Consultor Jurídico

Atentados nos EUA podem gerar nova onda anti-semita

17 de setembro de 2001, 17h16

Por Félix Soibelman

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Dentre os desdobramentos dos terríveis ataques de 11 de setembro, nos Estados Unidos, já se pode notar, latente, um vagalhão de anti-semitismo. É lamentável que aos olhos do mundo, no recesso íntimo do preconceito, possa brilhar a idéia de que, no fundo, os judeus é que são os culpados por uma possível catástrofe mundial.

Primeiramente são os árabes que se enfurecem com o favorecimento de Israel pelos americanos, mas muito em breve será todo o mundo que irá se perguntar: “por que estamos lutando, em última análise? Pelos judeus?”

Nesse ambiente, é sempre difícil explicar que a semente do ódio não está em agrupamentos específicos, raciais ou não. Está nas pessoas, onde quer que elas estejam ou tenham nascido.

A Europa cristã é um embrião eterno do anti-semitismo e, se Israel existe, isto se deve ao genocídio perpetrado na Europa. O assassinato massivo dos judeus reforçou o apoio à criação de Israel no pós-guerra, mas ninguém se lembrará disso agora.

Os judeus, tudo indica, emergirão como epicentro da discórdia, uma vez mais. Agora com fundamentos de refutação complicada, pois ninguém poderá negar que a causa palestina é o foco do descontentamento islâmico.

Os mais incautos estarão tentados a este raciocínio fácil de inculpação do povo judeu, mas aqueles que analisam a questão com conhecimento de causa sabem que na raiz de tudo está o petróleo, alvo do interesse de todos os poderes econômicos do planeta.

Tal interesse fez de Israel um aliado do ocidente capitalista, enquanto o mundo comunista viu nos árabes as reservas de força opostas. A bipolaridade Rússia-EUA acabou, mas as bases de ódio entre árabes e judeus persistiram (um ódio que antes nunca tinha existido – na classe média brasileira, por exemplo, existe muito mais anti-semitismo que no mundo árabe), e “deu no que deu”.

Logo esquecer-se-á do exemplo da guerra do Golfo, quando os EUA intercederam de forma contumaz sem ter Israel nenhuma relação com a invasão do Kwait pelo Iraque; fosse um pequeno país da África invadindo outro com um rastro de destruição genocida, os EUA não estariam jamais acenando com a bandeira de Bush pai, ou seja, a “Nova Ordem Mundial”, assim como os horrores de Kosovo demoraram muito mais a serem contidos.

Como o fluxo de expressiva porcentagem do petróleo mundial poderia cair nas mãos do Iraque e seu sanguinário ditador, a “intervenção democrática” dos EUA se deu prontamente. O episódio da Guerra do Golfo ilustra muito bem que o verdadeiro núcleo de todo o conflito no Oriente Médio é, repetindo, o petróleo, sendo palestinos e israelenses peças menores no xadrez da instabilidade política da região.

A Arábia Saudita, bem como outros países árabes, possui imenso território; a maioria dos países árabes já poderia ter cedido terras para palestinos, mas em verdade nem os próprios governos árabes querem a verdadeira solução do problema. Tampouco é verdade que na ocasião da criação do Estado judeu tenham os palestinos sido expulsos, como aventam os mais pressurosos em denunciar a culpa de Israel, mas, infelizmente, tudo gravita para incitar e manter perenemente o estado de discórdia no Oriente Médio.

Os fabricantes de armas dos países ocidentais e Rússia se rejubilam com as perspectivas de de um conflito prolongado, desde que não assuma proporções capazes de afetá-los diretamente.

Neste cenário, resta ainda o temeroso despertar de um gigante: a China. Se a China acordar de seu distanciamento apoiando os árabes aí sim poderemos ter um conflito incontrolável, e, uma vez mais, será a vontade das grandes potências se movendo dentro do conflito árabe-israelense.

Enfim, é uma guerra entre potências econômicas manipulando dois povos irmãos, dois povos que chegaram a lutar juntos contra a ocupação inglesa, numa guerra que agora periga redundar numa catástrofe mundial.

Não será nenhuma surpresa ouvir algum ignorante dizendo, em anti-semitismo simplista: “essa porcaria de judeus, porque não acabam com eles e esse problema de uma vez, dando Israel de volta para os caras?”