Morte anunciada

Celso Daniel foi assassinado com tiros nas costas

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20 de janeiro de 2002, 11h06

O corpo do prefeito de Santo André, Celso Daniel, foi localizado na manhã deste domingo, em Juquitiba (SP), com pelo menos oito tiros.

O cadáver foi encontrado na Estrada das Cachoeiras, no Bairro do Carmo, altura do Km 328 da Régis Bittencourt.

Celso Daniel teve o rosto desfigurado, provavelmente para dificultar o seu reconhecimento e dar tempo aos criminosos para a sua fuga.

A confirmação da morte foi anunciada pelo vice-prefeito de Santo André, João Avamileno. A localização teria sido feita pela Polícia Civil e o reconhecimento feito pelo secretário de Segurança do Estado e pelo presidente nacional do PT, José Dirceu.

A proximidade das eleições associada ao pânico gerado pela multiplicação dos sequestros em São Paulo levou os governos federal e estadual a agir aflitivamente. A sequência de episódios como esse instalou a noção de que todo cidadão está sujeito a ser sequestrado. Mas a constatação imediata é a de que o sistema policial não está aparelhado para enfrentar o problema generalizado.

O prefeito petista, o segundo do partido a ser assassinado em poucos meses, foi seqüestrado no final da noite de sexta-feira (18/1) depois de sair de uma churrascaria na região dos Jardins, na capital paulista.

De acordo com informações da Polícia Militar, ele estava em uma Pajero blindada, dirigida por um amigo, o empresário Sérgio Gomes da Silva. O carro foi perseguido por outros três carros, uma blazer, um Tempra e um Santana.

No bairro do Sacomã (zona sul de São Paulo), o carro onde estava o prefeito foi fechado pela quadrilha. Houve disparos. Eles atingiram os pneus e os vidros traseiro e dianteiro, na direção do motorista.

Homens armados desceram dos carros e arrancaram Celso Daniel da Pajero. O empresário que o acompanhava foi deixado no local. Segundo ele, eram oito os criminosos.

A notícia do sequestro gerou uma série de reuniões e trocas de telefonemas entre o presidente da República, o ministro da Justiça, governador paulista e as lideranças do PT. A Polícia Federal está no caso, juntamente com a polícia paulista.

A família autorizou a divulgação do sequestro. A grande repercussão e a revolta gerada, supõe-se, podem ter levado os criminosos ao desespero, o que explicaria a tática de se livrar da principal testemunha do crime, o próprio sequestrado.

Em entrevista à rádio CBN, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) afirmou que o fato de os sequestradores, no ato do rapto, terem atirado nos vidros dianteiro e traseiro do carro onde Celso Daniel estava demonstraria que a intenção era mesmo o assassinato.

Suplicy acredita que a abordagem indicaria a sua finalidade política.

“Poderia ter sido tentativa de homicídio, como foi com o Toninho (ex-prefeito de Campinas, assassinado no ano passado)”, disse.

Celso Daniel, prefeito de Santo André pela terceira vez, vinha coordenando o programa de governo do PT à Presidência. Professor universitário da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo, desde 1982, coordenou o curso de economia dessa universidade no período de 1987 a 1989, dando aulas também no mestrado e no curso de administração pública da FGV.

Pelo menos 15 prefeitos petistas no Estado de São Paulo (inclusive Marta Suplicy) e senadores da legenda foram ameaçados de morte por carta em novembro do ano passado por um grupo que se denominava “Farb” (Frente de Ação Revolucionária Brasileira). Na carta, enviada inclusive a Celso Daniel, o grupo reivindicava a autoria do assassinato de Antônio da Costa Santos (o Toninho do PT, ex-prefeito de Campinas).

Na correspondência, a “Farb” dizia ter sido criada em 1998, na Grande São Paulo, para acabar com “políticos ligados à esquerda que estão se aproximando de partidos de centro-direita”. A suposta milícia, em uma carta confusa e cheia de erros de português, disse ter nascido com sete pessoas e que contava, em novembro do ano passado, com cerca de 50 militantes ativo, dispostos a “lutar por um Estado justo e sem desigualdades”.

A carta chegou aos prefeitos em 13 de novembro, depois da tentativa de seqüestro de Airton Luiz Montanher, prefeito de Ribeirão Corrente (428 km ao Norte de São Paulo). Na ocasião, um grupo fortemente armado invadiu a fazenda em que Montanher estava e não conseguiu capturá-lo. A polícia interveio a tempo e evitou a captura.

O seqüestro do prefeito de Santo André, Celso Daniel mostra que, diante de uma polícia inepta e de um governo que não consegue dar uma resposta política ao crime organizado, os bandidos estão deixando claro que podem seqüestrar, no limite, qualquer pessoa. Só estão a salvo, eventualmente, meia-dúzia de privilegiados que apenas saem às ruas protegidos por uma verdadeira brigada armada.

Na coluna distribuída pela revista República/Primeira Leitura, o jornalista Marcelo Mendonça aponta a semelhança da escalada do crime vigente no Brasil com o que ocorre há muitos anos na Colômbia. Não por acaso. Nos dois casos se percebe a tentativa de dar cores políticas para práticas nada ideológicas.

Lá, o grupo guerrilheiro mais poderoso, atualmente, autodenomina-se Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). O grupo é acusado de extorsão, mediante sequestro, e envolvimento com o narcotráfico.

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