Dengue espalhada

Professora universitária defende combate efetivo à dengue

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27 de fevereiro de 2002, 16h39

O quadro dantesco é este: minha vã filosofia morreu de dengue hemorrágica e os burocratas não sabem como registrar o óbito. Também não sabem à quem arrogar a causa mortis. Dizer que é falta de vontade política, é vicioso demais! Dizer que foi previsto e que a verba, apesar de requerida, jamais chegou a tempo, é irrisório demais! Por que demitir e manter demitidos os mata-mosquitos já treinados e destros na caçada ao aedes aegypti ? Mistério.

Devemos caçar também os políticos corruptos, os governantes indignos. E decretar o extermínio aos praticantes contumazes da politicagem vil e barata.

Mas estamos as voltas com uma epidemia e os especialistas se apressam em alegar que o mosquito já está resistente aos inseticidas e aos larvicidas. Então como matá-los?

E, envolta da epidemia bailam a violência, a miséria e a ignorância. Vivemos sem saber num ciclo suicida. A saúde pública é obrigação dos municípios, dos Estados e da União, é direito de todos (art.196CF/88) e, é responsabilidade do sistema único de saúde, ex vi a CF/88 em seu art. 200 II, in verbis:

Ao SUS compete, além de outras atribuições, nos temos da lei:

(…)

II – executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador. Estatísticas informam que 10% da força laboral do Rio de Janeiro está comprometida com a epidemia da dengue.

É impressionante a incúria no que tange aos registros e controles sobre a incidência de doenças (em particular a da dengue), declaradamente, apesar de serem muito assustadores os números ainda nos revelam minimamente a realidade.

Estamos morrendo de dengue, de tuberculose, de inanição, de Aids e até de hipertensão, mas sobretudo por descuido e indiferença.

O mosquito aedes aegypti não escolhe raça, classe social e nem lugar, ataca impiedosamente a favela e a mansão. Pelos menos nisto, temos afinal um mosquito democrático.

Precisamos urgentemente higienizar os ambientes, retirar os recipientes abertos que possam servir de berçário para as larvas, tampar as caixas d’águas e ingerir B12 para espantá-los com nosso vitaminado suor.

Conseguiremos? Limpar tudo e, ainda conseguir sobreviver incólume nesta selva de pedra? Precisaremos escapar do pungista, do pivete, da polícia despreparada, do governo distraído e exercer nossa cidadania prontamente.

Para isto, careço imprescindivelmente de ter saúde para que através da educação possamos alcançar uma cidadania consciente e saudável. E só assim nos redimir.

É, pois indispensável que pelo menos o direito à vida seja mesmo garantido (e não parecer uma figura de retórica) que a dignidade humana seja mesmo um valor acima de quaisquer interesses, seja uma prioridade tanto para a política como para a história do Brasil. Estamos fartos de em bromélias …

Recebi um e-mail simpático e fiquei feliz em saber que há quem curse pós-graduação em História. Minha felicidade foi maior ao descobrir que todo este meu descontentamento não é solitário , ao revés, é solidário.

E, partilhando as mágoas, nos descobrimos brasileiros, irmãos, cúmplices e, fundamentalmente guerreiros. Um mosquito não poderá desmoralizar uma nação inteira. Basta conscientização aliada a uma prática (quer seja governamental ou comunitária) de combate efetivo e competente.

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