Mistério em aberto

Serviço secreto teria tentado resolver caso Patrícia Abravanel

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10 de janeiro de 2002, 12h43

A Rede Band de Televisão parece estar um passo à frente quando o assunto é o caso de Fernando Dutra Pinto, seqüestrador morto de Patrícia Abravanel, filha do empresário brasileiro Silvio Santos, proprietário de um grupo de empresas que inclui a segunda maior rede de emissoras de TV do Brasil, o SBT.

O seqüestrador pode, segundo informações divulgadas pela emissora, ter dito a verdade ao afirmar que não matou nenhum policial no flat L’Etoile Residence em Alphaville, São Paulo.

Informações divulgadas pelos programas Brasil Urgente e Jornal da Band, da Rede Band de Televisão acusam ex-integrantes do Serviço Secreto Israelense, o Mossad, de terem participado da tentativa de resolução do seqüestro com uma investigação paralela, e de terem causado o tiroteio, talvez por acidente. A reportagem descobriu um boato que corre na comunidade judaica de São Paulo (Silvio Santos é judeu) como base da investigação.

O Mossad é conhecido como um dos melhores e mais letais serviços secretos do mundo e, embora seus agentes estejam proibidos de agir sem controle do Estado, há centenas de ex-agentes que operam livremente, quando necessário. Israel não tem controle sobre ex-agentes. O serviço secreto é tão rígido que somente uma vez anunciou que precisava de especialistas, ano passado. O Relatório Alfa reproduziu o anúncio

A investigação da Rede Band sugere que Silvio Santos pode ter contratado uma equipe de resgate independente composta por ex-agentes do serviço secreto israelense para salvar sua filha. O encontro entre os agentes do serviço secreto para tratar das buscas de Patrícia Abravanel teria sido feito na sede do Banco Pan-americano, de propriedade do empresário, em São Paulo. Silvio Santos está fora do Brasil e não comentou as informações do departamento de jornalismo da TV Band.

A equipe de cinco ex-integrantes do Mossad teria se hospedado no andar de Fernando Dutra Pinto e teria provocado a troca de tiros, já que nem eles nem os policiais civis sabiam da existência uns dos outros. Cada grupo teria suposto que o grupo oposto, armado, faria parte da quadrilha de seqüestradores, dando início ao tiroteio.

O estranho é que isso mostraria um singular amadorismo da parte dos agentes (ou ex-agentes) do Mossad. O amadorismo da operação dos policiais civis nem precisa ser discutido, tantos foram seus erros.

As informações foram obtidas pelo repórter Sandro Barbosa e divulgadas com exclusividade na quarta-feira (9/1). Se verdadeira, a versão explicaria o sangue de uma quinta pessoa, não identificada, encontrado no local do tiroteio. Também mostraria que Fernando Dutra Pinto pode não ter sido o autor dos disparos que mataram os policiais.

O único sobrevivente foi o policial Reginaldo Narder, que sustenta a versão de que Fernando Dutra Pinto teria matado os dois colegas, ferido Narder e fugido. O que Narder ainda não explicou foi a seqüência de erros na tentativa de captura do seqüestrador, erros que acabaram por levantar suspeitas, por parte da imprensa, de que a tentativa de captura tivesse sido, na verdade, uma tentativa de roubo do resgate — algo negado veementemente por todos os envolvidos.

A nova versão, divulgada pelo Brasil Urgente e pelo Jornal da Band pode, se confirmada, inocentar os policiais imediatamente e transferir o problema para o empresário Silvio Santos, já que a ação de investigação paralela seria proibida — embora compreensível.Também explicaria o envolvimento direto do governador do estado de S. Paulo, Geraldo Alkimin, durante as negociações com Fernando Dutra Pinto na casa de Silvio Santos, durante o cerco policial para libertação do empresário.

Existe lógica nessa hipótese, mas ela ainda é somente isso: uma hipótese.

Segundo o ex-oficial do exército israelense Avner Shemesh “nem Rambo conseguiria escapar de três policiais armados, sendo pego de surpresa e desarmado”, como aconteceu com Fernando Dutra Pinto quando fugiu do flat em Alphaville. Shemesh afirmou que Fernando Dutra Pinto parecia estar dizendo a verdade no vídeo divulgado, também com exclusividade, pela Rede Band.

Uma outra informação, aparentemente uma coincidência, foi a descoberta pela repórter Fátima Souza, do Jornal da Band (novamente a Band), de que o empresário Guilherme Stoliar (que também foi um dos negociadores de Silvio Santos junto à Fernando Dutra) é proprietário de um apartamento no mesmo flat no qual Fernando foi emboscado pela polícia. Ele não mora no edifício, mas tem um apartamento lá. O empresário não comentou a coincidência. A emissora divulgou o fato mas evitou teorizar sobre ele.

O caso Fernando Dutra Pinto é complexo porque alguma coisa está sendo escondida.

Por não conseguirem montar o quebra-cabeça, jornais e programas noticiosos continuam a investigar para descobrir o que não está sendo dito. Mesmo a cúpula da Polícia Civil de São Paulo parece não saber de tudo.

A morte de Fernando Dutra ainda está sendo investigada. Se o envolvimento de ex-agentes do Mossad for confirmado, a investigação certamente sairá da esfera da polícia de São Paulo. Este é um caso que supera, de longe, muitas histórias de ficção.

Fonte: Relatório Alfa

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