Nova China

Partido Comunista reformula-se e busca modernização

Autor

13 de agosto de 2002, 12h07

Está em curso na China um vigoroso processo para o fortalecimento e modernização do estilo administrativo do Partido Comunista. O roteiro das mudanças está prescrito em uma Resolução, aprovada pelo Comitê Central, em setembro do ano passado. O objetivo é o de solucionar os problemas do país e garantir a manutenção do partido no poder por tempo indeterminado.

Esse poder, anteriormente, era exercido, na dinastia dos Qing, pelos eunucos do Palácio Imperial. Eram 70 mil dentro da então cidade proibida.

A burocracia chinesa está presente do mais simples escritório estatal à mais distante vila chinesa. Os “chefinhos” locais determinam tudo. A preocupação maior dos altos dirigentes é não só o milenar poder dos carimbos, mas as vantagens que a economia de mercado traz a esses carimbos em relação às propriedades, organizações, empregos, relações de interesse e formas de distribuição de renda.

Os dirigentes devem, segundo a resolução, “opor-se às interpretações ao pé da letra dos regulamentos, evitar o culto às normas, combater o dogmatismo e o burocratismo”. Os membros do PCCh devem “persistir no princípio de centralismo democrático e opor-se à tomada de decisões arbitrárias e atuação de maneira autoritária e débil; persistir na disciplina do Partido e opor-se ao liberalismo; persistir na honestidade e integridade e opor-se ao abuso do poder e busca de interesses pessoais; opor-se ao hedonismo; persistir na nomeação por mérito e capacidade e opor-se ao clientelismo”.

Menciona que muitos dirigentes não têm interesse em novas teorias, e usufruem uma vida de libertinagem. Eles não lêem livros e nem jornais. Ficam acomodados em seus conhecimentos, apenas “copiando atos anteriores ou de seus superiores sem considerar a realidade regional de seu departamento ou entidade”. Alguns dirigentes corruptos foram fuzilados, seguindo um dito milenar de “matar galinhas para afugentar macacos”.

O desenvolvimento econômico alcançado nos últimos 20 anos, com um crescimento anual médio de 7% ao ano, foi possível através da renovação teórica dos sistemas administrativos, aplicando conhecimentos científicos e tecnológicos. Consta que somente neste caminho o PCCh continuará a dirigir a China.

O aviso foi dado a todos os dirigentes e membros de todas as células do partido, presentes em todos os departamentos e empresas do país. Eles devem participar das concorrências nos setores econômico, científico e técnico em escala mundial. Para isso, devem alavancar em valores sócio-econômicos modernos e adaptados à vida dos chineses.

A corrupção incorporada ao estilo de vida de integrantes dos quadros dirigentes virou “lenha seca” na fogueira popular. As críticas chegaram a algumas alas do comitê central do partido. A resolução afirma que a corrupção começa pela busca de uma vida regada com vinho e prazeres, incluindo até os carnais. O feudalismo está vivo para certos dirigentes.

Chegam a milhões os prejudicados. A resolução aprovada quer os jovens em cargos importantes em que assimilem as experiências, pensamentos, e resultados científicos de outros países, adaptando-os às unidades de base com investimentos e orientações visando solucionar as questões existentes.

Quando visitarem as comunidades devem reduzir o número de acompanhantes. Somente desta forma, segundo o documento o PCCh, poderia moralizar sua administração.

O Partido Comunista da China toma o marxismo-leninismo, o pensamento de Mao Zedong e a teoria de Deng Xiaoping como pensamento orientador de sua ação e do Estado. Porém, sem considerar as condições e realidades históricas, a observação de algumas teses ou programas de ação formulados pelos autores em condições e momentos históricos distintos, provocou erros.

A nota cita que o marxismo tem condições teóricas de avançar na história. Partindo da realidade do país, Mao Zedong abriu um caminho tipicamente chinês conduzindo 500 milhões de habitantes em 1949. Em fins da década 70, diante do caos causado pelos 10 anos de contestação dos arquétipos sociais existentes e devido a isto uma gigantesca recessão econômica, Deng Xiaoping, cabeça da direção da segunda geração do Partido, fez um apelo pela unidade na busca da “verdade” através da prática abrindo novamente um caminho para o socialismo tipo chinês.

No 15º Congresso Nacional do Partido Comunista da China, realizado em 1997, Jiang Zemin, líder da terceira geração do Partido, afirmou que o marxismo-leninismo e o pensamento de Mao Zedong não devem ser abandonados. Também disse que deve ser mantida a reforma e abertura e a modernização do país como forma de equilíbrio da nação. O citado nesta resolução do maior partido político do mundo diz que “o povo pode conduzir e ao mesmo tempo afundar um barco”. A China está vivendo um momento delicado. Um sinólogo estrangeiro menciona a existência de quatro Chinas.

A China comunista, expressada pelos membros do partido, sua burocracia, os carimbos, rica e de constantes reuniões. A China capitalista, produtora, incansável, trabalhadora, rica e em expansão. A China feudalista, dos chefetes locais, da submissão cultural feminina, dos proprietários dos negócios agrícolas, com imensurável poder local.

A China individualista, interna, pessoal; ao ser obrigado desde o nascimento a conviver sempre com a casa cheia, só possui espaço em pensamento e seu mundo gira em torno. Vivem entrelaçadas, com limites e parâmetros estabelecidos. Quando existe um choque de interesses, ganhava até então o Partido. Hoje o mercado está repleto de novos ricos, e estes com seus pacotes de dinheiro abrem as portas aos interessados.

O governador de uma província de 40 milhões de habitantes tem poder. O talão de cheques ainda não chegou ao povão, é no dinheiro vivo e à vista. Os presentes são suportados. Dizem que algumas garrafas de vinho não fazem mal a ninguém, mas o valor de um carro pode corromper o espírito.

A disputa pela Presidência da China, bem como pelo cargo de primeiro-ministro, presidência da Assembléia Popular Nacional, secretaria-geral do comitê central do PC e à cadeira da presidência do comitê militar está sendo decidida nas areias de uma praia perto de Beijing. Os possíveis nomes são Hu Jintao, Wen Jiabao, Li Ruihuan e Jiang Zemin, para a tarefa de governar 1,278 bilhão de pessoas.

Autores

Tags:

Encontrou um erro? Avise nossa equipe!