Domingo, 28 de abril.

Primeira Leitura: política toma conta da pauta econômica.

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28 de abril de 2002, 10h53

Ao sabor dos boatos

Faltando cinco meses para a eleição presidencial, a economia brasileira está inteiramente pautada pela política. Novos boatos de que o ex-governador Anthony Garotinho (PSB-RJ) teria tomado o segundo lugar do tucano José Serra (SP) em pesquisas de intenção de voto fez a taxa de risco do Brasil aumentar 2,64% ontem, para 8,15 pontos percentuais.

De volta

Impossibilitado de atribuir à política essa piora do cenário econômico, o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, reeditou a idéia de um suposto contágio do Brasil pela Argentina e reiterou não acreditar na tese do “descolamento” entre os países.

Cobrança

Sobre política, o presidente do BC disse que a população cobrará mudanças para que haja desenvolvimento, tema já presente nos discursos dos candidatos. Inesperadamente, teceu elogios a governos de esquerda mundo afora.

Renda menor

Antes da entrevista de Armínio, o IBGE divulgou aumento do desemprego para 7,1% em março e queda forte da renda dos trabalhadores em fevereiro – 6,3% em relação a fevereiro do ano passado. Foi a décima quarta redução nesse tipo de comparação anual.

Não é tudo isso

Enquanto isso, nos Estados Unidos, o crescimento da economia no primeiro trimestre, divulgado ontem – 5,8% -, superou as previsões da maioria dos analistas. Ainda assim, é uma recuperação morna: mais de três pontos percentuais do crescimento do PIB têm a ver com a recomposição dos estoques no país.

Funciona assim

As empresas esperavam uma retração econômica mais forte nos Estados Unidos e estocaram menos do que acabou sendo necessário. No cenário mais amplo, outros indicadores mostram a debilidade da recuperação: a confiança do consumidor americano caiu para o menor nível em dois meses – 93 pontos em abril.

Outros sinais

No fundo, o que não depende do presidente americano na economia está indo bem. A política da dupla Bush-Sharon no Oriente Médio continua pressionando os preços internacionais do petróleo, que passou de US$ 27 ontem.

Assim falou… Armínio Fraga

“Governos de esquerda têm capacidade de tomar decisões arrojadas em questões que eram tabu.”

Do presidente do Banco Central, ao comentar, ontem, os rumos da campanha presidencial, liderada pelo candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. Fraga afirmou que, na Nova Zelândia, um governo de esquerda assumiu e promoveu “uma verdadeira revolução no país”.

Estava escrito

Numa entrevista dada ao jornal The Guardian para marcar seus cinco anos no poder, o premiê britânico, Tony Blair, negou que seu governo seja um “poodle dos EUA” e afirmou que um ataque ao Iraque é necessário, mas “não é iminente”. Segundo o trabalhista, sua influência sobre o presidente George W. Bush serve para mostrar a “algumas forças dentro da América” que os EUA não podem agir de modo “inteiramente unilateralista”. Até agora, porém, o que se viu é a subserviência britânica aos planos dos falcões que têm a hegemonia no governo Bush. Em novembro, Primeira Leitura já afirmava que nenhum primeiro-ministro da Grã-Bretanha “se prestou tão claramente ao papel de mero embaixador dos Estados Unidos para o resto do mundo quanto o atual. (…) Desde os atentados contra o World Trade Center e o Pentágono, no dia 11 de setembro, Blair aliou-se incondicionalmente aos norte-americanos”.

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