em José Serra para presidente. O alvo óbvio era Lula. “Olhem o que aconteceu lá. Se o Brasil escolher errado, pode se repetir aqui” — esse era o espírito da mensagem do programa de TV dos tucanos.

Ironicamente, quem se beneficiou desse discurso foi o candidato da Frente Trabalhista, Ciro Gomes. Agora, que Ciro deixou Serra para trás e ameaça Lula, é o PT que apela para o mesmo fantasma. Quinta-feira, em São Paulo, o porta-voz do candidato petista, André Singer, disse que, “se o Brasil não mudar, vai virar uma Argentina” e que “o PT está propondo fazer mudanças com responsabilidade”.

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