6.4.2002

Primeira Leitura: Sharon em Gaza, o PFL no Maranhão e a polícia em SP.

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6 de abril de 2002, 11h06

Guerra de mídia

Engana-se quem pensa que é um episódio menor o ataque sofrido ontem por um comboio de 25 jornalistas, alvo de bombas de efeito moral lançadas por soldados israelenses. Dentro da insanidade que reina no Oriente Médio, é mais um esforço do governo Sharon para garantir que apenas a versão oficial de Israel sobre o que acontece nos territórios palestinos chegue ao resto do mundo.

Sem olhos em Gaza

A tática encontra paralelo na insistente recusa, por parte de Sharon, de permitir observadores internacionais para monitorar a situação nos territórios palestinos ocupados, durante a intifada. A falta de uma supervisão independente ajudou a enterrar a principal tentativa de cessar-fogo nesse período, articulada pelo diretor da CIA, George Tenet, em junho de 2001.

Sob fogo cruzado

Segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras, pelo menos 11 jornalistas ficaram sob tiroteio – e três foram atingidos – desde que o Exército israelense declarou Ramallah, na Cisjordânia, uma “zona militar fechada” e proibiu a entrada da mídia.

Velhos hábitos

Quase um século depois, continua valendo a frase atribuída ao senador americano Hiram Johnson, que teria dito, em 1917: “A primeira vítima, quando chega a guerra, é a verdade”. Embora ele estivesse se referindo principalmente à distorção gerada pelos diversos interesses envolvidos na cobertura de um conflito, a repressão pura e simples contra a imprensa não produz coisa melhor.

Auto-engano

Por falar em paralelos, a ofensiva do Exército israelense nos territórios palestinos torna mais evidente o existente entre o premiê Ariel Sharon e o presidente dos EUA, George W. Bush. Os dois líderes vendem aos respectivos povos a ilusão de que o terrorismo é um mal que pode ser extirpado pela via militar.

Estado a Estado

Em reunião com FHC no Palácio da Alvorada, na noite de quinta-feira, os comandos do PSDB e do PMDB decidiram que vão fechar a escolha do vice do tucano José Serra depois de avaliar, Estado por Estado, onde podem ser aliados e onde terão de costurar um pacto que impeça agressões.

De novo

Na definição dos critérios da aliança PSDB-PMDB, os dois partidos vão acertar desde já com quem ficará o comando do Congresso se o candidato tucano chegar ao Planalto. Para quem não lembra: essa aliança preferencial começou a ser costurada por Serra na eleição de 2001 que deu aos tucanos o comando da Câmara e aos peemedebistas o do Senado, isolando o PFL.

De saída

Roseana Sarney entregou o governo do Maranhão ao seu vice, José Reinaldo (PFL), sem explicar a origem das 26.800 notas de R$ 50,00 encontradas pela PF, no dia 1º de março, no escritório de sua empresa. O comando do PFL disse que a ex-governadora vai enviar ao STJ a lista dos supostos doadores do R$ 1,34 milhão.

Fato e versão

A versão de que o dinheiro é verba de campanha – o que lembra a montagem da “Operação Uruguai”, durante o Collorgate, quando o Planalto tentou, a posteriori, justificar a existência de recursos sem origem definida – tem sido “comprada” de modo simplório por parte da imprensa.

Assim falou. Jaime Pinsky

“Numa guerra, quem mais sofre, depois dos povos envolvidos, é a história”.

Do historiador e professor da Unicamp, ontem, em artigo na Folha de S. Paulo. Segundo ele, no conflito do Oriente Médio, a história “é reescrita e manipulada ao sabor das conveniências”.

Tudo é história

Segundo relatório da ONG Comissão Teotônio Vilela, Fernando Dutra Pinto – seqüestrador da filha de Silvio Santos, que estava preso em São Paulo e morreu de infecção generalizada – foi vítima de tortura e negligência médica. Ele foi espancado dias antes de morrer, em 2 de janeiro. “A morte foi provocada por um trauma nas costas. Essa lesão foi a porta de entrada da bactéria que chegou aos pulmões”, disse o patologista Paulo Saldiva, autor do relatório da comissão, autorizada a acompanhar a perícia no corpo. Em agosto de 2001, Dutra Pinto se entregou depois que o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) lhe deu garantia de vida. Espera-se que, agora, o governador se empenhe pessoalmente, em nome do Estado de Direito, para apurar as responsabilidades. Se quem está sob a guarda do Estado corre esse tipo de risco, o que pode acontecer com quem não está?…

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