Quarta-feira, 24 de abril.

Primeira Leitura: Serra deve romper convivência pacífica com Malan

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24 de abril de 2002, 9h10

Marcando a diferença

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, decidiu tornar explícitas suas diferenças em relação à política oficial do governo FHC. E vai fazê-lo publicamente, rompendo a convivência pacífica que vinha mantendo com a equipe econômica chefiada pelo ministro Pedro Malan (Fazenda), com quem tem divergências históricas.

Questão de timing

A nova estratégia foi lançada com a crítica pública do candidato à política de preços da Petrobras. Ele também ficou irritado com o anúncio do aumento de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) na véspera das votações no Congresso.

Sem intermediários

Serra também vai conduzir mais de perto a costura da aliança PSDB-PMDB e a escolha do candidato a vice em sua chapa. Os problemas regionais e a resistência do candidato tucano aos nomes até agora apresentados fizeram a cúpula peemedebista adiar para maio a definição do vice.

Vai subir

O presidente do Federal Reserve (banco central americano) de São Francisco, Robert Parry, disse ontem que ainda não se pode ter certeza sobre a força da retomada econômica dos Estados Unidos e que a autoridade monetária poderá elevar a taxa de juros mais cedo do que o esperado. Entre os motivos está a contínua alta dos preços do petróleo.

Política belicista

É significativo que um dos diretores do Fed saia alertando para uma eventual alta dos juros caso a conjuntura se mantenha. Objetivamente, a declaração exerce alguma influência sobre os atores políticos.

O sinal é claro: a ameaça de ataque ao Iraque aumentou a cotação internacional do petróleo, pressionando a inflação nos EUA.

Tensão social

O chefe do Exército argentino, general Ricardo Brizoni, não descartou ontem uma intervenção das Forças Armadas caso haja caos social no país, embora afirme que isso deva ocorrer “no marco da Constituição e da lei”.

O Congresso ficou todo o dia cercado por correntistas insatisfeitos e policiais, enviados para reforçar a segurança. Não há dinheiro na cidade, e algumas organizações de desempregados pedem comida em supermercados da periferia de Buenos Aires.

Assim falou…Eduardo Amadeo

“Agora é a vez de prejudicar os poupadores, os correntistas.”

Do porta-voz da Presidência argentina, comentando a conversão dos depósitos bancários em títulos públicos defendida pelo presidente Eduardo Duhalde para evitar o colapso do sistema financeiro. Segundo ele, o país precisa de “crédito para garantir a produção”.

Tudo é história

A Venenuela e a Argentina vivem problemas opostos e combinados. A Argentina tem um sistema político que funciona e uma economia há dez anos fadada ao fracasso. A Venezuela, ainda que se considere a exclusão social do país, é grande exportadora de petróleo e pode dar certo economicamente. Falta, porém, a âncora política.

O Brasil faz a síntese que permite o avanço. As instituições funcionam plenamente aqui, e o país vai fazer uma eleição na qual um candidato de esquerda tem condições de chegar ao poder. A economia tem problemas, mas tem lógica interna e inserção internacional. E não há país na América Latina onde um partido de esquerda governe grandes capitais, como São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre e Recife.

O que falta à Venezuela é uma âncora política, e o melhor que pode acontecer ao país é a consolidação de uma oposição que aposte nas regras democráticas, na institucionalização.

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