Visão pessimista
A decisão do Copom de manter o juro básico em 18,5% elevou o grau de pessimismo no país. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) resumiram na quinta-feira o sentimento dos empresários: a crença no crescimento da produção e do emprego está em declínio.
Má governança
O juro não poderia mesmo cair, dada a conjuntura, é verdade. O problema é a conjuntura, fruto de má governança: a Petrobras, por exemplo, é uma estatal monopolista que adquiriu poderes extraordinários sobre os preços dos combustíveis. A empresa poderia ser uma arma para enfrentar a conjuntura externa, mas o governo está usando essa arma contra o país.
Ansiedade
O petróleo subiu de novo na quinta-feira, fechando a US$ 26,20 em Nova York, com alta de 1%, e a US$ 25,69 em Londres, com elevação de 1,22%. Persiste no mercado o temor de que possa haver interrupção da oferta.
O fracasso da viagem ao Oriente Médio do secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, tem deixado os operadores nervosos quanto à possibilidade de agravamento no conflito israelo-palestino.
Era verdade
No dia 1º de abril, a manchete do Primeira Leitura já dizia que essa conjuntura ameaçava a recuperação da economia: “Uma elevação persistente pode comprometer a reação da economia norte-americana e, portanto, mundial.”
Herança malanista
A má governança também aparece na crise das telecomunicações, que colocou a área econômica em conflito com a Anatel. O setor e seus vultosos investimentos também seriam um breve contra a crise global, mas voltam-se igualmente contra o país: falta renda para o consumo nesse mercado. Outra mazela legada pelo malanismo.
Por falar em Malan…
Aliás, outro exemplo de má governança é a decisão do ministro da Fazenda de pagar antecipadamente uma parcela de US$ 4,2 bilhões ao Fundo Monetário Internacional. Ora, a crise do petróleo orquestrada por Bush não atingiu o Brasil? Por que tornar o cobertor mais curto? Há uma resposta: Malan não perderia essa oportunidade de polir seu currículo, tão elogiado em Wall Street.
Outro cenário
Com a manutenção da verticalização das alianças partidárias na eleição deste ano, ficam prejudicadas as hipóteses de o PFL apoiar o candidato do PPS, Ciro Gomes, e de o PT, de Luiz Inácio Lula da Silva, aliar-se ao PL.
Assim falou…Lula
“Não é numa tacada só que vamos baixar os juros de 18% para 12%.”
Do candidato do PT à Presidência, em debate com empresários do Distrito Federal. Segundo ele, a redução drástica das taxas de juros não poderá ser adotada porque o país está dependente da política de juros para captar recursos.
Tudo é história
Faz quatro anos que morreu Sérgio Motta, que comandou as duas vitórias do PSDB nas eleições presidenciais. Era o braço mais ativamente social-democrata do PSDB e foi um dos comandantes do processo de privatização das teles, esse mesmo hoje submetido às chicanas de algumas minoridades incrustadas no governo.
Hábil negociador político e homem dotado de raro pensamento estratégico, ele estava convencido de que as reformas necessárias só se fariam com o apoio da fatia mais conservadora do Congresso.
Enquanto esteve à frente desse processo, o PFL foi mantido perto o bastante para não criar problema e longe o bastante para não conspurcar a natureza das reformas. É precisamente essa capacidade de agir de maneira pendular que se perdeu com a sua morte. Desaparecido Sérgio Motta, o pêndulo do governo FHC ficou estacionado na direita.
Revista Consultor Jurídico, 19 de abril de 2002.