19/4/2002

Primeira Leitura: Copom mantém juro básico e eleva pessimismo no país

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19 de abril de 2002, 9h27

Visão pessimista

A decisão do Copom de manter o juro básico em 18,5% elevou o grau de pessimismo no país. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) resumiram na quinta-feira o sentimento dos empresários: a crença no crescimento da produção e do emprego está em declínio.

Má governança

O juro não poderia mesmo cair, dada a conjuntura, é verdade. O problema é a conjuntura, fruto de má governança: a Petrobras, por exemplo, é uma estatal monopolista que adquiriu poderes extraordinários sobre os preços dos combustíveis. A empresa poderia ser uma arma para enfrentar a conjuntura externa, mas o governo está usando essa arma contra o país.

Ansiedade

O petróleo subiu de novo na quinta-feira, fechando a US$ 26,20 em Nova York, com alta de 1%, e a US$ 25,69 em Londres, com elevação de 1,22%. Persiste no mercado o temor de que possa haver interrupção da oferta.

O fracasso da viagem ao Oriente Médio do secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, tem deixado os operadores nervosos quanto à possibilidade de agravamento no conflito israelo-palestino.

Era verdade

No dia 1º de abril, a manchete do Primeira Leitura já dizia que essa conjuntura ameaçava a recuperação da economia: “Uma elevação persistente pode comprometer a reação da economia norte-americana e, portanto, mundial.”

Herança malanista

A má governança também aparece na crise das telecomunicações, que colocou a área econômica em conflito com a Anatel. O setor e seus vultosos investimentos também seriam um breve contra a crise global, mas voltam-se igualmente contra o país: falta renda para o consumo nesse mercado. Outra mazela legada pelo malanismo.

Por falar em Malan…

Aliás, outro exemplo de má governança é a decisão do ministro da Fazenda de pagar antecipadamente uma parcela de US$ 4,2 bilhões ao Fundo Monetário Internacional. Ora, a crise do petróleo orquestrada por Bush não atingiu o Brasil? Por que tornar o cobertor mais curto? Há uma resposta: Malan não perderia essa oportunidade de polir seu currículo, tão elogiado em Wall Street.

Outro cenário

Com a manutenção da verticalização das alianças partidárias na eleição deste ano, ficam prejudicadas as hipóteses de o PFL apoiar o candidato do PPS, Ciro Gomes, e de o PT, de Luiz Inácio Lula da Silva, aliar-se ao PL.

Assim falou…Lula

“Não é numa tacada só que vamos baixar os juros de 18% para 12%.”

Do candidato do PT à Presidência, em debate com empresários do Distrito Federal. Segundo ele, a redução drástica das taxas de juros não poderá ser adotada porque o país está dependente da política de juros para captar recursos.

Tudo é história

Faz quatro anos que morreu Sérgio Motta, que comandou as duas vitórias do PSDB nas eleições presidenciais. Era o braço mais ativamente social-democrata do PSDB e foi um dos comandantes do processo de privatização das teles, esse mesmo hoje submetido às chicanas de algumas minoridades incrustadas no governo.

Hábil negociador político e homem dotado de raro pensamento estratégico, ele estava convencido de que as reformas necessárias só se fariam com o apoio da fatia mais conservadora do Congresso.

Enquanto esteve à frente desse processo, o PFL foi mantido perto o bastante para não criar problema e longe o bastante para não conspurcar a natureza das reformas. É precisamente essa capacidade de agir de maneira pendular que se perdeu com a sua morte. Desaparecido Sérgio Motta, o pêndulo do governo FHC ficou estacionado na direita.

Revista Consultor Jurídico, 19 de abril de 2002.

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