Primeira Leitura: miragens econômicas enganaram países latinos.
24 de fevereiro de 2002, 14h28
Desastre regional
A América Latina, neste início de século, oferece muitos exemplos dramáticos de fracasso de projetos neoliberais e autoritários-populistas. Estão aí a Colômbia, agora em guerra aberta; a Venezuela, onde Hugo Chávez se vê desafiado por oficiais militares; o Peru de Fujimori e a Argentina, ex-queridinha dos mercados financeiros internacionais, hoje entregue à propria sorte.
Aposta perdedora
Uns acreditaram que, no mundo globalizado, é possível sobreviver com uma fórmula precária: exportação de uma commodity e falta de democracia. Foi essa a aposta venezuelana. O preço do petróleo caiu e puff! – lá se foram, ao mesmo tempo, as contas externas e as contas fiscais. E era a aparente pujança que, mais uma vez, servia de desculpa para a falta de democracia.
Passou
A pujança, que não passava de um desajuste de mercado, se foi. Agora, Hugo Chávez, enquanto enfrenta a pressão de outros candidatos a aventureiros de plantão, está a promover um ajuste classicamente recessivo com o apoio informal do FMI.
Servidão voluntária
Outros acreditaram que, no mundo globalizado, é possível passar a integrar a lista dos países incluídos fazendo tudo o que fosse pedido pelos EUA e pelo FMI. Essa foi a fórmula argentina. A fórmula da abertura que “rifa” a soberania. A fórmula que faz com que o mercado decida o destino de um país. E ele decidiu.
Fantasia mortal
A fórmula adotada pela Argentina é a do peso que vale um dólar. Como não vale, obriga o Estado a ter uma única vontade política: a de perseguir como meta fazer o salário em dólar cair continuamente.
O nome das coisas
Michal Gartenkraut, o guru econômico da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), afirmou que o modelo argentino era tecnicamente perfeito, embora tivesse algum custo social. Bem, esse algum custo, em bom português, atende pelo nome de miséria. E também pelo de exclusão.
Pior
Essa fábrica de exclusão – e isso se faz também com a destruição da rede social de proteção e com a construção do chamado “Estado mínimo” – cria um fosso entre a institucionalidade democrática e a população. Assim, a democracia vai se esgarçando com o tecido social.
Pressuposto
As duas experiências fracassaram. E fracassaram, entre outros motivos, porque governos não entenderam corretamente as implicações dos novos desafios impostos pela globalização. Não entenderam, para começar, que não há solução sem democracia.
A diferença
O Brasil, aos trancos e barrancos, soube entender. E foi porque tinha e tem uma economia real forte que o modelo de câmbio foi alterado – e, ainda bem, em 1999. Essa correção de rumo também só foi possível porque há democracia, porque houve pressão, porque havia e há canais de representação e interlocução, porque, enfim, aqui o projeto neoliberal encontrou resistência.
Âncora democrática
Hoje, o Brasil se distinguiu dos demais. E, por conta disso, pode iniciar um processo para exercer a sua vocação de liderança regional. Pode e deve fazer da democracia uma âncora de estabilidade para a América do Sul. Pode e deve tornar a integração competitiva – o que é muito diferente da postura neoliberal – um novo mote para a região.
Assim falou. Milton Temer
“Um cruzamento de cavalo com vaca: não dá leite nem puxa carroça.”
Do deputado federal da esquerda petista, condenando a aliança eleitoral que está sendo costurada entre o partido de Lula e o PL.
Tudo é história
A troca de farpas entre os EUA e a Coréia do Norte – incluída por Bush no chamado “eixo do mal”, ao lado do Irã e do Iraque – acontece na esteira de uma estratégia delineada há quase um ano pelo recém-empossado governo Bush, que decidiu levar adiante o projeto do escudo antimísseis. O discurso da Guerra Fria já não valia mais, e foi substituído pelo conceito dos “Estados delinqüentes” – uma categoria encabeçada por. Coréia do Norte, Irã e Iraque! Segundo o Pentágono, países que, até 2015, poderiam dispor de até dez mísseis balísticos cada.
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