Quinta-feira, 8 de agosto.

Primeira Leitura: reação inicial de bancos ao pacote do FMI foi boa.

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8 de agosto de 2002, 18h00

Boa notícia

A reação inicial ao pacote de socorro do FMI ao Brasil foi boa. Alguns bancos reagiram bem. O mercado esperava que o acordo chegasse no máximo a US$ 25 bilhões. Os US$ 30 bilhões são uma boa surpresa. E isso é só do Fundo. O Banco Mundial, o G-7 e outros organismos podem ainda entrar no rateio.

Detalhes

Do total acordado, US$ 6 bilhões poderão ser utilizados ainda durante o governo Fernando Henrique Cardoso. O resto fica para 2003, mediante a aprovação do novo presidente, claro. Um alívio: a princípio, não se exigiu nenhum sacrifício extra do país, como elevação dos juros ou aumento do superávit primário, que continua em 3,75% do PIB, embora com revisão trimestral.

Escolha

O pacote é também um trunfo para o candidato governista José Serra, que não terá dificuldades em se comprometer com a extensão do acordo. É o que já tem feito, aliás.

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Do alto de sua nova postura de candidato a estadista, Luiz Inácio Lula da Silva já vinha dando mostras de que podia aceitar o acordo. O que não o impedia de criticar o FMI, compará-lo a uma UTI, etc. Afinal, estamos em campanha eleitoral.

Assinou embaixo

Muito mais significativa foi a declaração do candidato a vice de Lula, José Alencar. Nem duas horas depois do anúncio do acordo, ele afirmou: “Os compromissos não são de Fernando Henrique, são do Brasil e terão que ser cumpridos quem quer que seja o presidente”.

Megafone

Com a palavra, Ciro Gomes, Mangabeira Unger e suas retóricas incendiárias.

Fechamento

Só a expectativa do acordo já fez bem ao mercado: o dólar recuou 3,05%, fechando em R$ 3,015. Os juros futuros caíram também 3% e o risco despencou 11%, para 1.890 pontos.

Magnânimo

Para quem estranhou o excesso de cordialidade Lula no debate de domingo da TV Bandeirantes. O petista disse que o confronto entre Serra e Ciro pode levá-lo à vitória já no primeiro turno. Por isso, ele assistirá, olímpico, ao embate entre o tucano e o ex-tucano.

Munição

Mas “se tiver de brigar, vou brigar”, avisa Lula, não descartando um confronto com Ciro. Como a hipótese do petista ter sua vaga no segundo turno ameaçada é remotíssima, Lula guarda suas fichas para essa etapa, quando o debate será direto e concentrado.

Queixo de vidro

E, como ficou mais do que evidente no debate de domingo, Ciro não reage bem quando está sob ataque. Se quiser vencer um debate contra Lula, o candidato do PPS precisará de mais do que financês e tecnocratês.

Assim falou…Jairo Nicolau

“Ele está inventando um sistema político que não existe.”

Do professor do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, comentando a proposta de eleições antecipadas defendida no programa de Ciro Gomes. Outros intelectuais também se mostraram preocupados com a idéia, para cujos perigos Primeira Leitura vem alertando há semanas.

Lições da história

O pacote de US$ 30 bilhões para o Brasil marca a mudança do governo George W. Bush em relação à ajuda econômica aos países emergentes. Bush começou seu governo sob o bordão do “deixa quebrar”, verbalizado das formas mais desastradas possíveis por seu secretário do Tesouro, Paul O’Neill.

As circunstâncias se encarregaram de suavizar a política radical do governo americano. Se a quebra da Argentina, no ano passado, sequer foi percebida nos EUA, a forte adernada do Brasil nas últimas semanas pôs em risco grandes bancos e multinacionais do mundo todo.

O risco é tão grande que foi parar em editoriais de alguns dos mais importantes jornais americanos, como The New York Times e The Washington Post. O Times defendeu até a ajuda à Argentina, embora os efeitos da crise portenha já estivessem “precificados” faz tempo pelo mercado. Afinal, a situação da economia americana se deteriorou fortemente.

Ao menos um dos radicalismos do atual governo americano parece ter sido, ao menos, amenizado. Ainda que ao preço de suportar as trapalhadas de O’Neill.

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