Empate na cabeça

Datafolha confirma empate técnico de Roseana e Lula

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24 de fevereiro de 2002, 2h08

A Folha de S.Paulo deste domingo (24/2) publica os resultados da pesquisa Datafolha, que confirmam a notícia divulgada na sexta-feira pela ConJur: a pré-candidata do PFL, Roseana Sarney empatou com o petista Luiz Inácio Lula da Silva na liderança da corrida presidencial.

Clique aqui para ler a íntegra dos resultados apurados pelo Datafolha

Veja o texto publicado neste domingo pela Folha

Roseana e Lula empatam em 1º na disputa presidencial

Por PLÍNIO FRAGA

Pela primeira vez desde setembro de 2001, o pré-candidato do PT à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva perdeu quatro pontos percentuais e deixou de ser líder isolado na disputa sucessória.

Pesquisa Datafolha revela que a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), manteve sua linha de ascensão pela quinta vez consecutiva, passando de 21% para 23% das intenções de voto. Lula tinha 30% no levantamento anterior e agora está com 26%.

Como a margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, o petista pode ter entre 24% e 28% dos votos, e Roseana, entre 21% e 25% – o que configura um empate técnico.

A razão da queda de Lula pode ser encontrada entre os eleitores mais bem remunerados, homens e votantes da região Sudeste. A ascensão de Roseana ocorre principalmente entre os mais pobres, as mulheres e os nordestinos.

A diferença entre Lula e Roseana, que foi de 18 pontos percentuais em setembro e estava em 11 pontos em janeiro, foi reduzida a apenas três.

Roseana mais uma vez usou a televisão: o PFL teve direito a um programa de 20 minutos em 31 de janeiro e a 80 inserções publicitárias de 30 segundos naquele mês e em fevereiro.

O PT levará seu programa ao ar em 9 de maio e terá 40 inserções de um minuto, como prefere o publicitário Duda Mendonça.

Garotinho e Serra

O governador do Rio, Anthony Garotinho (PSB), também manteve linha ascendente, chegando a 13% das intenções de voto, a quarta variação positiva em cinco pesquisas. Ele se destaca na região Nordeste, onde subiu cinco pontos, e entre os eleitores com até o segundo grau, crescimento de outros cinco pontos.

O pré-candidato do PSDB, José Serra, subiu três pontos, passando de 7% para 10% – na sua primeira movimentação acima da margem de erro desde setembro.

Como pode estar no intervalo entre 8% e 12%, e Garotinho, entre 11% e 15%, o ex-ministro da Saúde voltou a estar em situação de empate técnico com o governador do Rio, como ocorria em novembro do ano passado.

Serra aparece como o principal beneficiado nos dois únicos segmentos em que Roseana perde pontos. Entre os votantes que recebem de R$ 1.801 a R$ 3.600, Roseana caiu dez pontos, e Serra ganhou nove. Na região Sul, a pefelista teve três pontos a menos, e o tucano, seis a mais – melhorando ainda seis pontos no Norte/ Centro-Oeste e três no Sudeste.

O ex-ministro da Saúde sobe quatro pontos entre os eleitores com mais de 60 anos, faixa em que estão os beneficiários de uma das mais propagandeadas ações de Serra, os chamados genéricos, remédios alternativos às marcas líderes com preços menores.

Neste mês, Serra apareceu pela primeira vez como candidato a presidente nas inserções do PSDB na televisão. Em 6 de março, será a estrela do programa de 20 minutos do partido.

O pré-candidato do PPS, Ciro Gomes, segue uma linha descendente pela terceira vez em cinco pesquisas, passando de 10% em janeiro para 8% agora. Em setembro de 2001, tinha 14%. O governador de Minas Gerais, Itamar Franco (PMDB), manteve os mesmos 6% de janeiro.

A queda de Lula foi mais acentuada entre os eleitores com renda acima de R$ 3.600 (faixa na qual perdeu oito pontos), do sexo masculino (menos seis pontos), nas faixas etárias entre 16 e 24 anos e 45 e 59 anos (perda de cinco pontos em cada uma) e entre os votantes que completaram até o primeiro grau e os que concluíram até o segundo grau (redução de quatro pontos em cada uma).

