Lixo cibernético

Spam prejudica empresa e já corresponde a 20% do tráfego na Net

Autor

  • Omar Kaminski

    é advogado e consultor gestor do Observatório do Marco Civil da Internet membro especialista da Câmara de Segurança e Direitos do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) e diretor de Internet da Comissão de Assuntos Culturais e Propriedade Intelectual da OAB-PR.

22 de fevereiro de 2002, 14h37

As propagandas não solicitadas (spam) que chegam todos os dias às caixas postais podem ser consideradas apenas importunas? Pergunte aos usuários do serviço WorldNet, pertencente à gigante das telecomunicações AT&T.

Um ataque de spam chegou a interromper a entrega dos e-mails para milhares de usuários norte-americanos do serviço WorldNet no começo desta semana. Na ocasião, a empresa tentou combater um verdadeiro dilúvio de mensagens de marketing endereçadas a seus consumidores, conforme relatou a MSNBC.

“É um sinal dos tempos”, afirmou a Brightmail Inc., empresa especializada na filtragem de e-mails. De acordo com a empresa, o volume de lixo decolou nos últimos 12 meses e agora representa 20% de todos os e-mails que trafegam na Internet.

O serviço de e-mail da AT&T foi interrompido na segunda e na terça-feira, segundo a porta-voz da empresa, Janet Wyles. Alguns usuários reclamaram que os e-mails estavam levando mais do que um dia inteiro para chegar ao destino, mas Wyles assegurou que nenhum e-mail foi perdido e que o serviço já foi normalizado.

A AT&T utiliza os serviços da Brightmail para emboscar os spams por meio de filtros especiais, que impedem que o lixo chegue aos e-mails de usuários do serviço WorldNet.

Conforme declarou o porta-voz da Brightmail, Francois Lavaste, um ‘marketeiro’ não identificado sobrecarregou com mensagens o sistema de filtros, reduzindo a velocidade de entrega de todas as mensagens.

“Esse ato foi um efeito colateral de um combate apenas remediado à prática do spam“, disse. “Provou que o spam pode ser utilizado também em ataques, como o denial of service (DoS)”, completou.

O incidente é apenas o mais recente capítulo no jogo de gato-e-rato entre os provedores de Internet e os ‘marketeiros’ virtuais.

Mas o ocorrido nesta semana parece ter ocasionado um aumento nas apostas. Lavaste disse que não consegue lembrar de outro caso onde um grande provedor teve seus serviços interrompidos por um dia ou mais, graças ao spam.

“Os ataques por spam estão em elevação, com um aumento de cerca de 46% desde novembro. A Brightmail estima que, um ano atrás, mensagens não-solicitadas somavam cerca de 10% entre todos os e-mails. Este cálculo, atualmente, está em 20%. E temos exemplos de empresas ou provedores, onde mais de 60% do tráfego de mensagens é composto por spams“, declarou.

Mas a Brightmail não é a voz solitária que sugere um aumento no fluxo do spam.

Bill Campbell, que gerencia o provedor Internet Celestial Software, percebeu um aumento dramático de mensagens não solicitadas, principalmente as enviadas ou transmitidas por meio de computadores localizados na Ásia.

Jim Gregory, gerente de serviços e de segurança da Slingshot Communications Inc., afirmou que o tempo que gastam caçando os spammers, indivíduos que degradam o acesso à Internet, poderia ser melhor utilizado na ampliação da qualidade dos serviços prestados aos consumidores.

Tom Geller, diretor executivo da Fundação SpamCon, acredita que os spammers estão ficando mais espertos. Por exemplo, em uma nova forma de ataque, mensagens não solicitadas que eram, inicialmente, desconsideradas ou descartadas pelos provedores tem sido programadas para ‘mutar’ (morph) e tentar de novo. As mensagens repetidamente mudam o endereço de e-mail até conseguirem chegar a um nome válido.

“Elas ficam tentando milhares e milhões de vezes”, disse. “Não ficarei surpreso se continuarmos a ver mais dessas coisas”.

Enquanto Lavaste observa que a diminuição de velocidade na entrega dos e-mails resultantes da prática de spam não é tão comum para os grandes provedores, Geller acredita que as empresas e provedores menores estão lidando com esse problema há anos.

“É provavelmente mais comum do que parece”, disse Geller. Em alguns casos, o spam direcionado aos usuários de determinado provedor sobrecarregam o servidor de e-mail. Em outros casos, os spammers falsificam o endereço do remetente. Assim, as mensagens rejeitadas são reenviadas ao consumidor que, inocentemente, buscava ser removido da lista. Um dilúvio de mensagens rejeitadas também pode danificar um servidor de e-mails.

“Todo provedor de serviços Internet está passando por esta situação”, finalizou Geller.

Autores

  • é advogado, diretor de Internet do Instituto Brasileiro de Política e Direito da Informática (IBDI) e membro suplente do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br).

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