No Sul do país, Lula perdeu seis pontos, e no Sudeste e no Nordeste, três pontos em cada região. Em nenhum dos estratos pesquisados, o petista apresenta crescimento além da margem de erro. Em 13 deles, perde pontos; e em quatro, mantém-se estável ou apenas oscila, ou seja, varia para mais ou para menos dentro da margem da pesquisa.

Roseana é beneficiada por sua performance no Nordeste, onde subiu seis pontos, e pelos votos que recebe entre as mulheres (novo crescimento, desta vez de quatro pontos), os jovens (mais quatro pontos) e aqueles com renda de até R$ 1.800 (quatro pontos). A governadora ainda cresce na faixa dos que têm até o primeiro grau (três pontos) e aqueles com idade de 45 a 59 anos (três pontos).

A pesquisa Datafolha ouviu 3.857 eleitores na quarta e quinta-feira passadas. Ou seja, não refletiu totalmente um eventual impacto da saída de Serra do Ministério da Saúde – ocorrida na quinta – e sua confirmação como pré-candidato tucano.

Serra teve forte crescimento em dois segmentos específicos: subiu 12 pontos entre os que recebem mais de R$ 3.600 e nove pontos entre os que ganham de R$ 1.801 a R$ 3.600. A análise dos números mostra que o tucano avança nas classes com mais escolaridade (cinco pontos a mais entre os que têm até o segundo grau e outros cinco entre os de nível superior).

O comportamento do tucano é pior nas camadas de menor renda e escolaridade. Entre os de vencimentos até R$ 1.800, o ex-ministro ganhou três pontos e entre os que têm até o primeiro grau, ele oscilou positivamente dois.

No Estado de São Paulo isoladamente, Lula caiu de 28% para 24%, Roseana oscilou de 23% para 21% e Serra cresceu de 12% para 18%. Garotinho (13%) e Ciro (10%) oscilam positivamente. Na cidade de São Paulo, triplo empate técnico. Serra saltou de 13% para 23%; Roseana caiu de 23% para 20%; e Lula, de 22% para 19%.

Acontecimentos

A pesquisa anterior do Datafolha foi realizada em 3 e 4 de janeiro. Refletiria de forma contida um eventual efeito da crise política e econômica na Argentina (desvalorização do câmbio e três presidentes assumindo o poder no final de dezembro e começo de janeiro) na sucessão brasileira.

A crise lá foi usada por adversários de Lula, principalmente Roseana Sarney, que incluiu o tema em suas inserções na televisão.

Nesse período também, Lula ampliou as articulações para acertar o apoio do PL à sua candidatura, o que incluiu uma série de visitas a fábricas do senador José Alencar, cotado para ser seu candidato a vice-presidente. Essa aproximação foi criticada por petistas de diversos Estados.

Esses são alguns dos acontecimentos que podem – e essa é só uma hipótese – influenciado o primeiro recuo eleitoral de Lula desde setembro. No período do Carnaval, o petista apareceu nas inserções publicitárias do partido em dois Estados e ainda teve uma exposição de mídia elevada devido à realização do 2º Fórum Social Mundial, o que parece não ter surtido efeito em sua candidatura.

Os candidatos da situação – Roseana e Serra – poderiam ter sido atingidos com o maior apagão desde 1999, ocorrido em 21 de janeiro. Mas, no mesmo período, o governo anunciou para 1º de março o fim do racionamento de energia, há nove meses um estorvo para os brasileiros.

Sem Itamar

O governador Itamar Franco definha política e eleitoralmente. Está cada dia mais difícil os antigovernistas vencerem as prévias do PMDB, caso ocorram, e assegurar que o partido tenha candidato próprio a presidente. E as intenções de voto no governador estão cinco pontos menores do que em setembro de 2001.

Sem ele na disputa, o maior beneficiado é Serra, que assedia o PMDB para que indique seu candidato a vice. Nesse cenário, o tucano passa de 8% para 12%. Lula (que vai de 30% para 27%) e Roseana (de 22% para 24%) mantêm-se em empate técnico no primeiro lugar.

São seguidos por Garotinho com 14% (tinha 12% antes), num empate técnico com Serra. Ciro fica com 10%, uma oscilação negativa de um ponto, mas outra vez em linha descendente.

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